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Luiz Felipe Lucas: “Tento conseguir personagens que possam criar um imaginário diferente”

Luiz Felipe Lucas | Foto @albebranca
Luiz Felipe Lucas | Foto @albebranca

O Paulo da série “Santo”, da Netflix, recebeu a BANTUMEN em pleno Parque Joan Miró, em Barcelona, cidade onde atualmente reside, para uma conversa sobre o seu trabalho como ator, racismo e os seus planos para o futuro. Com um ar sereno e talvez um pouco tímido, e o seu estilo irreverente, Luiz Felipe Lucas contou-nos um pouco sobre a trajetória que o levou a pisar palcos catalães, a expor o seu trabalho em Espanha, Itália e Áustria, e finalmente a chegar à maior rede de streaming do mundo. 

Nascido em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, no Brasil, Luiz Felipe Lucas atravessou o oceano para explorar o seu trabalho artístico na Europa. Sem expetativas mas “com vontade de literalmente tudo”, como expressou durante a entrevista, mudou-se para Barcelona porque a sua família já vivia na cidade. Acabou por ficar mais do que esperava, mas não perde o contacto com o seu país natal e tenta regressar sempre que pode. 

Como ator, começou ainda criança, nos teatros da escola. Mais tarde formou-se no Rio de Janeiro e começou a trabalhar em várias companhias de teatro profissionais. Ir para Espanha foi uma oportunidade para explorar o seu trabalho a solo e expandir a outros tipos de performance que já tinha em mente. Segundo ele, foram exatamente estas companhias de teatro que lhe “deram a diversidade de habilidades que precisava para chegar à Netflix”. 

Já em Espanha, fez diversos castings e o papel em “Santo” apareceu, também facilitado pelo facto de estar a viver no país e já falar a língua espanhola. A série, que conta a história de um traficante de drogas misterioso, é uma produção entre Espanha e o Brasil, onde o ator desempenha o papel de um agente da Polícia Federal.

Criada pelo espanhol Carlos Lopez, “Santo” conta também no elenco com o ator brasileiro Bruno Gagliasso, o ator espanhol Raúl Arévalo e a atriz portuguesa Victória Guerra, o qual Luiz Felipe Lucas integrou mais tarde. “Entrei na série depois do elenco principal, o que exigiu muito trabalho. Foi um mergulho no roteiro. Uma experiência completamente diferente das que tive no passado. Mas trabalhar com o Bruno e a Victória foi um prazer e uma excelente ajuda. Eles como grandes actores, me ajudaram muito e seguimos juntos o caminho para fazer desta uma grande produção”, afirma.

“Santo” foi um universo completamente diferente para o brasileiro. Uma grande produção e um alcance que nunca tinha experienciado.

Sobre a sua personagem, Luiz Felipe Lucas revela que Paulo foi ao encontro do tipo de trabalho com o qual se identifica e que tenta priorizar, principalmente por ser um homem negro. “Sempre busco personagens interessantes e fugir dos estereótipos, como personagens racionalizadas. Tento conseguir personagens que possam criar um imaginário diferente”, explicou o ator à BANTUMEN

Como homem negro, Luiz acredita que “Há uma nova perspetiva de trazer estórias verdadeiras. Estamos finalmente colocando negros em personagens comuns, sem estar dentro de um estereótipo. A construção e momento que estamos vivendo é muito bonito e é uma mudança que é o reflexo da sociedade atual. Temos muito conteúdo dedicado a falar sobre essa construção de futuro. É importante continuar a trabalhar essas personagens porque a informação está hoje disponível para todos e isso cria impacto”. 

Sobre o racismo na indústria, o ator prefere ser realista mas também positivo. Acredita que “o racismo existe e faz parte do quotidiano. Existem barreiras sim, mas existem também novas perspetivas. Uma ferramenta ótima para vencer as barreiras é atrelar-se a essas novas perspetivas. Existe uma comunidade forte produzindo conteúdo em todo o lado e que consegue destruir essas barreiras e viver no mainstream, não só em nichos raciais”. 

Além da Netflix, o ator subiu ao palco do Teatro Nacional da Cataluña, para uma peça dirigida por um dos grandes nomes do teatro Catalão, Xavier Albertí, e ainda esteve em exibição na Sala Periferia Cimarronas, em Barcelona, com o seu solo “O Tiro”, que não só teve sala cheia todos os dias, como também acabou por ser exposto em vídeo no MQ – MuseumsQuartier Wien em Viena, na Áustria.

Mais recentemente, Luiz Felipe Lucas estreou em Barcelona o seu filme Migranta. Dirigido pelo próprio e que fala da reconstrução da Europa da perspetiva da migração como um fenómeno natural e orgânico. “O que a gente fala no filme é que todo o planeta foi povoado através de um fenómeno migratório, então é inerente ao ser humano”, explica.

Para o futuro, o ator quer fazer mais trabalho audiovisual, mas sem planear. “Deixo ver o que acontece mas com certeza quero ir para o Brasil no próximo ano para novos trabalhos”, referiu. 

No entanto, Luiz não se fica pela representação e está já a preparar um novo projeto, desta vez musical, em parceria com dois produtores brasileiros. “É a primeira vez que começo pela música. Estamos a descobrir qual vai ser a identidade sonora do projeto. Talvez no ano que vem chegam novidades”, remata.

Para já, a única certeza que temos é que o ator prometeu contar tudo à BANTUMEN muito em breve, por isso vamos ficar atentos.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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