Procurar
Close this search box.

“Má”, versátil e visionária: essa é Ludmilla

Ludmilla | DR
Ludmilla | DR

O histórico artístico de Ludmilla permite afirmar que ela não é limitada – nem limitável. O seu começo foi no funk, como MC Beyoncé, mas depois que enveredou pelo pop e consolidou-se no mainstream, abriu o leque de possibilidades para mostrar que pode se adaptar facilmente a ambientes diversos. Quem já presenciou o trabalho dela de perto diz em off que Lud é perfeccionista. Prioriza a arte e a experiência que seus fãs terão.. 

“Seus movimentos são característicos de uma artista que domina com maestria todas as facetas de seu ofício”, observa Éliton Nascimento, Executivo da música e especialista em estratégia, que trabalhou em alguns projetos da artista no Spotify e YouTube.

Um exemplo dessa “ambição” pela excelência ficou um pouco mais evidente com os R$ 2 milhões de reais (cerca de 353 mil euros) que colocou do próprio bolso para a produção do seu show no Palco Sunset, do Rock In Rio. A quantia alta chamou atenção, porém, o retorno do investimento gerou resultados positivos e confirmou o que ela havia afirmado dias antes ao jornal O Globo: “É o show da minha vida, e tudo o que é bom tem seu preço”. 

Ela faz parcerias estratégicas que sustentam cada um dos seus movimentos, lhe dando solidez e a energia necessária para avançar: seja no Numanice ou agora no trap, ela é um case que precisa ser minuciosamente estudado e dissecado

Éliton Nascimento

Além de impactar a plateia e os espectadores que acompanharam pela TV, a “Lud In Rio”(como foi batizado o espetáculo) entrou para a lista dos melhores shows da história do maior festival do mundo e garantiu à cantora o cobiçado Palco Mundo na edição de 2024. A qualidade estética do cenário surpreendeu, assim como a performance impactante, o protesto antirracista – depois de ataques sofridos na Internet -, a homenagem às funkeiras que vieram antes dela, como Tati Quebra Barraco e a “benção” que deu para as gêmeas Tasha e Tracie, Majur e MC Soffia, artistas pretas em plena ascensão.

“A generalidade dela passa por questões de coragem, de visão, de entender que tanto o Brasil quanto o mundo querem ter acesso a algo genuinamente brasileiro”, observa Pedro Bonn, comunicador, produtor executivo e criador da plataforma de cultura preta AUR. ”Ela também não tem medo de experimentar. Isso tem sido importante para esse momento que ela está vivendo e para a longevidade da carreira dela”.

Primeira mulher negra da América Latina a bater 1 bilhão de streams no Spotify – hoje os números ultrapassam os 2 bi -, Ludmilla geralmente dobra as metas que se propõe atingir. Com Numanice #2, o segundo álbum do assertivo projeto de pagode que sempre tem eventos sold out (assim como as Lud Sessions), ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode. A imersão nesse outro universo da música afro-brasileira abriu a possibilidade de estrear no Carnaval do Rio como segunda intérprete na tradicional escola de samba Beija-Flor Nilópolis, ao lado do ícone Neguinho. 

Para Juliana Castro, Head de Relacionamento Estratégico da Bananas Music, agência de music branding, a coroada Rainha da Favela fez uma jogada triunfal. “Enquanto é bem comum vermos artistas do funk indo somente na direção ao pop, ela vira a esquina e se lança no pagode. Podemos dizer que é um grande exemplo de sucesso, criatividade e domínio da sua arte e potencialidade”. 

A vontade de estar sempre fora da zona de conforto se revela mais uma vez com “Sou Má”, que tem a participação de Tasha e Trace, e “Nasci Pra Vencer”. Os dois traps  servem como entrada a uma nova fase musical e, segundo ela, “mais empoderada do que nunca”. Pelo que se observa, Lud não quer ficar só observando a onda passar. Quer surfar nela e mostrar que tem cartas na manga para usar quando for preciso. É difícil saber se essas jogadas vão de fato na contramão do senso comum, porque tudo o que se propõe fazer executa com o máximo primor e conquista públicos distintos.

Na visão de Éliton, a artista representa a genialidade e a pluralidade da mulher preta, porque consegue passear em todos os gêneros e estilos, fazendo muito bem o que se dispõe e, consequentemente, junta números e bate recordes. “Seu talento é natural e não há o que se discutir. Mas não é só talento”, diz. “Ela faz parcerias estratégicas que sustentam cada um dos seus movimentos, lhe dando solidez e a energia necessária para avançar: seja no Numanice ou agora no trap, ela é um case que precisa ser minuciosamente estudado e dissecado”.

Aos 27 anos, sendo dez dedicados à música, Ludmila Oliveira da Silva já conquistou os mais variados destaques e premiações dentro e fora da indústria musical, incluindo a indicação ao B.E.T. Awards na categoria Melhor Artista Internacional e o destaque no GLOW, um programa global de música do Spotify desenvolvido para celebrar a comunidade LGBTQIA+ e promover a equidade em áudio. Porém, mesmo sempre flertando com o mercado internacional, até emplacando o hit “Onda Diferente” com a ‘polêmica’ parceria com Anitta e Snoop Dogg, a inserção dela fora das fronteiras brasileiras, latinas e lusófonas tem sido feita com um certa tranquilidade e cuidado. 

Essa falta de pressa faz com que o processo aconteça de forma natural, sem a necessidade de se moldar a uma realidade que não a representa. Como afirma Isabela Raygoza, na Billboard, a funkeira “construiu sua persona artística abraçando as formas de arte brasileiras, do samba ao pagode e o funk carioca, com um flow enigmático que é todo em português, onde ela representa a vida nas favelas, hinos de auto-empoderamento e de como se encontrar”.

 Todo esse histórico e o deslumbre que todos têm pela arte que Lud faz, refletem o primeiro verso e o “refrão chiclete”de Sou Má”: Difícil é pegar no estilo / Difícil é fazer o malote / Difícil ter o meu talento / Difícil ter a nossa sorte / É que eu sou foda hein / Sou má”.

“Representa muito a diversidade e não somente uma diversidade racial, mas uma diversidade musical comparável a todos os grandes mestres da música brasileira”, completa Pedro Bonn. “Isso prova que artistas pretos conseguem frequentar várias estéticas com uma qualidade extrema, e sem dever nada a ninguém”. 

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

Recomendações

Procurar
Close this search box.

OUTROS

Um espaço plural, onde experimentamos o  potencial da angolanidade.

Toda a actualidade sobre Comunicação, Publicidade, Empreendedorismo e o Impacto das marcas da Lusofonia.

MAIS POPULARES