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Os angolanos da “Má Vida” em Portugal

Sanger e Anyfá são dois jovens filhos de emigrantes que fugiram ao destino provável de quem passa o tempo nas streets, como os próprios dizem. O gosto pela música e pela desbunda levou-os a criar a Bad Company – Má Vida, empresa que é actualmente uma das mais reconhecidas a nível de organização de festas nocturnas em Portugal.

Às suas mães, reconhecem o esforço e as batalhas que travaram no dia-a-dia para que o pão nunca lhes faltasse e para que as suas dificuldades não fossem as dos filhos. Hoje, são eles que sustentam a família. São os fundadores da Bad Company – Má Vida, a empresa que nasceu do gosto pelo tchilo.

Sanger nasceu no Lubango, Huíla, e Anyfá na Maianga, Luanda, mas enquanto crianças as suas famílias emigraram para Portugal. Cresceram na Linha de Sintra (conhecida em Angola por ser a “casa” do grupo Força Suprema) e os seus caminhos cruzaram-se em 2001 ou, pelo menos, por volta dessa altura. Anyfá não tem a certeza da conta, mas Sanger recorda-lhe: “Eu já te conhecia quando as torres [gémeas] caíram, lembras?”

Discoteca Luanda

Da dupla, Sanger sempre foi o mais irrequieto, o que leva a paixão pela música ao extremo. “Até hoje nos irritamos com isso. Podemos estar a sair do club, música alta, contas, stress e esse [Sanger] chega ao carro e ainda põe a música alta”, reclama Anyfá simpaticamente.

“Não dá para falar de nós sem falar de música”, afirmam os jovens. As amizades giravam todas à volta do mesmo. Eram os Djs Kiko Mau e Pausas e depois havia também a “família” Força Suprema. Portanto, o passo até à organização da primeira festa foi curto.

8 de Outubro de 2004 e acontecia a Style Party da Bad Company. O lucro? 25 euros. O valor é irrisório, mas o sabor… esse, na altura não tinha medida. Era o primeiro feito da dupla. 25 euros ganhos com empenho. Juntos, foram gastá-los numa rulote.  No regresso a casa, “voltámos de comboio na mesma, mas estávamos bué contentes”.

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Não é culpar a sociedade a toda a hora. Nós é que temos de nos adaptar ao mundo e decidir o que queremos fazer.

Depois da Style Party, surgiram outras, uma atrás da outra. A discoteca Luanda, no centro de Lisboa, é a casa da Bad Company. “É o nosso estádio da Luz. Identificamo-nos com a casa. E ali, connosco, não há preconceitos. Vais para te divertires e tanto podes encontrar o jogador de futebol, a actriz, o dred que estuda contigo, o trafulha lá do bairro… É onde nos sentimos à vontade. E ali, quando fazemos um jogo, é vitória certa”, realça Anyfá.

À medida que iam crescendo, enquanto empresa de organização de eventos, empurraram também outras carreiras para o sucesso. Um desses casos é Dj Barata. Dentro do meio africano, em Portugal, poucos nunca ouviram falar no seu nome, e em Angola começa cada vez mais a ganhar o seu público.

No portfólio, a Bad Company orgulha-se de registar o pavilhão Meo Arena e a Aula Magna. Dois dos espaços de espectáculos mais conceituados da terra de Camões.

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O evento realizado na Aula Magna acrescentou mais um ponto na maturidade empresarial dos dois jovens. Tratou-se da festa de lançamento de uma mixtape da Bad Company, Club Bangerz, que reúne vários hits, nacionais e internacionais, que mais sucesso fizeram nos ambientes nocturnos. A ideia surgiu de NGA: “Vocês estão sempre na noite, sabem o que bate. Por que é que não lançam um cena só de hits?” Além disso, “em 2014 foi quando ‘choveram’ mixtapes da família [Força Suprema], portanto juntámos o útil ao agradável e lançámos o álbum na mesma altura”, revelou Sanger. Em pouco tempo, o Klub Bangerz atingia 25 mil downloads. “Foi ‘ouro’”, disse Anyfá.

Quando questionados sobre a organização empresarial da Bad Company, respondem que, além dos dois, têm pessoas com quem trabalham regularmente, mas tudo depende do tipo de evento e as suas necessidades. Entre os dois e os vários amigos, todos fazem tudo. Sanger garante: a “família” tem tudo o que precisa.

Se ganhar o pão do dia-a-dia, e mais um (bom) extra, é a máxima de Sanger e Anyfá, a responsabilidade social está no mesmo alinhamento. Representam os miúdos, que tal como eles, fizeram das ruas as suas “casas”. “Nós temos a responsabilidade de mostrar as esses miúdos que é possível viver do que gostamos de fazer. Basta acreditar. Se há quem tenha uma empresa a trabalhar oito horas e nós não, então nós vamos trabalhar 12 ou 15 horas se for preciso. Trabalhar mais para usufruir mais. Não é culpar a sociedade a toda a hora. Nós é que temos de nos adaptar ao mundo e decidir o que queremos fazer. Só não se deixem ficar para trás. Mesmo que fiquem lá ao fundo, é só correr”, remata Anyfá.

Vangloriam-se da “má vida” que levam, das miúdas e dos luxos, mas a verdade é que são apenas dois jovens, que quiseram fazer mais do que simplesmente ficar à espera que a vida melhorasse do nada. O lucro desse esforço não é só financeiro, é também o reconhecimento que leva a Bad Company a outras paragens além Portugal. Ainda este ano, Angola, Suíça, Luxemburgo e Namíbia já estão marcados na rota.

Imagens: DR
Capa: Décio Pegado
Vídeo: Eddie Pipocas

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