MC Soffia cresceu. Esse amadurecimento não está relacionado somente à idade. Ela também transformou a forma que se comunica com o público para se adaptar à sua realidade geracional. Mesmo com essa mudança, a menina que chamou atenção com letras politizadas e rimas feitas no improviso, mantém a premissa que a consagrou: dar voz a mulheres que se identificam com sua vivência.
Aos 19 anos, Soffia Gomes da Rocha Gregório Correia faz um “rap adulto” com letras um pouco mais apimentadas do que as anteriores. “Lady de Quebrada”, que compõe o EP Rapper (de 2022), reflete esse outro caminho em que a MC decidiu levar sua arte. Na música, a MC mostra que meninas da periferia também querem e podem curtir as coisas boa da vida. “Podemos ser ladies de salto, ter um estilo diferenciado e chique mesmo morando na periferia e ser respeitada por isso também”, diz.
Assim como esta, as outras quatro músicas do EP representam uma Soffia em plena fase de crescimento, ousada, sensual e com mais liberdade para abordar o que deseja. Naturalmente, não poderia ficar presa ao tempo. Evoluiu, mas também precisa tomar um certo cuidado para não perder a essencia que a manteve relevante até agora. “Com esse trabalho quero mostrar que cresci, que mudou a minha perspectiva sobre a aceitação, mas ainda falo sobre isso”, observa. “Mudei e atualizei a forma de contar essa história para meninas da minha geração”, continua MC Soffia.
Se manter essa visão, a rapper pode conquistar (a longo prazo) lugares ainda mais altos, furar a bolha do rap e almejar um lugar no pop – caso queira. É uma possibilidade que com o passar do tempo vai ser inevitável não pensar em imergir. Mas isso é apenas uma questão de visibilidade artística. Vai depender muito de quem ela vai querer compartilhar suas ideias e ideais.
adailton Moura
Jornalista. Autor do livro “A Indústria da Música Gospel”, que aborda a evolução da música cristã no mercado musical brasileiro. Nos últimos anos, colaborei com as principais plataformas de música urbana do Brasil.