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Moçambique: Muitos corpos abandonados e crianças sozinhas nas matas

Moçambique | ©Martin Bekerman
Moçambique | ©Martin Bekerman

Jornalistas que presenciaram ataques de rebeldes e sobreviveram durante duas semanas nas matas de Cabo Delgado, norte de Moçambique, chegaram a local seguro e contaram que há muitos corpos abandonados e crianças sozinhas, perdidas no campo.

“A situação está descontrolada, há muitas crianças, sozinhas e perdidas nas matas”, referiu Beatriz João, jornalista da Rádio Comunitária São Francisco de Assis, localizada no distrito de Muidumbe.

“Cruzei-me com muitas dessas crianças enquanto caminhava quilómetros em direção a Montepuez [onde agora se refugia]”, referiu ao Fórum Nacional de Rádios Comunitárias, que divulgou um comunicado com declarações destes jornalistas e onde anunciou estarem a salvo os nove jornalistas daquela estação que há duas semanas fugiram, tal como a maioria da população.

Mas muitos residentes, em número incerto, não conseguiram escapar, adianta o comunicado daquele órgão.

A Igreja Paroquial do Sagrado Coração de Jesus “está a ser usada, nos últimos dias, como base dos insurgentes”, adiantou.

“Eles [insurgentes] abandonaram o anterior local onde estavam fixados devido ao cheiro dos cadáveres que se encontram de qualquer maneira nas ruas”, acrescentou.

Moisés José, outro dos jornalistas que também se encontrava refugiado nas matas, referiu, citado no mesmo comunicado, que “os insurgentes capturaram inúmeras mulheres”.

“Uma delas foi a minha filha de 27 anos que felizmente conseguiu fugir para as matas e juntar-se a nós”, destacou.

No local onde esteve refugiado durante dias, “havia muitos corpos em fase de decomposição”, descreveu.

O terror no distrito de Muidumbe começou às 04:30 de 31 de outubro.

“Começámos a ouvir tiros por perto”, relatou Hilário Tomás, outro jornalista da rádio comunitária.

Os insurgentes iniciaram as ofensivas na zona alta do distrito, onde residia a maior parte da população: Ntchinga, 24 de Março, Namaculo, Nangunde, Namacande, Muatide e Muambula.

“Quando os insurgentes se aperceberam que as comunidades estavam a fugir para zona baixa, em Miangaleua, começaram a segui-las e a matar quem encontravam pelo caminho. Fugi com a minha família e ficamos escondidos nas matas por mais de 10 dias”, resumiu.

Muidumbe foi o mais recente distrito tomado por rebeldes este ano, depois de já terem ocupado outros, durante vários dias, mantendo ainda controlo de Mocímboa da Praia, vila costeira e uma das principais da província, segundo detalha o mais recente relatório sobre o conflito, elaborado por uma comissão parlamentar.

Entretanto, o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, disse na quinta-feira que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) recuperaram a sede distrital de Muidumbe.

A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

A província, onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está desde há três anos sob ataques de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.

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