Procurar
Close this search box.

À conversa sobre política e música com Mynda Guevara

Joacine Katar Moreira
Joacine Katar Moreira

Recentemente, falámos com Mynda Guevara sobre o seu novo single, “Valor Kez Ta Danu“, o quinto do EP Mudjer na Rap, mas aproveitámos para abordar outros assuntos, que agora revelamos neste texto. Falámos sobre música mas também sobre política e a representação da comunidade PALOP em Portugal, que agora ganhou nova amplitude com a eleição de três deputadas negras para o parlamento português.

Nas últimas legislativas em Portugal foram eleitas três mulheres negras como deputadas. Beatriz Dias pelo Bloco de Esquerda, Romualda Fernandes pelo Partido Socialista e Joacine Katar Moreira pelo Partido Livre. Para além do tom de pele, as três mulheres têm em comum o facto de serem de origem guineense. Um dia depois de Mynda ter lançado o seu single “Valor Kez Ta Danu”, quem em tradução livre significa o valor que eles nos dão, as deputadas receberam a felicitação oficial do Governo da Guiné-Bissau, que considerou este feito como um “momento histórico” na democracia portuguesa.

Joacine Katar Moreira / Foto: Pedro Marques dos Santos

Joacine Katar Moreira tem 37 anos, é investigadora no ISCTE e fundadora do Instituto da Mulher Negra em Portugal (INMUNE). Beatriz Gomes, 48, tem uma carreira de professora de Biologia no ensino secundário, é fundadora da Djass – Associação de Afrodescendentes. Romualda Fernandes, 65 anos, é jurista e integra a direcção do Alto Comissariado para as Migrações.

Todas têm o compromisso de lutar contra o racismo, um dos temas que vai fazer parte da agenda durante a próxima legislatura. “A partir de agora nós, mulheres negras, cada vez que olharmos para a escadaria da Assembleia da República não nos iremos ver apenas com baldes e esfregonas para limpar: estamos lá dentro, temos voz e podemos sonhar”, escreveu uma amiga a Romualda Fernandes.

É certo de que esse “momento histórico” de que se fala, vai marcar a história democrática de Portugal. Trata-se de uma representação para toda a comunidade PALOP existente em Portugal. “Já nos sentimos representados, temos uma negra no parlamento. (…) É uma luta de anos. (…) Estamos a conseguir e vamos chegar mais longe”, são algumas das frases que ecoam nas redes sociais, após a vitória das deputadas.

Beatriz Gomes Dias / Foto: Nuno Ferreira Santos

O novo tema de Mynda é pertinente e não podia ter sido lançado numa melhor altura. A sua mensagem retratada por cima de um instrumental, a realidade que se vive em Portugal, no que toca as oportunidades dadas e à igualdade, que não é nem de longe homogénea. “Valor Kez Ta Danu” é mais que uma musica: é um desabafo da rapper. Mynda quer que todos percebam que cada pessoa tem o seu valor, independentemente do seu estrato social, etnia, e convicções políticas.

Além disto o que esta música em particular tem a ver com as legislativas? É muito simples. A rapper da Linha de Sintra é negra, passa frequentemente uma mensagem intervencionista, assim como as deputadas que através das suas plataformas lutam todos os dias pela inclusão e por um mundo mais justo, em que os lugares em qualquer área sejam ocupados por mérito próprio, sem que a cor da pele seja um factor eliminatório.

“Sinto-me representada e fico feliz por elas. Acho que o nosso país deve dar a oportunidade a qualquer pessoa de representar a nossa nação independentemente da sua cor de pele, de onde vem, e etc. Isso sim é female power” [poder feminino], afirmou Mynda.

Romualda Fernandes / Foto: DW

Apesar de a rapper ser agora representada por uma label, a de Piruka MC, Hood Groove, a sua essência e crenças mantêm-se intactas. “Ele canta em português e eu em crioulo, isso não influência em nada o meu percurso, o meu talento e a minha música. Até porque continuo a ser livre para escrever como, quando e da forma que quiser”, acrescentou.

Mynda sente-se cada vez mais apoiada por quem a segue e que o seu caminho está a ser bem feito. As criticas que recebe apenas reforçam o trabalho que quer desenvolver ao longo da sua carreira musical e, o facto de ter agora três deputadas que a representam, torna-a mais forte. E sobretudo, agora mais do que nunca, nada pode mudar a sua essência e a sua mensagem, “acredita que muita gente vai dar conta que continuo a ser quem sempre fui , hustler e com a cabeça firme para usar e explorar  o meu talento da melhor maneira possível”, concluiu.

Ouve abaixo “Valor Kez Ta Danu”:

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

Recomendações

Procurar
Close this search box.

OUTROS

Um espaço plural, onde experimentamos o  potencial da angolanidade.

Toda a actualidade sobre Comunicação, Publicidade, Empreendedorismo e o Impacto das marcas da Lusofonia.

MAIS POPULARES