A música é um vector de amizades e afinidades. O gosto pelas mesmas sonoridades, rimas, batidas ou estilos acabam por cimentar relações que, à partida, poderiam não ter razão de existir.
Foi o que aconteceu com Miguel Nasa, Lil Bad, Olick e Joldany Record, que se juntaram para formar os Omnipresentes, abreviadamente chamados de #Omni.
O grupo é natural do Huambo, província do planalto central angolano. Miguel Nasa e Olick são primos e Lil Bad o vizinho de Olick. Todos cresceram juntos e a afinidade pela música, mais propriamente pelo hip hop, levou-os a criar os #OMNI. Lil Bad era, na altura, a única excepção, visto que nunca olhou para o rap como os restantes membros, mas acabou por se deixar levar e entranhar o estilo.
As influências musicais surgiram naturalmente a partir de nomes como Força Suprema, Elenco de Luxo e Delcio Dollar.
“Mudámos completamente a forma de pensar, falar, até mesmo vestir. A gente ouvia até saber de cor as músicas de outros cantores para depois fazer gravações no telemóvel e mostar aos dreds. Para nós aquilo era uma cena de outro mundo, era tudo novo e bom demais. Sendo crianças não havia possibilidades de gravar, então a gente precisou crescer para gravar a primeira música.”
Nesta terça-feira, 24, o grupo estreou no YouTube “Às”, o seu novo single. Aproveitámos a deixa para falar sobre este projeto e o futuro dos #Omni.
Contem-nos sobre a trajetória e história do grupo.
Nasa: O Lil aparece e diz que foi convidado para uma música, isto em 2016. A música já estava pronta, eu e o Olick ouvimos e curtímos de imediato. Já era uma cena que pretendíamos fazer, então pedimos para participar nos próximos projetos. Logo apareceu o convite para integrar um grupo que se estava a criar lá na zona, eles tinham a ideia de que nós já fazíamos rap por isso foi fácil sermos incluídos, mas a verdade é que, além do Lil, nunca tínhamos sequer entrado num estúdio de música.
Naquele tempo o grupo era composto por quatro membros, Nasa, Lil Bad, Olick e Fausto que era o CEO e criador do team. Vivemos e aprendemos muito com ele e seremos sempre gratos a ele pois foi o primeiro a colocar-nos num estúdio e foi quem nos levou a dar os primeiros passos no rap.
Trabalhámos durante três anos mas chegou um momento em que ele decidiu abandonar a música e nós aceitamos isso de boa e continuámos a fazer a nossa cena.
Como se adaptaram com a saída do Fausto e que dificuldades encontraram?
Olick: Colocámos a ideia em nossas mentes de começar uma cena nova mas havia o medo. Do tipo: como é que o pessoal vai processar isso, vamos perder seguidores? Um monte de perguntas foram surgindo mas muita gente aconselhou-nos a manter o grupo. Um dia o Nasa aparece com o nome Omnipresentes’ e coloca a questão de mudar o nome e começar do zero.
Como foi a reação do pessoal que já acompanhava as vossas cenas?
Olick: Foi difícil colocar isso na cabeça do people mas com o tempo eles foram conhecendo o novo e esquecendo o antigo. Hoje há quem diga que fomos muito acertivos ao escolher esse name. (risos) O “novo” grupo foi criado em 2019 e desde então acreditamos ter sido a melhor escolha, visto que temos nos destacado bastante na nossa zona.
Como conheceram o Joldany Record, e como surgiu a parceria e entrada dele no grupo?
Nasa: O Joldany Record já fazia parte da nossa vida, ele foi o nosso produtor musical durante todo o processo. No princípio a relação era de cantores para produtor, fomos nos conhecendo e criando laços até que nos tornámos bons amigos ou mesmo irmãos, pois é desse jeito que nos vemos. O Joldany apareceu em nossas vida, viu alguma cena a mais em nós e decidiu abraçar e passar produzir a nossa cena e estamos juntos até hoje.
2- Um ano de existência é muito cedo para perguntar, mais quais são os feitos do grupo
(Lil Bad)
R: Falar de feitos, como tu disseste, um ano é muito pouco, como OMNI a gente tem muita coisa por conquistar mas das cenas que a gente conquistou e hoje tem grande orgulho e agradece foi o contrato com nossa label ‘’MODUS’’. Assinamos o contrato em 2019 em Agosto e de lá para cá só coisas boas acontecendo graças a Deus.
Passámos a ser membros officias da produtora Joldany Record e com o tempo ele passou a ser o nosso CEO, hoje em dia é um Omninigga.
Qual é a maior dificuldade que sentem, estando baseados na província do Huambo, não sendo propriamente uma capital do Hiphop em Angola?
Nasa: São várias as dificuldades que encontramos, mas a maior chega a ser a falta de meios para divulgação dos nossos trabalhos. Temos a Internet mas só isso não basta. A concorrência hoje tende a ser maior. Já existe alguma movimentação de manos que se encarregam disso mas ainda é muito pouco. Se queremos chegar ao nível de Luanda precisamos de mais.
Na vossa perspetiva, qual seria a fórmula ideal para se conseguir ter sucesso e
reconhecimento fazendo rap em Angola?
Olick: Trabalhar quatro vezes mais que a concorrência. Há quem diga que a melhor fórmula é o feat de um cantor de renome, mas já se provou que isso funcionou com poucos.
Como é a relação que mantêm com os outros emcees e grupos?
Nasa: Temos boas relações com os mcs da nossa zona, sempre tivemos. Mas já apareceram dreds a tentar sujar o name e nós só demos o que eles mereciam. (risos) Mas atenção que não levamos isso como foco. O que queremos mesmo é fazer boa música.
Com a pandemia da Covid-19 a assolar Angola, quais os métodos que têm sido utilizados para dar continuidade ao trabalho?
Nasa: A covid-19 veio mesmo dificultar bastante o trabalho de todo o mundo, é uma cena totalmente nova para a nossa realidade.
Mas em todas as situações é possível pegar sempre num ponto positivo. Ao menos, nós pensamos assim. O people tem estado mais em casa devido ao confinamento então há mais tempo para usar a Internet e então a gente aproveita isso. Sem os shows só nos resta essa ferramenta.
Qual a vossa visão sobre a nova escola em Angola, alguma referência?
Nasa: A nova escola em Angola não pára de crescer. É incrível a forma como os novos talentos vão aparecendo e se destacando no mercado nacional. Mas ainda há aquela cena da “mesmice”. Todos a tentarem trazer a mesma coisa para o game. Vamos fazer a diferença, o people atrai-se pelo novo e diferente, não vamos mudar completamente mas colocar a diferença na nossa cena.
Mas por outra, há competição, é possível ver o game movimentado mesmo em fase de pandemia, o que é bom, isso quer dizer que os nossos MCs estão mesmo a trabalhar. Temos como referência TRX, T-Rex, Lil Drizzy, Deyy Z, Areo Ricardo, Slim Boy e muitos outros.
2020 ainda não acabou. Alguma surpresa para divulgar em primeira mão para a BANTUMEN além do vídeo e musica deste artigo?
Lil Bad: Temos coisas boas por vir. Pretendemos lançar mais um single ainda este ano mas nunca se sabe, talvez possa vir um EP. Sigam as nossas páginas (das redes sociais) e saberão de tudo. (risos)
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