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Arte contemporânea africana na ARCOlisboa: os principais destaques

Exposição de Thandi Pinto e Gemuce, da galeria moçambicana Arte de Gema, na ARCOlisboa em 2023 | ©BANTUMEN
Exposição de Thandi Pinto e Gemuce, da galeria moçambicana Arte de Gema, na ARCOlisboa em 2023 | ©BANTUMEN

Arquiteta e curadora reputada, Paula Nascimento é desde 2019 a responsável pela curadoria das galerias africanas da ARCOlisboa, a secção “África em Foco”. Este ano, a feira de arte contemporânea realiza-se entre 25 e 28 de maio, na Cordoaria Nacional, na zona de Belém. Como sempre, a curadora angolana de 42 anos tentou espelhar a diversidade da arte africana com as galerias e artistas que convidou para a feira.

“A curadoria para a feira de arte é sempre muito complicada porque tem vários fatores em jogo”, explica à BANTUMEN. “As galerias novas têm o seu programa específico, têm que vender porque é uma feira comercial, além de, obviamente, apresentar artistas menos conhecidos. Então tento fazer mais uma espécie de programação do que propriamente uma curadoria.”

Além disso, frisa, não gosta de apresentar uma programação temática. “Esquivo-me de dar um tema às galerias, ou de tentar trabalhar dentro de temas muito específicos, exatamente para poder permitir alguma elasticidade no contexto do programa de cada galeria.”

Este ano, e de “forma muito aberta”, inspirou-se nos ensaios “How to Write About Africa”, do autor queniano Binyavanga Wainaina, para preparar a presença africana na ARCOlisboa. “É um texto antigo que aborda a questão dos estereótipos. O que ele faz é descrever o continente usando todos os clichés possíveis e imaginários, de forma irónica e satírica. E quando digo que esse texto me inspirou é um bocado na ideia de ser sempre complicado ter um foco para África numa feira de arte… É um bocado desmistificar aquilo que eventualmente se poderia esperar.”

O que esperar, então, das galerias africanas na ARCOlisboa de 2023

“Este ano temos algumas galerias novas, de países que nunca participaram. De Casablanca a Cape Town, ou seja, do norte ao sul do continente. E também galerias europeias que têm programas muito voltados para a arte contemporânea africana. São artistas muito diversos”, explica Paula Nascimento. 

A curadora sublinha que, embora não tenha sido propositado, “há uma predominância de artistas mulheres”, sendo que algumas galerias só trabalham com artistas femininas. Em relação a temas, não existe mesmo um foco específico, ainda que haja uma temática abrangente que, inevitavelmente, acaba por se sobrepor.

“Claro que há uma predominância de arte relacionada com leituras históricas, de artistas que trabalham com arquivo. Mas há um bocado de tudo, é muito flexível e aberto. E isto estende-se a outros aspetos da feira: há publicações presentes na secção de livros, convidados para as conversas… Este ano vai haver uma mesa redonda que irá abordar diretamente a questão da representatividade, da internacionalização da arte contemporânea africana, mas depois temos convidados noutras conversas. É um programa muito livre mas que tenta normalizar a presença, seja de artistas ou de temas ligados a África, de forma transversal, ao longo dos eventos da feira.”

Um dos destaques deste ano na ARCOlisboa é a presença de Edson Chagas, “um artista que circula muito por Lisboa mas cuja prática é pouco conhecida”. Com um Leão de Ouro no currículo, o fotógrafo angolano de 46 anos é conhecido por retratar elementos da sua cultura nacional — tanto em estúdio como na rua — e irá apresentar trabalhos em torno de máscaras tradicionais, a convite da galeria Insofar.

Paula Nascimento destaca ainda a presença da Afronova, “uma pequena galeria baseada na África do Sul”, que este ano traz um programa muito centrado na área da fotografia. A curadora salienta as obras de Owanto, fotógrafa “da diáspora africana mas baseada em Málaga”; que estarão em diálogo com as imagens de Dimakatso Mathopa, “uma artista sul-africana mais jovem”. “Vai ser uma conversa interessante e intergeracional, com uma reflexão sobre o uso e a criação de arquivos.”

Outro dos destaques chega através da Guns and Rain, galeria que trabalha sobretudo com artistas da Namíbia. Paula Nascimento realça as obras de Tuli Mekondjo, “uma estrela em ascensão” no circuito da arte contemporânea, que “curiosamente também trabalha com arquivos e narrativas históricas”. Nas suas peças retrata, por exemplo, rituais culturais de iniciação.

Hedwig Barry, Ann Gollifer, Fidel Évora, Reinata Sadimba, Teresa Roza d’Oliveira, José Chambel, Ângela Ferreira, Gemuce, Thandi Pinto, Cecilia Lamptey Botchway, Saïdou Dicko, Patrick Tagoe-Turkson, Victorien Bazo, Tsoku Maela, Thandiwe Muriu, Jean-Marc Hunt, Marcel Tchopwe, Bara Sketchbook e Abe Ogunlende são os outros artistas, de diferentes correntes e expressões, integrados na programação dedicada à arte contemporânea africana (onde também se incluem o trabalho de galerias como a 193 Gallery, Perve, Artco Gallery, African Arty, Movart e Arte D’Gema, além das já referidas). “Acho que vai ser uma feira muito interessante. O ano passado correu muito bem, este ano estou ainda mais expectante que corra bem e que traga coisas interessantes.”

Em paralelo, existem três exposições patentes relacionadas com arte africana que podem ser descobertas. A 26 de maio, é inaugurada no Museu da Água – EPAL, no Depósito da Patriarcal e no Centro Cultural de Cabo Verde a mostra “Paragone: What’s With Mediums Today?”, que ali estará até 31 de agosto para refletir sobre os conceitos de “mediums” nas práticas artísticas atuais. Outra exposição, inaugurada em fevereiro mas que se mantém até 28 de maio na UCCLA – Casa das Galeotas, é “Moçambi-Cá”, com obras de artistas plásticos moçambicanos. E até 24 de junho será possível conhecer a mostra “Rescue Op” no Pavilhão 31 do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, com obras de vários artistas lusófonos. 

Perguntámos também a Paula Nascimento qual é a sua visão da perceção que existe hoje sobre a arte africana — se ainda há um longo caminho a percorrer para demonstrar a tal diversidade, também tendo em conta o texto satírico e anti-estereótipos que inspirou a arquiteta na construção da curadoria.

“Acho que tem vindo a melhorar. Tem havido um trabalho muito extenso em várias frentes, em vários locais. Obviamente que há contextos em que isto já nem é uma conversa. E há outros em que se nota que ainda é preciso fazer esse trabalho. Em Portugal, em Espanha, no contexto ibérico isso ainda é uma questão. Se calhar se nos voltarmos para Inglaterra… São países em que já existe uma predominância destes discursos há muito mais tempo. Já não é questão, a conversa já está noutro patamar. Mas acredito que é um processo contínuo, gerações e gerações vão fazendo a sua parte e acho que não é um processo que parta só de quem trabalha com arte contemporânea africana. Todas as instituições e outros curadores e artistas também têm algo a dizer, então é um processo e um diálogo que é contínuo.”

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