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Puta da Silva: “Eles agora gritarão o nome Puta nos grandes festivais de música”

Puta da Silva, setembro 2022 | ©José Brito
Puta da Silva, setembro 2022 | ©José Brito

Mais que um nome, Puta da Silva é uma figura de intervenção e reivindicação. Uma artista multifacetada, mas acima de tudo, imigrante, travesti e negra que utiliza a música para partilhar as suas experiências pessoais ao chegar a um novo país. A BANTUMEN falou com a artista para conhecer mais sobre a sua trajetória, que faz dela um dos grandes nomes do Lisbon International Music Network Festival, a acontecer de 28 a 30 de setembro.

Centrada em questões quotidianas de imigrantes, pessoas racializadas e profissionais do sexo, a música de Puta da Silva é provocadora e roça um tom político para chamar a atenção de temas comuns a tantas outras pessoas que, como ela, experienciam uma adptação difícil a uma sociedade que não é a sua.

Puta da Silva chegou à Europa com uma carreira construída no Brasil. Foi professora, atriz e diretora de teatro e é formada pela Universidade Federal de Uberlândia. Já em Portugal, terminou o mestrado em Teatro e Comunidade pela Escola de Teatro e Cinema de Lisboa, durante o qual lutou contra os desafios de ser imigrante.

Foi nas noites de Lisboa, enquanto se prostituta, que Puta da Silva iniciou as suas composições. Da procura difícil pela emancipação e adaptação na sociedade, nasceu uma vontade de contar histórias, memórias e experiências que agora estão presentes nas suas narrativas. “A prostituição foi o meu equipamento de proteção individual e, enquanto trabalhava e recebia os clientes na noite, a revolta fazia-me pensar na música que ia fazer para responder a tudo aquilo”, disse.

“Puta” porque, quando a cidade fechou-lhe todas as portas, foi a prostituição que a acolheu e “da Silva” pelo significado e multiculturalidade deste apelido no Brasil, um trocadilho também em relação à expressão comumente usada na naquele país: “Estou puta(o) da silva”; que denota braveza ou indignação. “Senti necessidade de assumir-me puta e potênciar a palavra. Reafirmar na comunidade uma profissão que já devia ter sido legalizada e protegida há muitos anos”, referiu a artista.

Com o início do confinamento, impossibilitada de trabalhar, a artista começou a produzir a sua própria música e vídeos sem nenhum apoio externo, apenas com a ajuda de amigos, que ainda hoje fazem parte da sua equipa. “Só foi possível construir o álbum desta forma graças às minhas raízes africanas e ao candomblé, onde aprendi que se a panela está vazia vire ao contrário e comece a batucar e cantar para trazer renovação em um momento de dificuldade”, sublinhou.

Desde 2020, Puta da Silva lançou três singles (“Festinha 360”, “Hetero Curioso” e “Bruxonas”), juntamente com vídeos produzidos pela própria, que foram selecionados para diversos festivais e eventos.

O vídeo de “Bruxonas” foi selecionado para o Music Video Festival 2020, na categoria de Melhor Videoclipe Brasileiro Feito em Confinamento, e foi exibido na 17ª edição do festival No Ar Coquetel Molotov – 3D Immersive World e na 14ª edição do festival For Rainbow 2020. Já “Hetero Curioso”, foi selecionado para a sexta edição do Bogotá Music Video Festival. “Festinha 360”, o seu videoclipe em realidade virtual, estreou-se no Cinema São Jorge (Lisboa), no Festival Política e teve exibições públicas em diversos pontos culturais da capital portuguesa.

De acordo com a artista, o primeiro single “Bruxonas”, com o respetivo vídeo, representa “uma anunciação, fala sobre o peso do tempo colonial e o impacto que ainda tem nas pessoas imigrantes e pretas. ‘Hetero Curioso’ fala das opressões que ainda hoje existem e que têm a cara estampada do homem branco cisgénero, que é a figura que mais consome a prostituição na noite e abomina no dia diante das suas famílias”.

Ouvir o nome Puta da Silva anunciado na moradia oficial do Primeiro Ministro foi muito importante

Puta da Silva

Ao vivo, Puta da Siva une a música e a dança à poesia e ao multimédia para oferecer ao seu público aquilo que durante a nossa conversa graciosamente definiu como “jogar a bunda no chão e pensar”, uma vez que pretende divertir e ao mesmo tempo consciencializar as pessoas para problemas reais da sociedade.

A participar em vários festivais e eventos culturais, Puta da Silva orgulha-se de colocar o seu nome na boca do público. “Os homens que me chamavam de puta nas noites de Lisboa, estão a ser obrigados a chamar-me de puta à luz do dia, e sem máscaras”. “Eles agora gritarão o nome Puta da Silva nos grandes festivais de música”, referiu a cantora com um sorriso na cara. “Ouvir o nome Puta da Silva anunciado na moradia oficial do Primeiro Ministro foi muito importante para mim”, acrescentou ao recordar a sua apresentação nos Jardins de São Bento, durante a celebração dos 200 anos da independência do Brasil.

Para Puta da Silva, representatividade é um termo complexo. No entanto, “quanto mais pessoas como nós [imigrantes, negras e travestis] chegarem a determinados lugares, mais vão mostrar a outras pessoas que é possível chegar lá”. A artista reforça ainda: “Se temos um sonho, temos de acreditar que é possível realizá-lo”.

Recorde-se que Puta da Silva irá participar no Lisbon International Music Network Festival (Festival MIL), com um concerto no próximo dia 29 de setembro, no B.Leza.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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