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Q.A.O.S. apresenta “Filha da Noite” e conta-nos a sua história

Q.A.O.S.

Darwin Canga é Q.A.O.S., um jovem angolano licenciado em Arquitetura que encontrou no rap e na produção musical os seus principais veículos de expressão criativa.

O artista tem estado a preparar o seu EP de estreia, Do Outro Lado da Sala, que se baseia no conceito de empatia e que cria uma perspetiva das diferentes pessoas que vivem à sua volta. O que mais vai captar a atenção do ouvinte é o facto da sonoridade de cada faixa se reinventar conforme cada tópico e personagem.

O primeiro avanço deste EP de Darwin é o single “Filha da Noite”, que narra a história de uma prostituta presa entre a necessidade e a moral.

Em entrevista, falámos como o rapper que nos descreveu resumidamente o seu percurso pessoal e profissional e os dilemas entre a faculdade e o estúdio.

Nome, data e local de nascimento?

Darwin Orlando de Carvalho Canga, nascido a 6 de novembro de 1993, em Luanda.

Fala-nos resumidamente da tua infância?

Vivi no bairro Valódia até mudar-me para a Vila-Alice, onde vivi desde a segunda metade da minha infância até à adolescência. Foi durante a minha infância no Valódia, nos meados dos anos 90, que conheci o rap. Nessa altura, vivia numa casa com muitos jovens, típico de casa da avó, então não pude escapar à febre que eram os SSP. Eu era super fã do Big Nelo nessa época, mas foi quando ouvi uma prima minha a fazer storytelling rap que percebi o poder do letras para criar um universo e mergulhar o ouvinte nele.

Já na Vila-Alice, comecei a descobrir cada vez mais o hip-hop e outros géneros urbanos a ver videoclipes no Channel-O, a assistir os rompimentos (batalhas de rap) que aconteciam na minha rua.

O que estás a estudar e como concilias os estudos com a música?

Sou licenciado em Arquitetura e agora depois de quase dois anos a ganhar experiência do ramo, voltei a estudar para fazer o mestrado. Por ser um curso bastante intenso, às vezes fica difícil conciliar com a música, portanto os meus horários têm que ser também meticulosamente arquitetados.

Quem é o QAOS e o porquê desse nome?

O QAOS é o meu alter-ego como artista. É um acrónimo para ‘Questions Are the Only Solutions’, é uma das minhas filosofias de vida, que é estares em constante estado de questionamento e confortável em não ter todas as respostas, sabendo que é mais importante fazer as perguntas certas para teres respostas melhores.

Como é que entraste no mundo da música e o porquê?

Sempre fui de inventar músicas espontaneamente mas foi quando comecei a ouvir rappers mais ‘poéticos’ como Gabriel O Pensador que comecei a compor letras de maneira estruturada. Mais ou menos na mesma altura, por intermédio de um primo meu, que hoje é um granda producer, conheci programas de produção. Quando ‘apanhei a pata’ da composição, punha beats do Myspace, gravava CD’s com músicas feitas e dava para amigos ouvir. Bons tempos.

Qual é a história por trás da tua primeira música?

É engraçado, às vezes tenho dificuldades em considerar o que foi a minha primeira música gravada. A primeira cena que alguma vez gravei foi tipo um kuduro, diga-se de passagem acústico, porque era eu também a batucar. Gravei o tema num gravador de cassetes. Mas num registro mais “profissional”, porém ainda amador. A primeira vez que gravei num beat foi numa brincadeira com o meu primo Beatoven, no instrumental “Tipsy” do J-Kwon. Eu tinha uns 11 anos, era um som sobre escolas. Só anos mais tarde, aos 17, é que publiquei a minha primeira música, era um som sobre festas com um final trágico.

Como quem já tiveste a oportunidade de trabalhar?

Nos últimos trabalhos em colaboração que foram publicados, antes de ter dado uma pausa na música por muito tempo, trabalhei maioritariamente com o grupo do qual fazia parte em UK, chamado Loud House Inc (Sizy, Jo Romeo, Angel). Neste momento, tenho trabalhado na direcção artística de alguns cantores da nova escola, como a Celma Matias e Jotta P, que estão a preparar os seus trabalhos de estreia. Estou aberto para colaborar com qualquer artista que seja autêntico, criativo e que não tenha medo de sair da bolha de temas e formas de abordagem que já estamos cansados de ouvir.

Quais as tuas influências dentro da música feita em português?

A lista não acabaria hoje. Mas, no que toca ao hip-hop, as minhas principais influências provêem do rap lusófono que se fez entre 2000 e 2010. Kalibrados, Conjunto Ngonguenha, Força Suprema, Bob da Rage Sense, Condutor, Sam The Kid, Azagaia, Izlo H, Valete, Pensador, MV Bill e Racionais.

Fala-nos sobre este teu novo trabalho prestes a ser lançado.

O meu EP de estreia, Do Outro Lado da Sala, baseia-se no conceito da empatia. Nele, encarno vários personagens em faixas diferentes, como se estivesse a colocar-me no lugar dos meus vizinhos. E essa interpretação de vários persongens e a diversidade de conceitos, dá ao trabalho uma dinâmica que há muito não oiço.

Que tipo de mensagem queres passar com a tua música?

Não me considero um artista monolítico, dou-me a liberdade de transmitir vários tipos energia, mensagens e moods. Talvez, de maneira geral, é essa a mensagem que passo com a minha música – o OK em sentires-te confortável em não seres uma só coisa.

Que projeções fazes para o futuro?

O facto de fazer música ser algo que acaba por competir com outras  atividades da minha vida,  e por não ser tão rentável na indústria que temos, eu pretendo continuar a fazer música à margem da indústria, em paralelo com outras cenas que pretendo fazer. Mas nunca negligenciando a qualidade artística da mesma. Enquanto houver vontade, continuarei a fazer projetos que também gostaria de consumir.

Como vês a indústria da música lusófona?

De modo geral, a música lusófona do ponto de vista artístico nunca ficou à quem do que se faz entre os anglófonos e francófonos. O facto de não termos mega indústrias musicais, com a exceção do Brasil, talvez faça com que muito mais artistas não tenham carreiras prósperas. A lusofonia perde muitos bons artistas por conta disso. Dentro do rap atualmente, do ponto vista criativo, noto uma forte polarização – MCs com algo a dizer mas sem carisma e ginga no mic e do outro lado rappers que tentam entreter sem dizer nada de interessante ou engraçado. Acho que devemos pôr os egos de lado e começar a aprender mais uns com os outros.

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