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Que tipo de amor é este?

Em meados do século XIV, em Cincinnati, cidade do Estado de Ohio nos Estados Unidos, uma mulher negra cercada por homens brancos escravocratas, prestes a ser levada de volta à vida de escravatura, sem hesitação, cortou a garganta da filha com uma faca, com o objetivo de poupá-la do mesmo destino. E eu me questiono: a que nível alguém precisa amar para tomar uma decisão daquelas? E que tipo de amor é este?

No mar de clichês, onde pescamos opiniões e conceitos sobre o amor, sempre houve qualquer coisa que não batia certo para mim. Parecia-me tudo demasiado lindo e fantasioso, alimentava-me o desejo por uma experiência similar, afinal de contas, amor soava-me a poesia, e quem não gosta de um pouco de poesia na sua vida?

Com o tempo, fui percebendo que, na verdade, tal como quase todas as nossas outras manifestações neurológicas, o amor em mim materializava-se através da ciência experimental da vida, e não de um romance ou filme. Aprendi a aceitar que não amo como os outros amam. Eu existo dentro da minha experiência, então, estranho seria se o amor que manifesto partisse do esqueleto e das crenças de outros. Quando amo, o meu coração ainda se rende ao prazer. Não sou diferente neste aspeto, mas expressar o sentimento à margem da minha essência seria como invadir a “Tróia da vida” sem um cavalo de realidade sobre as minhas capacidades, as minhas limitações pessoais e os meus desejos.

Não consigo definir com certeza o que amar significa ou como supostamente deve parecer, mas sei que para cada pessoa, com um papel ativo na minha vida, expresso uma intensidade e uma densidade infinita e diversificada de sentimentos. O que quero dizer com tudo isso? Apenas que, amor vem em várias cores, sabores, espessuras, níveis e tons. E o que definirá a combinação perfeita é a posição da pessoa amada na nossa vida.

A narrativa dominante é de que o amor é uma mistura entre loucura e paixão, sendo a sua maior forma de representação geralmente através de relações heterossexuais. Mas num mundo de uma geração emocionalmente instável, em que as relações amorosas têm demonstrado fazer mais mal que bem, é preciso que outras formas de amor ganhem espaço e roubem a nossa atenção e curiosidade. Não só para serem apreciadas, mas também analisadas e discutidas. Acho importante haver uma descentralização do sexo, seja a nível de género como do ato em si.

Amar é acima de tudo complexidade. Esta complexidade dá-se a todos os níveis e em todos os espaços, em relações inter e intrapessoais, entre familiares e até mesmo entre seres de diferentes espécies e naturezas. E, como devem imaginar, a manifestação do “como amar” destas multiplicidades existenciais é imensurável.

Ao criar o roteiro para o videoclipe da música “Call Me”, do Cali John, quis mostrar a forma mais “trendy” de amar. E durante a realização quis demonstrar um misto de energias a serem manifestadas pelas personagens. Fomos capazes de transformar a música numa obra visual que ilustra uma relação insegura, instável e, acima de tudo, tóxica, mas ainda assim, cheia de amor. É a forma mais saudável de amar? Provavelmente não, mas é uma forma de amar. Este cocktail fácil de fazer em casa revela uma narrativa diferenciada da que habitualmente consumimos nas telas.

O “Call Me” simboliza “o desejo por atenção”. O tipo de interação que acompanhamos no videoclipe demonstra uma clara dependência emocional das personagens, bastante comum entre os jovens. Uma incapacidade de desapego – por mais dolorosa que seja a experiência – porque quando amamos, sentimos saudades e, mesmo que ela esteja bem à nossa frente, quando sentimos saudades da pessoa que amamos, “we call / nós ligamos”, e mesmo que o orgulho se apodere do nosso corpo e não sejamos capazes de o fazer, dentro de nós, ainda haverá aquela voz apaixonada e em sofrimento, desejosa por atenção a dizer: CALL ME / LIGA! 

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