Queridos leitores,

Inauguro abril com a colectânea Queda dos Silêncios – manifestos contra a violência, escrita por mulheres, com a curadoria de Leopoldina Fekayamãle.

Com sete contos inéditos, o livro tem como objetivo “contribuir para o debate sobre a violência contra meninas e mulheres”, usando a literatura como arma, como partilhou comigo Fekayamãle. Para garantir que “paulatinamente, leitores e leitoras pudessem experienciar abordagens diferentes,” a cada conto foi agregada uma nota, uma análise que “apresenta caminhos para a reflexão sobre as questões ou temas que cada texto levanta,” abrindo assim espaço para “outras possibilidades de interpretação”.

Fekayamãle acrescenta que o “facto de muitas vezes não estarmos atentos ao óbvio,” no que diz respeito à violência, “continuamos a ter em Angola uma grande apatia e distracção em relação às múltiplas violências contra meninas e mulheres, reproduzimos microagressões e não temos os olhos atentos para a forma como silenciamos as mulheres e as impedimos de quebrar ciclos de violência.” 

Daí o título do livro Queda dos Silêncios e “a importância de trazer as vozes das próprias mulheres” para quebrar esse silenciamento histórico. Os contos são curtos, intensos e certeiros, trazendo perspetivas de mulheres que sofrem violências e também dos que estão à sua volta e testemunham a sua dor. Espelham realidades do hoje, razão pela qual Fekayamãle e a editora Palavra & Arte, quiseram “tirar essas realidades do lugar comum, e por vezes banal, a que são relegadas, trazendo-as acima, ao centro da mesa, para que fossem analisadas e despertassem [os leitores] para a urgência de se continuar a falar sobre direitos humanos para meninas e mulheres em Angola.”

Apesar de ter sentido falta de uma narrativa mais coesa em determinados textos, a contestação do sentir da mulher presente em cada um deles foi o que me cativou. Recomendo a leitura não só por ser um tema que merece a vossa atenção, mas também porque o livro acentua a “existência de jovens autoras, mulheres, na literatura contemporânea angolana”.

Obrigada Leopoldina Fekayamãle pela entrevista.