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RAFA G: “Quero levar o rap para outro patamar”

Rafa G
Rafa G | Foto: Janeth Tavares

Se há uma certeza indubitável no rap crioulo é o amor pela arte que estes rappers transpiram. A sua dedicação é quase palpável. Rafa G é mais um rapper que confirma o que acabamos de escrever. A BANTUMEN teve a oportunidade de entrevistar o artista na sua zona de conforto, no Vale da Amoreira, distrito de Setúbal, Portugal.

Rafael, aka Rafa G, faz rap há cerca de cinco anos. São cinco anos a cantar as suas verdades e o que sente.

Rafa G
Rafa G | Foto: Janeth Tavares

Friedrich Nietzsche, filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor alemão, uma vez disse que “sem a música, a vida seria um erro” e Rafa G encontra na arte das rimas e poesia a paz e o sossego da sua alma. Por onde passou encontrou-se com a música, Espanha, Irlanda e depois em Portugal. Fez dela sua companheira, mas foi depois da morte do seu primo Tixa que a levou mais a sério, encontrou nela uma forma de expressão.

O bairro onde vive é social, considerado perigoso por quem não conhece a realidade do mesmo. É lá onde sorri e gosta de estar com os seus e é de lá onde sai toda a inspiração para os seus temas, que têm alcançado milhões de pessoas em Portugal e fora.

“As pessoas não conhecem o lado bom. Eu sou divertido. Eles não conhecem esse meu lado, mais positivo. Tenho músicas que ainda não saíram e vão dar a oportunidade às pessoas para conhecerem um pouco de mim. O tempo que estou aqui [em Portugal] ainda não chegou para que me conheçam bem”, afirmou Rafa G.

A música não passa apenas por ser uma letra por cima de um instrumental que interage com os BPMs. É algo com sentimento, que vem de dentro, movido por algo. Para Rafael, o seu nome de registo, as coisam têm fluído de forma natural. Após a morte de alguém que lhe era importante, sem grandes intenções, pegou num papel e caneta e começou a escrever uma música. Algo que levou a sério e determinou o seu estilo de vida dali em diante.

Rafa G
Rafa G | Foto: Janeth Tavares

Entre sorrisos e os olhares atentos do bairro, confessou que o bairro é uma das suas grandes inspirações, assim como a sua família, mas o facto de se contentar com o pouco que tinha, fez com que quisesse tocar em todos os corações, que já passaram pelas mesmas experiências que ele, através da música. “Quero levar o rap para outro patamar e outros mercados”, frisou.

Em 2016, Rafa lançou a sua primeira mixtape intitulada “Marcas”, em que o single que a antevia, “Chicago”, falava das dificuldades que enfrentava e a luta diária para para vencer na vida, mas que ao mesmo tempo fazia uma comparação literal com a cidade de Chicago, em Illinois, uma das maiores cidades dos EUA, onde a taxa geral de criminalidade violenta é superior à média do país.

Numa altura em que o Vale da Amoreira passava por uma situação crítica, segundo os habitantes da freguesia, esta zona era o principal palco de confrontos entre traficantes de droga. Era também considerado o sub-mundo, onde as pessoas lutavam por coisas mínimas, onde as coisas negativas espreitavam à porta para depois aparecer sem pedir licença, e entrava nas casas de quem já que não tinha possibilidades de ter muito. Factores que culminavam muitas vezes com a vida do crime. Foi isso mesmo que Rafa G quis passar em “Chigaco”.

Rafa G
Rafa G | Foto: Janeth Tavares

Marcas foi uma mixtape importante para Rafa G. Foi o combustível para estar onde está e ir em busca de mais. “Quero motivar e sinto que neste momento sou uma das grandes influências para muitas pessoas e crianças, o que digo, falo e faço, tem muita influência na vida de muita gente. O que vejo aqui não é o que quero passar ao meu futuro filho, quero mostrar algo totalmente diferente da minha realidade. Quero marcar a vida das pessoas.”

A necessidade de mostrar trabalho árduo tem-lhe aberto portas. O rapper considera que não demorou para chegar onde chegou, mas que tudo depende do trabalho feito e da quantidade de lágrimas, sangue e suor que se está disposto a derramar pelo que se faz. “Quando se tem talento, não se pode exigir que as pessoas o vejam sem persistência e trabalho. Eu meti isso na minha cabeça: que tenho talento e que tinha de trabalhar e me esforçar e isso ia dar-me mais visibilidade, é isso que a gente está a fazer. Com uma equipa forte na back.”

A sua vida é uma “Correria” e a música uma demanda permanente do bem-estar e de partilha. Rafa G quer mostrar ao rap no geral em Portugal algo que nunca e ouviu antes, vibes diferentes, outro tipo de flow e drip. “Nós, enquanto rappers crioulos, não nos dão o devido valor quer seja no bairro ou outro sítio, mas principalmente no bairro. É mais fácil alguém de fora ver que és bom, ir aos teus shows e ver que estás a sobressair, do que quem te viu passar mal e a lutar desde o início.”

Rafa G
Rafa G | Foto: Janeth Tavares

Criticas” é uma reflexão e ao mesmo tempo uma mensagem para o bairro, “porque quando comecei e fiz o “Chicago”, fui alvo de muitas críticas. Disseram que não podia falar do bairro da maneira que falei, sem sequer me perguntarem o motivo ou significado. E hoje, já me param na rua e perguntam quando sai um som ou se podem ir comigo aos shows. Eu não digo nada, apenas passo para o papel. Porque o que é teu ninguém tira. Podem dizer ABC, mas está ali.”

Rafa G tem um círculo de amigos fechado, não lida com outros rappers que cantam em crioulo, apenas porque sente que os mesmos não se apoiam uns aos outros. Para Rafael é necessário mais união, mais motivação da parte de todos, uma vez que o rap em crioulo ainda não foi totalmente aceite. “Não nos podemos ver como concorrência, temos de elevar o nosso mercado, somos companheiros. Imagina na mesma faixa: Vado, Apollo e eu? Isso podia acontecer, mas não, mas devia. Quero poder ver mais à frente, por exemplo, numa gala de premiação do rap crioulo que todo o trabalho feito atrás valeu de algo”, explicou.

O rapper actuou no passado 19 de setembro pela primeira vez no Festival Iminente, onde fez questão de se entregar completamente ao público e mostrar a qualidade da sua música aos que acreditaram e aos que duvidaram. “Senti o calor do público. As pessoas estavam à espera de algo assim da minha parte”, explicou. Neste momento, além de lançar singles, Rafa G tem também um novo EP, Mister Muda Flow, que será lançado até ao final do ano, com participações dentro do rap tuga e do rap crioulo.

Vê abaixo a entrevista vídeo ao rapper da Margem Sul, Rafa G.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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