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61 anos depois, Bélgica devolve restos mortais (um dente) de Lumumba

Patrice Lumumba
Em sua partida do palais de la culture at Leopoldville, quarta-feira, 27 de agosto de 1960, após a conferência das Nações Africanas, o primeiro-ministro do Congo, Patrice Lumumba é mostrado de pé em um carro aberto e acenando para a multidão.(AP Photo)

O caixão de Patrice Lumumba chega esta segunda-feira, 27, a Kinshasa, depois de um intenso périplo nacional em homenagem à vida e luta do pai da independência congolesa.

No dia 20 de junho, depois de exactos 61 anos, cinco meses e três dias, a Bélgica devolveu à República Democrática do Congo – e sobretudo à família – os restos mortais do anti-imperialista e panafricanista Patrice Lumumba, fundador do Movimento Nacional Congolês (MNC) e líder na luta contra a dominação colonial belga.

Um dente de ouro dentro de um caixão é tudo o que resta ao Congo e aos congoleses para prestarem a devida homenagem a Lumumba. Com bandeiras a meia haste de norte a sul, o país está de luto até ao dia 30 de junho.

O presidente Félix Tshisekedi lidera o comité de recepção do caixão no Aeroporto Internacional de Ndjili, em Kinshasa.

O caixão passará por Sankuru (centro), a sua terra natal, Kisangani (nordeste), antigo reduto político do herói nacional e Haut-Katanga, local do seu assassinato a 17 de janeiro de 1961, e terá como destino final a capital Kinshasa, onde vai decorrer o enterro.

Do aeroporto até ao Palácio do Povo, sede do Parlamento congolês, serão prestadas homenagens por funcionários, convidados e população em geral.

Uma vida dedicada à libertação do Congo

Eleito em Maio de 1960, deputado pelo círculo eleitoral de Kisangani, foi em Kinshasa (antiga Léopoldville) que Patrice Lumumba foi nomeado Primeiro-Ministro, na sua qualidade de líder da coligação maioritária nas duas câmaras do Parlamento.

Mas foi com um discurso contra o racismo dos colonos belgas que o seu nome se popularizou a 30 de junho de 1960, tornando-se um ícone da independência africana. “Conhecemos as ironias, os insultos, os golpes que tivemos de sofrer de manhã, ao meio-dia e à noite, porque éramos negros”, declarou à revelia em Kinshasa, diante do rei Balduíno, o quinto da Bélgica, durante a cerimónia oficial do nascimento da RDC.

Segundo historiadores, este discurso acabou por selar o destino do nacionalista considerado “comunista” pelos seus detratores. O seu mandato à frente do governo do novo estado independente durou apenas 75 dias, de 30 de junho a 12 de setembro de 1960.

Quem mandou matar Patrice lumumba?

O seu governo foi neutralizado pelo presidente Joseph Kasa-Vubu e pelo chefe do exército Joseph-Désiré Mobutu, que instalou um novo governo interino composto principalmente por estudantes e poucos académicos congoleses.

Em prisão domiciliária, Lumumba conseguiu escapar à vigilância dos soldados e deixou Kinshasa por estrada para chegar ao seu reduto de Kisangani, onde familiares preparavam a resistência. Antes de chegar ao centro do país, Patricie lumumba foi descoberto e levado para Katanga, onde foi executado.

O assassinato foi orquestrado pelos belgas, “que dirigiram toda a operação de transferência de Lumumba para Katanga, assim como o seu desaparecimento do seu corpo”, pode ler-se em L’Assassinat de Lumumba, livro editado em 2000 pelo sociólogo belga Ludo De Witte. Em 2002, o governo belga reconhece a sua responsabilidade e, em 2007, documentos arquivados da CIA revelam a intenção dos Estados Unidos de Dwight D. Eisenhower de eliminar Lumumba – não necessariamente fisicamente – para evitar uma “virada do gigante africano para o comunismo” e uma ameaça aos seus interesses económicos, sobretudo no setor da mineração.

O corpo do diplomata, dissolvido em ácido, nunca foi encontrado. Décadas depois, um polícia belga envolvido no desaparecimento vangloriava-se nos meios de comunicação nacionais de ter em sua posse um dente de Lumumba, apreendido entretanto pela justiça, em 2016.

Depois do assassinato do líder da independência do Congo, em 17 de janeiro de 1960, vários partidários de Lumumba foram executados nos dias seguintes, com a participação de soldados ou mercenários belgas. Moïse Tshombé, presidente do então Estado de Katanga, lançou o boato de que Lumumba teria sido assassinado por aldeões, o que desencadeou uma insurreição entre a população camponesa, que pegou em armas sob a liderança de Pierre Mulele, ex-ministro da Educação, ao grito de “À Lumumba” ou “Mulele Mai”. Os aldeões conquistaram quase 70% do Congo antes de serem esmagados pelo exército de Mobutu, apoiado por mercenários belgas e sul-africanos.

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