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Para Que Fique Bem Escurecido, o manifesto de Uma Africana

Sandra Baldé | DR
Sandra Baldé | DR

Palavras ouvidas, pensadas, vividas, esquecidas, sofridas, revividas, questionadas, exploradas e redefinidas formam o Para Que Fique Bem Escurecido, de Sandra Baldé, @UmaAfricana que vive nas redes sociais para esclarecer que a sua existência é fundada no ser e não na tez.

Através do seu Instagram, Sandra mostra-nos uma jovem feminista, negra, dona de si e das suas escolhas mas o seu livro dá-nos a conhecer a origem desta sua versão, enquanto menina perdida num labirinto de julgamentos e armadilhas sociais ancorados no racismo.

Para este #MIA2022, falámos com a Sandra, que se descobriu autora aos seis anos – numa altura em que Beyoncé, depois da mãe, era a sua musa inspiradora -, quando escrevia sobre tudo aquilo a que a imaginação permitia. “Com seis anos era simplesmente poderoso poder pegar num lápis e criar um mundo só meu, com as minhas pessoas e decidir o destino de cada uma. Um bocadinho de mim estava em cada uma delas. Era o meu momento de paz, o meu jeito de sonhar”, diz-nos.

Nas suas próprias palavras, Para Que Fique Bem Escurecido é um manifesto que reúne cartas de amor redigidas a outras mulheres pretas. “É um livro sincero, íntimo e cru. Escrevi a pensar nelas e para elas. Mas é claro que toda a gente o pode ler”, sobretudo quando a leitura é acompanhada pela empatia de quem se coloca na posição da outra, desprovida de filtros e privilégios. “Embora seja um livro onde uso muito a ficção na narrativa, muito de mim está ali, em coisas que nunca tinha falado tão abertamente em qualquer outro lugar”.

Sandra viu-se diferente numa altura em que a sua perceção do mundo ainda não lhe permitia compreender que a exclusão não é um síndrome da sua existencialidade mas de quem a vê. “Percebi que era diferente muito cedo. E esforcei-me tanto para que vissem além da minha cor e da minha cultura que acabei por me anular. Eu não queria ser negra nem guineense, eu queria ser uma menina branca. Na minha cabeça era uma menina branca, nos meus desenhos só estavam crianças brancas. Mas não fazia muita diferença, afinal era e sou escancaradamente preta. Hoje com o maior orgulho, mas nem sempre foi assim”.

Com o passar do tempo, o apagamento da sua identidade deu lugar ao empoderamento e a experiência ditou-lhe que ser negra/o em Portugal é “praticamente um trabalho não remunerado”, com contrato vitalício – não estivessem os movimentos de extrema-direita a crescer a olhos vistos e a “tomar de assalto” a casa do povo [12 deputados eleitos em 2022, contra 1 em 2019 – assumindo a liderança da direita portuguesa, em consequência da retirada do CDS do parlamento e do PSD a assumir-se como centrista]. “Não há uma pessoa preta em Portugal com a qual tenha trocado impressões que não manifeste o cansaço. Não há como fingir que está tudo bem num país que nega desavergonhadamente que o racismo está intrínseco. E por isso, infelizmente, muitas vezes temos que ser nós por nós, firmes e vocais para que as coisas se desenvolvam a nosso favor”, explica a influencer e autora.

Mesmo assim, nem só de combates vive a experiência de Sandra. Inquieta-a sobretudo “ver a vida passar e não aproveitar todas as oportunidades”, afirma. “Sou uma pessoa apaixonada por tantas coisas e só gostaria de me desdobrar em cinquenta para conseguir dar conta de tudo.”

Para já, está focada na promoção do seu livro e está atenta aos comentários que lhe vão tecendo. “O feedback tem sido, até agora, muito positivo. Tenho recebido depoimentos muito emocionantes. E comprovo que por mais que sejamos tantas e de caminhos tão diferentes, a narrativa repete-se.”

No pouco tempo que vai tendo livre, Sandra dedica-se também à agência de marketing digital para criadoras e empreendedoras que fundou, a @boldndigital, e já está a preparar o seu segundo livro e um podcast.

Questionada se a sua experiência negra vai estar sempre no foco nos seus próximos projetos literários, a resposta é direta: “Acho que há muita coisa que ainda pode ser dita quando se fala de experiência negra e que não foi explorada neste meu primeiro livro. Mas estou desejosa por me aventurar em outros lugares. É algo que quero muito.”

Afinal, ao contrário do que acontecia com a menina que rabiscava estórias e que cantarolava Beyoncé num inglês duvidoso, hoje Sandra é “uma mulher mais tranquila e com uma mente muito mais saudável, focada e determinada”, pronta para abraçar as mudanças entre o medo.

Para adquirir o livro Para Que Fique Bem Escurecido, basta aceder aqui.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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