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No melhor ano do setor tecnológico da Europa, apenas 1,8% do capital foi investido em fundadores negros

A Europa se reafirma mais do que nunca como uma liderança mundial em tecnologia, mas como é o cenário desse mercado para pessoas negras? O Relatório sobre o Estado da Tecnologia Europeia 2021, um estudo divulgado pela Atomico no final do ano passado, revela o continente como uma potência, mas também o longo caminho pela frente até uma maior diversidade do setor.     

Pela primeira vez na história com números equiparáveis aos Estados Unidos, a indústria tecnológica europeia conta com um valor de 88 mil milhões de euros investidos em startups em 2021. O continente conta com 100 novos unicórnios (startups que possuem avaliação de preço de mercado no valor de mais de 1 bilhão de dólares), sendo dois deles de Portugal, contudo apenas 1,8% do capital foi angariado por fundadores negros. 

O estudo, que fez uma análise profunda sobre o panorama da indústria tecnológica em 45 países, aponta que “de uma amostra de 4.684 empresas de tecnologia sediadas na Europa que angariam mais de 1 milhão de euros em financiamento total desde 01 de janeiro de 2020, apenas 0,7% do capital total foi angariado por fundadoras mulheres negras e 1,1% por fundadores homens negros”. Globalmente, a tendência é de crescimento “mesmo num cenário conservador, esperamos que a tecnologia europeia pelo menos duplique na próxima década e que venha acrescentar biliões de euros em valor”. 

Apesar das evidências de que as equipes mistas e diversificadas apresentam um melhor desempenho, levantar dinheiro ainda é uma tarefa difícil para quem empreende, especialmente para minorias. Quando perguntados se era mais difícil hoje do que no final de 2020 levantar capital de risco na Europa, 26% dos fundadores mulheres e não brancos responderam que sim.  

Os líderes de tecnologia da Europa – especialmente os jovens – são positivos sobre perspectivas do continente. Mas ainda existem barreiras que podem impedir fundadores de origens sub-representadas de mergulhar no empreendedorismo. Pelo menos metade das pessoas não brancas ouvidas sentem que o mercado não está a oferecer oportunidades iguais para pessoas racializadas. A discriminação ainda é muito comum no ecossistema tecnológico europeu. Quando questionados se haviam sofrido alguma forma de descriminação nos últimos doze meses, cerca de 50% dos entrevistados que se identificam como negros responderam que sim.

No que diz respeito às lideranças dessas empresas, apenas 8% delas foram fundadas por pessoas não brancas. Dentro dessa minoria étnica, as mulheres negras são as menos presentes nas posições de fundadoras e de lideranças. O estudo também traz a perspectiva de que fundadores negros são frequentemente sobre orientados e subfinanciados, o que os obriga a se autofinanciarem na maioria dos casos. No Reino Unido, por exemplo, 88% dos fundadores negros financiaram pelo menos uma parte do seu capial de risco. 

O estudo também analisou uma amostra de empresas e equipas fundadoras que levantaram um total de 139 bilhões de dólares ao longo de sua jornada até hoje, e revelou que a esmagadora maioria desse dinheiro foi para fundadores brancos. Do total de financiamento, 104 bilhões foram captados por equipes fundadoras totalmente brancas, 34 bilhões foram arrecadados por equipes com fundadores de várias etnias, e apenas 1,8 bilhão foi arrecadado por equipes lideradas exclusivamente por minorias étnicas. Um dos possíveis motivos apontado seria a falta de diversidade ao longo dos anos, já que as empresas estabelecidas há mais tempo são mais propensas a ter equipes fundadoras totalmente brancas e capturar uma maior parcela do financiamento total por meio de rodadas maiores. Além disso, revelou que para empresas com maior diversidade em suas lideranças, é mais fácil levantar capital no início da sua jornada do que em outros estágios mais avançados.

Ainda no que diz respeito à arrecadação de capital, fundadores que obtiveram investimento em 2021 foram questionados sobre quais circunstâncias pessoais eles acreditam que os ajuda ou atrapalha mais na hora de conseguir investimentos. Pertencer a qualquer tipo de minoria foi apontado entre os participantes como tendo impacto negativo. Para mulheres e pessoas racializadas, também foi apontada a dificuldade em ter acesso a contatos e redes de investidores.

Segundo Eric Collins, CEO da ImpactX, há uma proliferação de treinamentos para incubar empresas com fundadores negros e no último ano três fundadoras negras levantaram pelo menos 1 milhão de libras. Contudo, ele acredita que são necessários mais “GPs negros e outros sub-representados com poder e bolsos para tomar decisões de investimento. Pessoas de cor e outras pessoas sub-representadas incapazes de alocar fundos dentro de fundos generalistas não é a resposta. Fundos generalistas sem conexões particulares em redes sub-representadas ou experiência de sucesso ao  apoiar empresários sub-representados não é a resposta.” 

Embora não seja idêntica, a Craft compartilhou uma análise realizada por eles em empresas durante rodadas intermediárias de investimento na América do Norte e Europa. A América do Norte apresenta uma parcela maior de equipes fundadoras diversas, com 19% delas tendo pelo menos um fundador negro ou de uma minoria étnica. Da mesma maneira, a composição da equipe para empresas unicórnios é, em média, menos diversificada, com apenas 10% das equipes tendo pelo menos um fundador negro ou de uma minoria étnica – embora ainda seja duas vezes maior do que na Europa.

A pesquisa completa pode ser lida aqui.

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