São cerca de 40 mil os refugiados africanos radicados em Israel em risco de serem expulsos, depois de escaparem a uma morte quase certa nos seus países de origem – Sudão e Eritreia – e durante a própria fuga.
Os violentos conflitos no Darfur, do Sudão do Sul e da Eritreia, são o motivo pelo qual cerca de 40 mil pessoas atravessaram o deserto do Sinai, entre 2008 e 2012, sobreviveram à dureza do percurso a pé, debaixo de temperaturas impiedosas e à ameaça dos grupos mafiosos que viram no rapto destes africanos uma fonte de rendimento, para chegarem à “Terra Santa” onde lhes é negado o estatuto de refugiados.
Se a definição de refugiado só obteve consenso internacional depois do mundo ficar em choque com as atrocidades do Holocausto, ironicamente, Israel é o país que menos asilos concede no mundo.
Estes 40 mil refugiados são na sua maioria cristãos em fuga das perseguições de extremistas islâmicos, o que confere à situação teor discriminatório e, portanto, uma violação de todas as convenções internacionais que Israel ratificou.
Em 2012, o ministro da Administração Interna, Eli Yishai, dizia: “Até conseguir ter a possibilidade de os deportar, vou prendê-los e tornar as suas vidas miseráveis.”
Até ao dia 2 de abril, o governo israelita colocou em marcha um plano de deportação iniciado em 2015: 3500 dólares e entrar num avião. Foi assim que quatro mil destes africanos viajaram para “terceiros países”, como o Ruanda e o Uganda, com Israel a descartar, a partir daí, quaisquer responsabilidades pelo seu bem-estar.
Depois de no início do ano, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter dito que outros 40 mil africanos residentes no sul de Telavive teriam o mesmo destino, 25 mil pessoas saíram para às ruas de Telavive no dia 24 de março para, em conjunto com a pressão internacional, levar Netanyahu repensar o tratamento que o seu país tem dado aos refugiados. Na última década, foi apenas concedido asilo a oito cidadãos da Eritreia e a dois do Sudão. É a taxa mais baixa do mundo de respostas positivas em processos deste tipo, abaixo de 1% (por comparação, a média europeia na aprovação de eritreus como refugiados situa-se nos 86 por cento).
Netanyahu cedeu, cancelou o processo de deportação e assinou um assinou um acordo com as Nações Unidas que iria permitir recolocar 16 mil sudaneses e eritreus no Canadá e na Europa. O acordo durou… 24 horas. Acusado de ser “mole”, “fraco” e “ingénuo” por todos os líderes de direita, o chefe do executivo israelita não aguentou a pressão interna que ameaçava deitar o governo abaixo.
70 anos depois de um dos actos atrozes de racismo que o mundo mais recorda, judeus escrevem nas ruas da sua capital: “Africanos, voltem para a vossa terra”. “Infiltrados” é o nome que todos os não judeus recebem e como disse Netanyahu, depois de romper o acordo que tinha acabado de ratificar: “Hoje são 60 mil, amanhã já tiveram filhos e netos e são 600 mil”, o que se tornaria numa ameaça a um Estado maioritariamente judeu, no futuro.
Num pequeno à parte, se o muro de Donald Trump entre os EUA e o México chocou o mundo, desde 2012 que Israel construiu um muro de segurança ao longo de todo o deserto para reduzir o fluxo de migrantes.