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O nosso Top 5 de filmes lusófonos de 2022 e o top 10 dos últimos 20 anos

Por aqui, ainda estamos em tempo de balanços e de determinar as listas do melhor que vimos e ouvimos em 2022. Desta feita, questionámos algumas pessoas ligadas à indústria cinematográfica sobre quais os melhores filmes em português, feito por ou com afrodescendentes, que viram este ano e ainda que títulos consideram o top 10 filmes lusófonos destes primeiros 20 anos do século XXI. Para completar esta missão, tivemos o apoio de Matamba Joaquim, ator, argumentista e escritor angolano, Welket Bungué, ator, argumentista e realizador luso-guineense, Mirian Vanda, membro da equipa da produtora angolana Geração 80 e Lolo Arziki, cineasta cabo-verdiana e ativista pelos direitos LGBTQIA+.

Salientamos que a ordem de cada lista não obedece a qualquer critério.

Top 5 filmes Lusófonos de 2022

Mistida – É o título do filme de fim de curso de Falcão Nhaga, realizador luso-guineense, e foi um dos selecionados a estar no IndieLisboa 2022, assim como no festival de Cannes do mesmo ano. Foi a segunda vez na história da competição francesa que Portugal foi representado na secção Cinéfondation, uma secção competitiva dedicada a produções de escolas de cinema de todo o mundo. Para este 2023, a película já foi anunciada como parte da programação do festival de Clermont-Ferrand deste ano. O filme retrata o tempo, “de como afeta o nosso corpo; a nossa família; o modo de como vemos as coisas; o que significa para as nova gerações, como também o tempo atua no espaço em que vivemos”. A história centra-se no diálogo de uma mãe imigrante que partilha alguns momentos de experiências da vida com o filho. No caminho para casa, carregados com sacos de compras, ambos conversam sobre o futuro, com base nas experiências do passado que acabam por, naquele momento, trazer à tona algumas amarguras e alegrias.

Nossa Senhora da Loja do Chinês – É a primeira longa-metragem de Ery Claver, onde nos convida a ver várias camadas e vários lugares da cidade de Luanda. Ery faz questão de abordar temas sociais, como o abuso de poder, a estratificação no país e também as emoções não expressas verbalmente pelas personagens principais do filme. Nossa Senhora da Loja do Chinês é o segundo longa-metragem produzido pela produtora audiovisual e independente Geração 80, com prémios ganhos em diversos festivais internacionais de cinema.

Medida Provisória (2022) – A película de Lázaro Ramos foi uma das mais assistidas no cinema, no Brasil, em 2022. Num futuro distópico, o governo brasileiro decreta uma medida provisória, com o objetivo dúbio de reparação pelo passado escravocrata. O Congresso aprova uma medida que obriga os cidadãos negros a migrarem para África na intenção de retornarem às suas origens. A medida afeta diretamente a vida do casal formado pela médica Capitú (Taís Araújo) e pelo advogado Antonio (Alfred Enoch), bem como a do primo, o jornalista André (Seu Jorge), que mora com eles no mesmo apartamento. Nesse apartamento, os personagens debatem questões sociais e raciais, além de compartilharem anseios que envolvem a mudança de país. Vendo-se no centro do terror e separados por força das circunstâncias, o casal não sabe se conseguirá se reencontrar.  O longa é uma adaptação de “Namíbia, Não!”, peça de Aldri Anunciação que o diretor e ator Lázaro Ramos dirigiu para o teatro em 2011.

Fado Menor – De Salvador Alejandro Gutierrez, Fado Menor fala de dois imigrantes que tentam reconciliar os seus problemas amorosos enquanto perambulam pelas ruas escuras de Lisboa. Pelo caminho, recordam-se um estranho encontro de confrontação com a sua sexualidade, num bar de fado.

Solmatalua – do realizador brasileiro Rodrigo Ribeiro-Andrade, Solmatalua é odisseia afro-diaspórica, onde entre divindades, paisagens, becos e vielas passamos nas encruzilhadas do tempo. Com uma constelação de vozes e presenças negras, Solmatalua percorre um vertiginoso itinerário entre territórios ancestrais e contemporâneos. Nessa jornada mística, as composições sonoras e imagéticas celebram as poesias pretas que ancoram memórias e descobrem futuros.

Top 10 Filmes Lusófonos dos últimos 20 anos

Cidade de Deus (2002) – Com a realização de Kátia Lund e Fernando Meirelles, Buscapé (Alexandre Rodrigues) é um jovem pobre, negro e muito sensível, que cresce num universo de muita violência. Buscapé vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a possibilidade de se tornar um bandido, Buscapé acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão. É através do seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o dia-a-dia da favela onde vive, onde a violência aparenta ser infinita.

Nha Mila (2020) – Após 14 anos longe da sua terra natal, Salomé é obrigada a voltar para Cabo Verde para ver o irmão moribundo. Durante a escala no aeroporto de Lisboa, Águeda, uma emprega de impeza, reconhece Salomé como “Mila”, a sua amiga de infância. Águeda convida Salomé a deixar o aeroporto e a passar a escala em sua casa, com as mulheres da família. O bairro transporta-a numa jornada espiritual, cujo destino desencadeia um vínculo doloroso com a sua terra natal.

Virgem Margarida (2014) – O enredo do filme de Licínio Azevedo acontece em Moçambique, em 1975. A revolução tira das ruas as prostitutas, que são enviadas para um campo militar de “reeducação”. Entre elas está a adolescente Margarida, 14 anos, levada por engano enquanto estava a comprar artigos para o seu enxoval de casamento. Quando se descobre que afinal a jovem Margarida não mentia quando dizia que era virgem e estava ali por engano, a sua vida passa por uma reviravolta.

O Fim Do Mundo (2020) – um filme dramático escrito e realizado pelo luso-suíço Basil da Cunha, conta o regresso de Spira, um jovem de 18 anos, no seu antigo bairro da Reboleira, depois de ter cumprido uma pena de oito anos numa casa de correcção. Já homem, Spira reencontra a família, os amigos de infância e a terra onde cresceu. “Aqui não há miséria, só há dificuldades”, é o que se diz na Reboleira. Para Spira, a principal dificuldade chama-se Kikas, o velho traficante do bairro que parece decidido a fazer-lhe saber que não o considera bem-vindo.

República di Mininus (2012) – Filme do realizador Flora Gomes, com produção portuguesa e co-produção francesa, que conta com a participação especial do ator norte-americano Danny Glover. O argumento conta a história de, num país em guerra, assustados pelas tragédias que eles próprios provocaram, os adultos desaparecem, abandonando as crianças à sua sorte. Para conseguirem sobreviver a esta nova realidade, serão obrigados a unir-se. E assim surge A República di Mininus, onde o polícia, político, médico, patrão e empregado são apenas crianças. Nesta nova sociedade, a união, respeito e harmonia são palavras de ordem, mas subitamente a paz instituída é quebrada quando cinco crianças soldados chegam à República di Mininus. Trazem consigo passados difíceis e atitudes conturbadas, e são obrigadas a passar por uma prova imposta pelos meninos da nova sociedade: ou se aceitam uns aos outros como um grupo, ou terão de partir novamente para um mundo sem esperança, onde a sobrevivência é algo que não existe.

Mwana Nketo (2021) – de Satanha Cinéfilo, tendo ganho o prémio de cinema nacional Unitel Angola Move, Mwana Nketo é uma referência chave do cinema angolano que teve grande destaque assim que saiu no mercado cinematográfico. O filme aborda a história de uma pequena aldeia, onde uma jovem de 18 anos e um rapaz de 21 apaixonam-se, mas a diferença de etnias torna difícil esse amor. Contra tudo e todos, o casal vai fugir para outra aldeia mas o peso das tradições vai ter consequências nefastas na sua relação.

Vitalina Varela (2020) – Filme de Pedro Costa, teve estreia mundial em agosto de 2019, no Festival de Cinema de Locarno (Suíça), onde arrecadou os principais prémios: Leopardo de Ouro e Leopardo de Melhor Interpretação Feminina para Vitalina Varela, a mulher que inspirou o enredo. Com mais de duas dezenas de prémios arrecadados, integrou mais de 50 festivais e mostras internacionais de cinema e reúniu críticas elogiosas, tendo integrado as listas de melhores filmes do ano (2020) por vários media especializados. A película chegou ainda à lista de possíveis nomeados aos Óscares de 2021.

Ar Condicionado (2020) – Primeira longa-metragem de ficção realizada por Fradique e com produção da Geração 80, teve a sua estreia mundial em janeiro de 2020 no Festival Internacional de Cinema de Roterdão e já conta com pelo menos dez participações noutros festivais de renome internacional e de uma nomeação ao Luxor African Film Festival, entre outros prémios. A história centra-se quando os ares condicionados começam misteriosamente a cair dos apartamentos na cidade de Luanda, Matacedo e Zezinha, um guarda e uma empregada doméstica, tem a missão de recuperar o aparelho do chefe. Essa missão leva-os à loja de materiais eléctricos do Kota Mino, que está a montar em segredo uma complexa máquina de recuperar memórias. Ar Condicionado é uma jornada de mistério e realidade, uma crítica sobre classes sociais e como nós vivemos em conjunto nas esperanças verticais, no coração de uma cidade que é passado-presente-futuro.

Madame Satã (2002) – Filme franco-brasileiro de 2002, do gênero drama biográfico, dirigido por Karim Aïnouz e escrito por ele. É baseado na história real de João Francisco dos Santos (1900-1976), interpretado por Lázaro Ramos mais conhecido pelo nome de Madame Satã. Ele era um homem negro de 1,78 metros e 88 quilos de músculos. Por sua vez bandido, travesti, lutador de rua, cozinheiro, herói, presidiário e pai de sete filhos adotivos. Satã passou a maior parte dos anos nas ruas quentes da Lapa, no Montmartre dos trópicos, na boemia do Rio.

Branco Sai, Preto Fica (2015) – A produção de Adirley Queirós venceu 11 prémios no Festival de Brasília de 2014, entre eles o de Melhor Filme, e foi selecionado em vários festivais internacionais, colocando a paisagem escura, suja e incompleta da Ceilândia, cidade natal do diretor, em foco. O título, explicado logo no início do filme, faz referência à ordem dos policias quando invadem o Quarentão: “Puta prum lado e viado pro outro! (…) Tô falando que branco pra fora e preto aqui dentro! Branco sai e preto fica, porra!” Eram os anos 80, mas podia perfeitamente ser 2022.

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