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$tory Teller, um “Bordel” linguístico do Congo em Portugal

$tory Teller

$tory Teller nasceu em Kinshasa, no Congo, cresceu entre a Guiné-Bissau e os Estados Unidos e vive atualmente em Portugal. Foi nestas geografias que bebeu os ingredientes necessários para enriquecer a música que faz, criando uma mixórdia cultural orelhuda.

Fã confesso de Michael Jackson e, desde cedo, influenciado por grandes nomes da cultura Hip-Hop, como Wu-Tang, Notorious BIG, DMX e sobretudo 2PAC, $tory Teller é um rapper versátil e um compositor astuto. Na verdade, é redutor chamar-lhe apenas rapper, considerando os diferentes estilos que incorpora e mistura, desde hip hop, dancehall, funk Brasileiro e rumba Congolesa.

O facto de ser poliglota faz com que a sua música flua facilmente entre o português, francês, lingala e inglês, como podemos ouvir em “Bordel” (que significa confusão, traduzido do francês), o seu último single, disponibilizado no YouTube já com videoclipe.

A nível pessoal $tory Teller é uma pessoa tímida, reservada mas brincalhona. “Sou uma pessoa simples e complexa ao mesmo tempo, meio misterioso às vezes, mas um amor de pessoa se estás comigo. Às vezes demasiado sério – ouço isso muito – mas é normal, a minha vida não foi brincadeira”.

Abaixo, podes ler a entrevista com o artista, onde vais descobrir esse seu percurso duro e o que tem feito.

Fala-nos sobre a tua infância.

Nasci em Kinshasa, na República Democrática do Congo, mudámo-nos para a Guiné-Bissau quando eu tinha três meses de idade, ficámos lá três anos, mudámos entretanto para Nova Iorque, onde ficámos também três anos e viemos depois para Lisboa. Tive um início de infância muito bom. Tive a oportunidade de poder estudar na escola francesa cá, mas entretanto a minha mãe faleceu quando eu tinha nove anos. Aí, tudo mudou. A minha mãe era o pilar e mal ela nos deixou, as condições de vida também mudaram. Ficámos sem dinheiro; mudanças de casa frequentes; problemas com os documentos… Enfim, um hustle constante.

Depois de três anos em Nova Iorque, por que se mudaram para Lisboa?

Mudámos devido ao trabalho do meu pai. Uma vez que ele era funcionário numa instituição Internacional, e como ele mudou de carreira, na altura não pensava evoluir nos Estados Unidos e escolheu três países onde ele já tinha estado. Portugal foi o primeiro a conceder-nos o visto, então viemos.

Como é que começaste a fazer música?

Crescendo, eu era (e ainda sou) fã do Michael Jackson. Não sabia como mas queria deixar a minha marca na música e no mundo como ele. Em paralelo, um amigo do meu irmão mais velho fez-me descobrir o rap, desde Wu-Tang, Notorious, DMX, Snoop e 2Pac. A música do 2Pac falou comigo, sobretudo, na altura em que as cenas em casa estavam complicadas, tipo falta de luz, de comida e etc.

Tinha um leitor CDs portátil, que a minha tia tinha-me enviado de França, o meu pai desenrascava-se para trazer-me pilhas e passava a vida ouvir 2Pac. Foi assim que comecei a escrever. Tinha um caderno onde escrevia tudo o que estava a viver, escrevia poesia – algumas que oferecia às miúdas na escola e elas curtiam. Daí, tinha um amigo, o Iminente que também curtia de rap, aos 15 anos ele tinha material para gravar em casa, também fazia beats, e tinha mais dois amigos que também faziam beats, o Nassah e o MWG. Foi nessa altura que gravei os meus primeiros sons, no kubiko do Imi.

Como te caracterizas como músico?

Sou um rapper que gosta e cresceu a ouvir músicas de estilos diferentes e que acaba por criar sonoridades diferentes misturando dancehall, funk Brasileiro e rumba Congolesa. Escrevo rap, mas também escrevo canções, sou artista (risos).

Sobre os teus projetos, fala um bocado do processo criativo de Crystal Don e do EP Lisbon City Finest.

O Crystal Don é tecnicamente o meu primeiro projeto, uma mixtape que lancei em 2014 por pedido de uns amigos que tinham saudades de ouvir os sons que lançava na altura da escola. Então reuni as melhores faixas que tinha e fiz a mixtape. O Lisbon City Finest foi o meu primeiro projeto sério, em plataformas, e com os meus primeiros videoclipes. Foi com esse projeto que consegui começar a espalhar o meu nome , aparecer na tv e tal. Nasceu, na verdade, depois de um período em que passei muito tempo sem documentos e, na altura, não conseguia arranjar trabalho. Passei muito tempo com um amigo a seguir a carreira dele, que já era mais evoluída do que a minha e a ajudá-lo no que ele precisava. Enfim, chegou a uma altura em que tinha de pensar em mim, nos meus sonhos e na minha carreira, porque isto para mim é um sonho desde miúdo. E, além disso, é a minha forma de poder ajudar a minha família no futuro, espero eu.

Uma vez que consegui resolver o meu problema de documentos, arranjei um trabalho de lado e, pronto, estava na altura de me lançar. Foi assim que nasceu o Lisbon City Finest. Nessa altura ouvia muito o artista A$ap Rocky, então, sentes um pouco essa vibe no projeto logo na intro “Green”, que é o meu primeiro vídeo .

Foi gravado na maior parte no estúdio de uma associação, “Intendarte”, no Intendente (Lisboa). Os beats foram produzidos pelo Cláudio Ramos a.k.a Last Vibes. Ele descobriu o meu trabalho na net e quis bulir. Ele e o Chrys (o seu melhor amigo) é que fizeram os vídeos para esse projeto, tirando o video “Sex, Sun & Drugs”, com o Mc Zuka, e que foi filmado pela equipa do “Intendarte”. Lancei o projeto algures entre 2017 e 2018.

Para este ano, o que tens preparado?

Estou a trabalhar no meu álbum de estreia. Ainda não tenho data prevista, mas vou lançando singles até la. Este ano vamos ver quantos. No final de 2020, lancei o vídeo “Bordel”, que é o primeiro single oficial do álbum. Agora, estou a trabalhar no que vem a seguir. Aos poucos chegamos lá. Já não estou com pressa.

Também vais misturar vários estilos nesse álbum?

Essa é uma das razões pela qual o álbum ainda não está pronto, porque ia ser um álbum 100% rap, mas entretanto, conheci uns produtores do Congo Brazzaville, que gostaram da minha cena e , sejamos honestos, não há muitos congoleses por cá. Pelo menos declarados como tal (risos). A gente juntou-se e eles é que me trouxeram os sabores todos que me faltavam para poder plenamente exprimir tudo o que queria, com dancehall, afrobeat, kizomba e funk Brasileiro.

Sobre as línguas que falas, fazes a mistura constante das mesmas? Como manténs a tua originalidade?

Eu faço as músicas consoante o meu feeling. Algumas podem ser 100% em português, outras francês ou inglês ou faço uma mistura. Mas neste momento, estou a explorar mais essas misturas. Fiz isso no meu último single e o feedback foi crazy.

A originalidade é ser eu próprio e estas misturas de língua para mim fazem sentido por vários motivos. Cresci assim. As minhas línguas maternas são o francês e o Lingala. O inglês foi uma língua que aprendi bastante novo e o português estamos em Portugal, então fiz um esforço de também poder escrever em português.

Na escola, os meus amigos também eram poliglotas então não é estranho para nós passar do francês, meter uma beca de português e o inglês para o amigo que não fala nenhuma das duas outras línguas, you know?
           
 E faz parte das minhas origens. Quando faço essa mistura, chamo isso de “Bakongo Music”. É o meu estilo e acaba por ser uma homenagem às minhas origens, uma vez que quem conhece a nossa história sabe que Angola, República do Congo e a República Democrática do Congo sempre tivemos uma ligação forte, uma vez que as nossas origens e histórias se cruzam.

O que faço é a música que atravessa fronteiras e une pessoas e que tem tido um ótimo feedback. É música das fronteiras, música sem fronteiras.

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