Procurar
Close this search box.

Tristany, a música sem lugar e para quem quiser sentir

Tristany

Música ambiente, amigos e um parque no Cacém, linha de Sintra. Foi assim que começou a conversa com Tristany, o rapaz que quer “fazer sentir”.

Filho de pai angolano e mãe portuguesa com misturas castelhanas, Tristany começa por explicar a origem do seu nome.

 “Tristany é o nome da minha mãe, e desde pequeno que me chamam isso.”

As sonoridades africanas nunca foram mistério na sua vida. Em casa ouvia porque o pai, Firmino Pacoal, era músico e tinha um projeto que se chamava ‘World Music.’

Na rua diz ter ouvido também “muita kizomba, semba e funaná”.

Cresceu na linha de Sintra, num ambiente em que o núcleo africano fazia-se sentir, onde a cultura cabo-verdiana também era a angolana ou guinense. Uma sub-cultura sem dono e sem muitos dilemas mas sem romantizar”, diz Tristany.

Tristany

“A cultura onde vivi desde criança, a minha sub-cultura foi a mistura de culturas em que estou inserido como por exemplo a cabo-verdiana, guineense e angolana.”

Considera-se cabo-verdiano porque cresceu num meio frequentado maioritariamente pela comunidade cabo-verdiana, e até utiliza algumas expressões em crioulo nas suas músicas.

“Eu acabo por ser cabo-verdiano, eu sinto-me culturalmente e afeta-me bué esta cultura que partilhamos”.

Desde novo que via o irmão do amigo a fazer rap na zona onde cresceu, daí comecou a fazer o mesmo com o seu grupo chamado Monte Real.

Rapepaz“, que tem 17 mil visualizações no YouTube, foi a sua primeira música a solo, onde faz uma “pequena reza” aos rapazes da zona. O termo é normalmente utilizado para descrever um parceiro, amigo e a sua música é um apelo contra a masculinidade tóxica.

“Um rapaz por trás da armadura esconde sentimentos e um  ‘rapepaz’ é isso”, explica Tristany.

“A musica é para mulheres e homens, porque as mulheres também vestem este fato”

“Nós somos bué marterizados desde pequeninos. Censuramo-nos a nós mesmos, tipo no amor, nossentimentos, cultivamos inveja, cultivamos ciúme, e é tudo por questões de defesa. E, às vezes, isso acaba por ser mau porque nos magoa, vai-nos apodrecendo por dentro”.

 Apesar de ser uma expressão mais utilizada para descrever um rapaz, este termo também pode ser utilizado para mulheres. “Fiz a música para os dois, a musica é para mulheres e homens, porque as mulheres também vestem este fato”.

Tristany idealiza o hip-hop, sente que é “uma cultura, um lifestyle, e que é uma das melhores coisas que aconteceu para o povo negro ou afrodescendente”.

Contudo, a sua música faz questionar quais são as suas influências. Ao ouvido, é difícil distinguir o estilo músical, é uma vibe experiemental com um pouco de rap e sons de guitarra.

“Há músicas e culturas em que eu vou beber e acabo por ser influenciado e que não era justo dizer, ok, isto é hip-hop. Vem bué do hip-hop, mas eu sinto que é uma situação que não sou só eu que estou a criar, mas o espaço todo está a fazer com que esta musicalidade e que esta introspectiva exista”.

Outra música que também merece destaque é “O Menino que Brincava com Bonecas”, que retrata a desconstrução de pensamentos mais arcaicos, à construção do respeito pelas mulheres.

“Estava numa altura bonita da minha vida em que estava a descobrir-me e idealizava uma mulher ou um ser fantasiado, sonhava com uma pessoa ideal e depois tentava procurar noutros seres e não encontrava e acabava por magoar esses seres.”

Para o futuro, o cantor quer “transformar e criar” porque a sua música “vem de um lugar, mas não tem lugar.”

Tristany não impõe barreiras nem limites no seu processo músical e “aquilo que sentir eu vou fazer, se for preciso fazer um feat com um gato, ia ser fixe”.

Também quer transmitir sentimento, seja ele negativo ou positivo, mas admite que tudo no futuro é inesperado porque “estou-me a construir a cada dia.”

Tem as suas músicas no SoundCloud, mas é no YouTube que mais se revela.

O seu último video publicado é uma versão live da música ‘Mô Kassula’, que já tinha sido públicada há um ano.

‘Mô Kassula’ foi criado em homenagem a um amigo que faleceu, e com isso decidiu fazer recentemente uma versão live como uma forma de diversificar as suas sonoridades.

O seu objetivo é atrair pessoas ‘di zona’ mas, essencialmente, Tristany é para “as pessoas que quiserem sentir”.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

Recomendações

Procurar
Close this search box.

OUTROS

Um espaço plural, onde experimentamos o  potencial da angolanidade.

Toda a actualidade sobre Comunicação, Publicidade, Empreendedorismo e o Impacto das marcas da Lusofonia.

MAIS POPULARES