Filipe Bragança, realizador do aclamado filme brasileiro Animal Amarelo, numa parceria com o Teatro Griot e Catarina Wallenstein, estão em Berlim para apresentar uma performance visual e teatral em torno das memórias do Massacre de Mueda, ocorrido em Moçambique, em 1960, e numa homenagem ao cineasta moçambicano Ruy Guerra.
O Massacre de Mueda aconteceu a 16 de junho de 1960, na vila de Mueda, em Cabo Delgado, e foi um dos últimos episódios da resistência dos moçambicanos à dominação colonial portuguesa, antes do desencadear da luta armada de libertação nacional. Dados do governo moçambicano apontam que, pelo menos 600 pessoas – que reivindicavam pacificamente o fim da subjugação colonial – foram assassinadas a tiro pelo exército português.
A ficção científica, fábula e documentação misturam-se assim em Trópicos Mecânicos (Mueda), uma performance visual e teatral encenada por Filipe Bragança, com inspirações no afro-futurismo e no tropicalismo brasileiro, numa homenagem a Ruy Guerra, realizador da película Mueda, Memória e Massacre (1979-80).
No fillme, Ruy Guerra reflete sobre os acontecimentos de 1960 em Mueda, retratando a forma como o massacre estava ainda na memória dos moradores da pequena cidade, no norte do país africano. O mais peculiar foi descobrir que os moradores da região encenaram durante décadas um teatro de rua que recriava o dia do massacre, como uma forma de expurgar o trauma e refletir sobre o seu passado. Agora, Felipe Bragança revisita a memória colonial para propor um imaginário pós-colonial reinventado, onde outros futuros são possíveis.
Matamba Joaquim, Zia Soares, Gio Lourenço, Catarina Wallenstein e Daniel Martinho são os atores que vão levar a performance ao palco Arsenal Cinema, em Berlim, nesta quarta-feira, às 22 horas.
De 1 a 3 de outubro, Trópicos Mecânicos (Mueda) vai também estar em exibição na Academia Almadense, em Almada (Portugal). Os bilhetes podem ser adquiridos aqui.
Equipa BANTUMEN
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