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O projeto Turbante-se vai estar em Lisboa para partilhar conhecimento e ideias

Thaís Muniz

Desconstruir o nosso visual celebrando as nossas raízes tem sido um debate bastante presente nos dias de hoje dentro da comunidade afro-descendente. Usar o cabelo natural ou indumentárias de pano tradicional africano já não são práticas desdenhadas e estão cada vez mais em voga, tal como o uso de turbante ou lenço.

Foi assim que a baiana Thaís Muniz começou a ganhar destaque numa sociedade brasileira carregada de ancestralidade africana que começa agora a ser cada vez mais valorizada. A jovem empreendedora é a criadora da marca Turbante-se, conhecida pelos seus tutoriais em vídeo que ensinam como amarrar um turbante, divulgados nas redes sociais.

“A ideia de criar o Turbante-se surgiu a partir das experiências que eu tinha cada vez que estava usando um turbante, nas mais diferentes ocasiões e locais. Acabava sempre sendo um elemento que fazia as pessoas se comunicarem comigo de alguma forma. Olhares, sorrisos, cara de estranhamento, curiosidade, e as mulheres e meninas que vinham perguntar como eu tinha feito para ficar daquele jeito, e que eu devia ensinar, fazer uma aula, porque elas adorariam aprender a fazer.”

Com a repetição dos mesmo pedidos e conselhos, Thaís decidiu que estava na hora de fazer algo. Surgia assim a primeira aula ao vivo. “Resolvi fazer essa primeira turma para ver como rolava, e foi uma experiência que eu jamais vou esquecer: todas as mulheres estavam se sentindo tão bem, tão bonitas, tirando vários selfies. E eu não sabia direito o que estava fazendo. Eu não tinha a consciência social e politica que tenho hoje. Mas aquela primeira experiência foi muito especial, e me motivou a continuar. Porém eu tinha ensinado apenas as formas práticas de amarrar um turbante e aí quando fui organizar o próximo, tentei encontrar mais informações sobre a história dos turbantes, mas tudo que eu encontrei na Internet era superficial e principalmente quando se referia a história e os significados dos turbantes no Brasil, e especificamente na Bahia, de onde eu sou.”

Aquilo que pareciam simples aulas sobre como fazer um nó num turbante, acabou por se tornar numa descoberta sobre si mesma, o seu passado, a sua ancestralidade, rumo a uma nova consciência social. “Essa busca pela história, as razões, os significados e essa pesquisa tem-me acompanhado há seis anos, onde sigo coletando informações, fazendo os workshops e performances de contato por onde viajo.”

E a inspiração chega de todos os lados, principalmente das mulheres da diáspora. “Eu quero de fato ser uma pessoa que empodera essas mulheres e homens negros, que faz elas se sentirem mais bonitas, mais fortes, mais conectadas com essa ancestralidade que foi tão negada durante anos por conta desse racismo que seguimos experienciando.”

Turbante-se começou em Salvador, Bahia, em 2012. Atualmente, Thaís encontra-se a viver em Dublin na Irlanda, onde deu continuidade ao projeto, que “tem esse caráter fluído, que se movimenta por vários espaços e ambientes”.

E Thaís continua: “Aqui na Europa tem sido bem interessante também, inclusive pela possibilidade de transitar mais facilmente para outros países e também para conseguir organizar projetos que estão pulando para sair da caixa, como a série de documentários sobre a história dos turbantes no mundo.”

No dia 9 de agosto o Turbante-se chega a Lisboa pela primeira vez. “Fazer um workshop em Lisboa é algo muito forte e simbólico para mim. Eu costumo dizer que a minha ressaca colonial ainda é muito forte, mas quando estive em Lisboa me senti muito perto de casa. Salvador é a cópia de Lisboa. Então, quando planejei essa viagem eu pensei: porque não fazer um workshop lá? É inclusive uma forma de autoenfrentamento, já que ser uma mulher preta em Lisboa já é dificil. Ser uma mulher preta e brasileira então… Existem ainda muitas mulheres e homens negros no mundo que precisam ter seus pensamentos descolonizados, entender a potência dentro da simbologia de usar um turbante numa sociedade pós-colonial. Inclusive entendendo essa estética afro-centrada como um posicionamento socio-político. Porque para os racistas o nosso apagamento é o ideal. Mas como você vai conseguir apagar alguém que traz tantas cores amarradas na cabeça?”

A questão fica no ar, quem sabe para ser respondida no dia 9 de agosto, no espaço Dubalacobaco, na Lx Factory, em Lisboa, a partir das 18 horas.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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