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Tuyo: “Hoje a gente volta para a Europa muito mais seguros”

Exatamente no dia que o álbum Chegamos Sozinhos em Casa, da Tuyo, completou um ano, conversei com Lio, Machado e Lay sobre os caminhos percorridos pelo trio até aqui. Também falamos das apresentações deles no Musicbox, em Lisboa, e no PlanoB, no Porto, nos dias 1 e 2 de junho, respetivamente. Logo na sequência, os três partem para o Primavera Sound, na Espanha, onde farão quatro shows

Antes de “pegarem” a estrada na Europa, a Tuyo partilhou do festival Queremos!!, no Rio de Janeiro, encontrou fãs no TuyoDay, em São Paulo, e fez a estreia da música “Soledad”, que é interpretada em espanhol. 

“É outra música sobre território, sobre se locomover, de desprender de coisas maternas e paternas, coisas de criações e de assumir a sua própria criação e como você maneja isso”, diz Lay. “É bem sobre ‘adultecer’… a gente sempre escreve as paradas que estamos vivendo. Quando escrevi essa música, eu pensei muito no que estava acontecendo comigo, qual que era a mudança, a roda que estava girando ali”. 

Nesta troca de ideias via Zoom, os indicados ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo na Língua Portuguesa compartilham com a BANTUMEN os detalhes dessa volta aos palcos europeus, a sintonia com o público, o recente single, estética musical, indústria e a possibilidade de um próximo álbum, que está sendo arquitetado. “Eu sinto que esse é o momento que o disco começa a ser gestado. Temos conversado sobre”, diz Lio.

Vocês estão entrando praticamente em uma turnê,

Todos: Sim!

Lay: Que loucura,

Lio: Um monte de datas juntas..

Depois da indicação para o Grammy Latino, uma ótima crítica no New York Times pela performance online no festival SXSW 2021 e participação no SXSW 2022 (in loco), vocês retornam agora a Portugal e depois vão para o Primavera Sound, em Barcelona, na Espanha. Como vocês estão vivenciando todo esse rolê internacional e repercussão da Tuyo no mundo? Era uma expectativa de vocês desde o começou ou superou as expectativas ao longo dos anos?

Todos: Superou!!

Lio: A gente não tinha nenhuma pretensão. Queríamos sim fazer o [álbum] Chegamos Sozinho em Casa chegar a muitos lugares, mas a gente não imaginava que existia uma série de fãs fora do nosso território [Brasil].

Machado: Eu acredito que dentro de cada um, todo mundo desejou qualquer uma dessas experiências que a gente está tendo a chance de viver. A maior dificuldade é aceitar tudo isso e se autorizar a viver tudo isso também. É diferente você desejar e depois fazer um movimento até que esse desejo se realize e acho que sem querer, ou fingindo que não, corremos atrás dessas coisas. Aí, diria que ir para o Primavera (Sound) agora, é me autorizar a viver essa experiência pela primeira vez. Teve que acontecer muitas coisas até eu entender que poderia viver isso mesmo, gostar de estar ali e sentir que realmente deveria estar ali. Ou então sentir e viver o presente… e tá sendo muito massa.

O Chegamos Sozinho em Casa fala um pouco disso também, de não se sentir muito bem em lugares onde geralmente a gente não é muito bem recebido, onde não vemos nossos pares. É sobre isso também, de uma auto-sabotagem de achar que não é merecedor daquilo?

Lio: O Chegamos é um disco sobre território, de tomada territorial. Ele fala muito sobre o tempo, a perspectiva do porvir e o que já passou. É um disco cheio de metáforas, cheio de espaço para aquilo que podemos viver. O mais curioso é que ele nasceu muito da necessidade que a gente tinha de desenhar para nós um lugar. Porque eu e Lay nascemos no Paraná, o Jean (Machado) nasceu em Vitória (Espírito Santo) e moramos no Paraná por muito tempo. E a população negra no Sul do Brasil, entre milhões de características, enfrenta uma série de questões com relação a territórios, de sentir parte, pertencente, cidadã… E eu sinto que essa nossa flutuação ajudou na construção de um território abstrato, para outras pessoas como nós também poderem morar. Então, imagino que talvez seja isso que tenha justamente ultrapassado a língua, ultrapassado a cultura e criado um território para outras pessoas. Quando a gente fez o disco era alguma coisa para nós, falando sobre a nossa dificuldade de se sentir parte, de se sentir do todo ou de que tenha algo para si. E de repente observamos que uma galera tem essa mesma necessidade e encontrou nesse disco e no espetáculo um lugar seguro para se sentir parte de alguma coisa. Por isso é muito engraçado como os desdobramentos do álbum atendem uma necessidade que era apenas dele. Quando escrevemos também pensamos no espetáculo e na trajetória dele, mas ele foi além.

Isso também reflete na estética do tipo de música que vocês fazem, fugindo totalmente do padrão que esperam de três pretos, como rap, R&B, etc. Vocês trazem densidade e uma poesia ali, ao mesmo tempo que quando vão para o show conseguem se conectar com o público e trazer essa galera junto. De que forma toda essa atmosfera foi criada?

Lay: Eu acho que o show, não só olhando para a trajetória da Tuyo, mas para nossa trajetória enquanto artistas, foi a coisa que veio primeiro na nossa experiência de vida, nessa coisa da necessidade de estar junto com alguém concordando sobre coisas ao mesmo tempo. Enquanto a gente está cantando e olhando um dentro do olho do outro, eu sinto que veio bem anterior à chance e à possibilidade de contrair um disco e uma história. Aí, com esse último, que a gente teve a chance de fazer o inverso, de criar primeiro a história que queríamos contar e o jeito que colocar isso no palco, eu sinto que a gente teve um tempo pra pensar. Naquilo que tínhamos vontade de dizer, mas também de ver as pessoas ali se provocando, sabe? Não que esteja muito no nosso controle, porque quando estamos cantando juntos tudo acontece. Mas para mim, o palco é o lugar em que eu mais me sinto à vontade, pelo fato de não ser mais sobre mim, é sobre o encontro. Sinto que essa parada é muito foda e a resposta que a gente tem do público é a gente gritando no topo de uma montanha e de repente você ouve o grito, o eco, a resposta. Tem gente pensando como você, vivendo umas paradas parecidas ou se questionando (em outra perspectiva) sobre um bagulho que você nunca pensou, mas que está vivendo lá. Enfim, mil coisas acontecem no palco que são desdobramentos muito interessantes. Pra mim é a cereja do bolo do que eu gosto de fazer.

Lio: Os shows da Tuyo são muito intensos no geral, mas nessa jornada do Chegamos Sozinhos a gente teve a oportunidade de ver o público se manifestando de outras maneiras, além da contrição, concentração… No Chegamos tem canções mais up beat, que providenciaram momentos que a gente não tinha, de dança, de canto, de pulo. Então, o contraste entre estes momentos é um tesão. E poder viver isso no palco, para além do disco e até das lives, porque era uma prática na quarentena mais acirrada, tem sido um milagre, uma delícia.

Depois desse período de quarentena, os shows e os festivais voltaram a todo o vapor. Como foi não ter essa energia do público?

Lio: A gente viveu momentos de muita angústia, para além do futuro da nossa profissão, do futuro da carreira que a gente escolheu, da angústia de não mais estar no lugar em que a gente sempre esteve, que era justamente no palco. A gente gosta muito de gravar disco, mas (como a Lay falou) nascemos tocando ao vivo ali, na troca com pessoas. Foi angustiante, mas seguramos um na mão do outro, sobrevivemos e hoje o que a gente colhe desse período é o povo com um disco de 22 músicas todas decoradas, teve muito tempo para estudar (risadas). Tem sido maravilhoso poder voltar para os palcos agora e saber que as canções estão na língua de todo mundo, as pessoas estão cantando a plenos pulmões, estão se sentindo seguras, vacinadas, têm uma percepção política do próprio corpo e vão a um show muito afinadas com a coisa que também acreditamos. Tem sido muito gostoso encontrar com esse público que passou pela pandemia também pensando no futuro da música, ainda que estejam na outra ponta dessa cadeia. Ahh, clima de festa.

A preparação para os shows seguem uma regra ou rola um improviso pela energia de cada um?

Machado: A preparação é intensa, complexa. A gente meio que fica prevendo os momentos, pensando: “nossa, como é que o pessoal pode reagir? Em que lugar é esse que a gente vai tocar? Como que é?”. Acho que cada show é um show mesmo e a preparação é a gente se sentir mais unido, pensando em que energia queremos viver no palco hoje ou naquele dia lá como é que vai ser? Vai ser uma galera de pé ou quero me comunicar mais com o pessoal? De alguma maneira, entramos na mesma energia. Temos que garantir que vamos estar nesta energia no dia, porque já preparamos tanta coisa que não aconteceu, que chega uma hora em que só temos que estar no mesmo clima, de fazer o máximo possível para poder se comunicar.

Lio: Eu sinto que o ensaio foi a quantidade inenarrável de lives que a gente fez antes de sair de casa, e agora estamos mais preocupados em se conectar com as pessoas que vão estar ali pra assistir a gente do que qualquer outra coisa.

Lio | ©Lucca Miranda

A gente presta atenção no mercado, mas não somos pautados por ele

Lio

E a platéia? Agora com essa escala internacional tem a barreira da língua. Vocês vão tocar em Portugal, que tem um português bem próximo do brasileiro, mas como funciona essa conexão com o público com uma língua que é totalmente diferente da língua portuguesa?

Lio: Cara, nessas últimas viagens a gente teve a materialização do velho clichê de que a música ultrapassa o idioma e só cantamos em português. Arranhamos um inglês muito bom, um espanhol legal, um francês interessante, mas a composição acontece apenas na nossa língua materna. Observar a gente cantando as nossas histórias no palco pra pessoas, por exemplo lá no SXSW, onde tinha gente de todo canto…

Lay: Tinha gente da Grécia. Gente que não entendia realmente nada.

Lio: Gente se debulhando em lágrimas, vulneráveis diante da gente, concentrados e conectados no show que estávamos fazendo. Também temos um espetáculo muito pautado pelo magnetismo harmônico, a sinestesia, essa hipnose da canção. Então, isso também trabalha muito a favor da nossa comunicação com um público que não fala a nossa língua. Hoje a gente volta para a Europa muito mais seguros, porque já experienciámos isso em outras linguagens, sabendo que a música dá um jeito de ultrapassar.

Vocês têm algum tipo de processo criativo para escrever, produzir, para criar essa atmosfera própria e manter sempre o nível? Porque são três pessoas com visões diferentes… 

Machado: Eu acho… vai fala você.

Lay: Pode continuar, porque a gente vai concordar (risadas).

Machado: Acho que com o tempo a gente foi desenvolvendo. O que entendo hoje é que dividimos muito e, quando a gente vê que vai sair uma coisa nova, cada um se divide nas funções, seja quando alguém tem que traduzir o que os três estão dizendo… geralmente, um junta a ideia dos outros dois, sabe? A gente divide muito as funções nisso. Acho que o processo é entendermos o mood de alguma coisa, falando da construção da música mesmo, da gente entender que textura é essa, que atmosfera que é essa que pretendemos levantar durante o show. Acostumamos a entender que, quando criamos uma música, já pensamos como vamos tocar ela ao vivo e em que lugar ela pode estar no show e o que a gente quer dizer nesse momento. Esse que é o chassi da coisa.

Lio: A maior parte dos momentos de composição tem nascido também principalmente em momentos de estudo. Então, observamos coisas que acreditamos ser interessantes. Somos muito amigos, estamos sempre juntos, trocando ideias, bebendo juntos e nessas trocas de ideias vamos dizendo um para o outro o que tem nos mobilizado musicalmente e o que estamos escutando. Assim, começamos a trocar playlists e estudos e a partir disso as músicas vão nascendo. Mas eu sinto que a gente tem uma dinâmica muito de respeito pela experiência do outro, principalmente na lírica, porque nós três escrevemos. Brigamos por qualquer coisa, menos por música. (risadas) Quando o movimento é de composição, a gente se acolhe.

Lay: Para mim, a melhor parte é quando a gente escolhe um dia para passar juntos, mas sem exatamente com o propósito de compor, porque sabemos que é naturalmente quando sai. É o dia que falamos que não vamos trabalhar, mas chega no final do dia e está todo mundo do lado do Jean no computador falando: “vamos fazer, ’tá muito massa”.

Machado: Teve uns dias que estava todo o mundo meio irritado e eu disse: “vou me distrair fazendo um beat aqui”. Aí, no dia, a gente saiu com uma música. É legal quando isso acontece.

Lay | ©Lucca Miranda

Se o universo nos permitir, vamos sair de um governo, de um estado, de uma administração pública de bastante prejuízo para os artistas

Lio

Quando flui naturalmente tudo anda, porque bater cartão fica aquela coisa burocrática.

Todos: Sim!

Quando artistas brasileiros têm uma ascensão internacional, geralmente mudam para compor em inglês, mas vocês continuam escrevendo em português e agora chegam com “Soledad”, que é uma música em espanhol, idioma que faz parte da nossa região latino-americana. Porquê agora fazer essa música em espanhol?

Lay: Essa banda meio que começou – não é o principal motivo – mas é uma parada que a gente se apaixonou por fazer. Consumimos muita literatura Latino Americana.

Lio: Eu estudava cultura latino-americana na faculdade e a gente fazia juntas um curso de espanhol pelo Estado. E aí, como eu disse é uma dinâmica de amigos. Eu lia os livros e falava: “meu, vocês não sabem o que eu acabei de ler, um livro muito foda que vocês têm que ver”. Quando os meninos foram dar nome ao projeto musical, estávamos pensando muito nesse elo do que acontece no Brasil e o que acontece na América Latina, muito a partir da literatura. Hoje a Tuyo é outra coisa, mas “Soledad” foi escrita há muitos anos, acho que ela tem o quê, 12 anos? Talvez mais. E a gente achou que seria interessante resgatar ela nesse momento. 

Machado: E apesar de o Brasil ser “grandão” e a gente poder circular com o português entre nós, acho que também é um privilégio ter o domínio da outra língua e se comunicar com a América Latina, se comunicar além da nossa bolha também. Eu não sei falar nada disso não, só estou indo na aba das meninas, mas entendo que quando me aproximo disso, entendo sobre nossa música e a relação musical com a Europa e América Latina. Acho que é massa se aventurar um pouco nisso.

Lio: Eu sinto que o lance da “Soledad” é mais um carinho com quem acompanha a Tuyo há muito tempo e para acompanhar a festa que vai ser essa viagem, do que uma intenção de começar a compor em outro idioma, a gente não tem essa pretensão porque gostamos muito da cadência da poesia em língua portuguesa… a rítmica e a estética que a gente constrói são exclusivamente para a língua portuguesa.

Porque quando o artista lança uma música em outro idioma, já se cria uma expectativa de que pode vir um disco específico também. Então, é bom vocês falarem isso para ninguém ficar esperando. 

(Risadas)

Lio: Ai, cara, o lance é que a gente é artista independente. Então, às vezes dá na telha e fazemos, porque não respondemos a ninguém que não seja a gente mesmo, ?

Tem o lance também da liberdade artística, de não se preocupar com o que o mercado está ditando?

Lay: É um pouquinho de cada coisa.

Lio: A gente presta atenção no mercado, mas não somos pautados por ele. Imagino muito que o papel das bandas como nós é mais pautar do que acontece no mainstream, anunciar o que vai acontecer no futuro do mainstream, do que ser pautado por ele. 

Voltando no single em espanhol, qual a mensagem que vocês pretendem passar com ele (principalmente para quem não entende o idioma)?

Lay: “Soledad” fala sobre um movimento também. É outra música sobre território, sobre se locomover, de desprender de coisas maternas e paternas, coisas de criações e de assumir a sua própria criação e como você maneja isso. É bem sobre “adultecer”. A gente sempre escreve as paradas que estamos vivendo. Quando escrevi essa música, pensei muito no que estava acontecendo comigo, qual que era a mudança, a roda que estava girando ali. Por isso, ela fala de sair da casa dos pais, sobre entender quando você volta para lá, quais são as coisas que você reconhece como suas e quais são as coisas que você simplesmente tem que tirar para colocar outras no lugar.

Lio: É uma música sobre movimentos migratórios.

Também não deixa de ser uma realidade de muitos povos e do momento que o mundo está vivendo, de pessoas fugindo de conflitos. E vocês já têm planos para um próximo disco?

Lay: Pior que tem, você acredita? (risadas) Não paramos!

Lio: Eu sinto que esse é o momento que o disco começa a ser gestado. Temos conversado sobre.

Machado: A gente tem aceitado a ideia.

Lio: Saímos do Chegamos Sozinho muito cansados. Aí, falamos: “não queremos fazer disco nunca mais. Vamos ficar cinco anos sem fazer outro”. Ele está fazendo um ano agora. Parabéns!

Parabéns! É um filho, ?

Lio: Eu tenho sonhado muito com esse terceiro disco. Na verdade ainda estou na fase de fazer perguntas a respeito dele. Mas não tenho respostas.

Lay: O plano existe e a gente ainda está num momento muito embrionário, mas o pessoal pode esperar.

O Chegamos Sozinho, na real, foram dois álbuns…

Lio: Pois é, cara?

Lay: Porque também demorou para tocar nos shows e teve um tempo muito maior. Nos outros a gente já chegou lançando e tocando mas esse demorou um tempo.

Lio: Mas ele trouxe coisas maravilhosas para nós. Valeu cada suor, cada lágrima, cada desespero para lançar. Trouxe para nós muitos milagres, colocando a nossa vida em muitos lugares diferentes que estava antes do disco. Então, sou muito agradecida. 

Machado | ©Lucca Miranda

Eu preciso aparecer na janela para ganhar o meu pão e esse é o jogo

Machado

Atualmente há um pensamento de que ninguém está ouvindo álbum. Dizem que são mais os singles e vídeos por causa do [atual] modelo da indústria. Mas quando é um trabalho conceitual, com várias nuances, as pessoas levam mais tempo para absorverem as ideias. Não é aquela coisa de só ouvir para colocar na lista de consumidos. Hoje vocês completam um ano do último disco, mas com certeza já receberam várias perguntas de quando virá o próximo. 

Lio: Eu sinto que o nosso público se comporta um pouco diferente. Acho que talvez por conta de um estímulo que parte da gente, inclusive. Não temos nenhuma resistência com outras linguagens ou com outras dinâmicas de lançamento que fazem parte do universo do mainstream, mas sinto que nossas dinâmicas são pautadas pelo lugar social que habitamos. Não temos um grande número de investidores para lançarmos um single por mês ou coisas do tipo. Muito do que pauta a nossa dinâmica é o recurso que a gente tem. Se o universo nos permitir, vamos sair de um governo, de um Estado, de uma administração pública de bastante prejuízo para os artistas. Então, temos a expectativa de que os recursos e os estímulos para que a gente siga trabalhando sejam diferentes. Sinto que a sociedade vai se comportando, consumindo, vai alterando o seu comportamento de acordo com a passagem do tempo e vamos entendendo o que temos vontade de aderir e de ignorar. Gostamos muito da linguagem do single. Se tem uma banda que gosta de colaboração, nós amamos colaborar. Mas também gostamos da linguagem do disco. Não nos sentimos compelidos ou pressionados para abrir mão de um em detrimento do outro. Mas realmente, em outros núcleos do universo musical, a velocidade de consumo é muito diferente do que a gente se propõe a fazer. E é um tipo de música que a gente consome, mas não tem vontade de fazer.

Mas como observam essa indústria que sempre pede coisas novas para alimentar o algoritmo. Há uma necessidade de se manter presente ali nas plataformas ou vai mais pela veia artística da coisa?

Lay: O bom de ter três cabeças é que a gente pode equilibrar isso, porque tem a hora que precisamos nos retirar para pensar no artístico, se questionar porque estamos fazendo, onde queremos chegar, se queremos estar onde as pessoas estão chegando, qualquer é o plano, entendeu? E tem a hora também que a gente quer fazer um feat atrás do outro, pensar como que a gente vai lançar. Penso que são duas coisas que tentamos balancear entre nós e toda a equipe que está envolvida com a Tuyo, tipo de parar e se questionar o tempo inteiro de quais são nossos planos e como a gente pode usar essas ferramentas, porque para mim tudo isso é ferramenta de pulverizar a música, umas mais intensas que as outras.

Lio: Mas não sinto que o algoritmo é sobre nós e que esse mercado seja para nós. Nem para que a gente consuma nem para que a gente produza. 

Machado: O mercado de marketing de influência mudou muita coisa sobre o consumo e o consumo de música está envolvido nisso também. E isso, diariamente, bate nas nossas vidas. Somos muito impactados por isso. A vantagem de estar a três é que a gente consegue ajudar-se na ansiedade de tudo isso também, nessa demanda exacerbada de conteúdo. Não é saudável. Aí, a gente tem uma coisa na nossa cara para ser refletida, ser observada e a arte vai ser sobre isso, não tem como. O nosso próximo disco não quer dizer que a gente vai falar sobre isso, mas ele vai ser impactado por isso. O jeito que vamos falar e sobre o que a gente vai falar, com certeza, vem dessa ansiedade que vivemos diariamente para além de querer existir e ter seu nome em alguma janela da história. É um rolê de sobrevivência mesmo. Eu preciso aparecer na janela para ganhar o meu pão e esse é o jogo. Muito entre aspas: existe vida lá fora, mas o nosso trampo é todo digital. A gente precisa trabalhar nessa dinâmica que, na maioria das vezes, é danosa porque em algum lugar desse processo o bagulho fica anti-natural. 

Lio: O que eu percebo é que a gente faz uso dessas ferramentas para conseguir fomentar o diâmetro de alcance da nossa canção, do sonar que a gente manda, do sinal que enviamos para outras pessoas como nós. Então, entendo que se essas ferramentas nos servem, a gente faz uso delas. Mas se elas nos machucam, em alguns momentos, a gente abre mão. Essa é a liberdade que temos de não precisarmos estar submetidos a 100% a essa dinâmica. 

E o que estão preparando para os shows em Portugal e na Espanha? 

Machado: Cara, estou bem feliz porque a gente vai executar o que estamos fazendo desde o momento que fizemos o primeiro show depois da pandemia. Não foi um pensamento: nossa, vai ser no Primavera Sound e eu preciso fazer um show muito foda. Não, eu preciso ensaiar para fazer o que faço melhor. E a gente está tocando com o mesmo repertório e o que está sendo apresentado aqui vai ser apresentado lá também.

Lio: Temos uma surpresa…

Machado: Temos novidades mas é um show seguro, maduro, divertido.

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