Um obra da artista brasileira Crioula foi levada a tribunal por um vizinho que critica o “gosto duvidoso” da mesma. A pintura em questão, exibida na faixada de um dos principais prédios da cidade de Belo Horizonte, tem o nome Híbrida Ancestral-Guardiã Brasileira e representa a cultura e a mulher negra.
Uma mulher negra, nua, com uma cobra saindo do seu ventre enrolada da cintura até a perna e com cerca de 14 metros de altura é o sujeito de um processo a decorrer na justiça brasileira, porque um dos moradores do mesmo edifício alega que “é uma decoração de gosto duvidoso” e que deve ser retirada. A obra fez parte do projeto CURA (Circuito Urbano de Arte) e foi feita no final de 2018 e no princípio de 2019. O CURA afirmou pelas redes sociais ter comprido com todos requisitos para a contratação e aprovação da obra, junto do conselho consultivo do condomínio.
A artista e activista social responsável pela obra, Criola, que tem feito trabalhos de arte pelo Brasil e na cidade de Paris, França, não se mostrou surpresa com o comportamento do cidadão que fez a denúncia e comentou: “Infelizmente eu não recebi isso como uma surpresa. Porque sinceramente quem é preto no Brasil está infelizmente cansado de vivenciar várias questões relacionadas a racismo, ignorância e preconceito. Meu sentimento é que estou no caminho certo, estou a incomodar quem tem que ficar incomodado mesmo para modificar as atitudes”. Na sua obra, a artista, objetivou retratar – “um caminho interno de honra às mulheres e seu sangue sagrado, de honra ao povo preto e aos povos originários brasileiros e seus descendentes como legítimos guardiões dos portais da espiritualidade que sustentam o nosso país”.
O Cura apoia e participa no processo oficialmente como parte assistente dos réus de acordo com o advogado do grupo Joviano Maia Mayer.
Entretanto, foi criada uma petição online contra a possível retirada da obra, que pode ser lida aqui.
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