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W.Street: “Sinto que o público está pouco exigente”

W.Street tem 25 anos e está bem preparado para ser um dos nomes mais falados no meio hip hop angolano, e quem sabe lusófono, nos próximos tempos. Estivemos com o rapper no Porto e aproveitamos para traçar o seu perfil. Na sua bagagem tem já participações com gigantes como Kool Klever, DJ Sonena e Raiva e acredita que a new school vive de bom flow e pouco knowledge. Os principais mestres do rap são Valete, Nga, Kalibrados e JAY Z.

Qual é o teu nome completo, quando e onde nasceste?

Waldir Paulo Tomás Coutinho, natural da Ingombota, Luanda, nascido a 13 de maio de 1995.

Onde cresceste?

Até aos meus oito anos residi na Sagrada Esperança, Bairro do Prenda, mas desde a minha adolescência até ao período em que me tornei no homem que sou hoje vivi no bairro Futungo de Belas.

Como é que entraste no mundo da música?

Hoje em dia posso dizer que sou mais interativo e extrovertido, mas sempre fui uma pessoa muito fechada e de opiniões que muitas vezes fugiam do padrão. Para não ferir sensibilidades e não ser inconveniente mantinha-me calado mas sentia necessidade de as expressar sem ter que parecer ser um indivíduo de ideias radicais. A poesia foi o refúgio perfeito. Fora esta situação, já tinha em casa o meu irmão mais velho, Helyts Tungané, que infelizmente já não se encontra entre nós, e que estava a preparar um álbum de R&B e Guetho Zouk. Era inevitável a conexão com a música. Mas eu era mais ouvinte de Rap por influência de outro meu irmão, o Silvio. Entretanto, decidi deixar de ser só um simples ouvinte e expressar aquelas ideias em beats de rap. Comecei em batalhas de freestyle no meu bairro e nos colégios e escolas em que passei (Complexo 28 de Agosto, Colégio Saber, Colégio Helvip) onde sempre saí vitorioso.

Quando e onde gravaste a tua primeira faixa e qual a história por de trás da mesma?

A minha primeira música foi gravada em 2010 num Home Studio de um amigo, Cherife Pink, que naquela altura víamos como uma produtora, a Máfia Music). Foi em cima do beat dos New Boys “You’re a Jerk”. Os meus freestyles se tornaram viciantes naquela altura, mas não me contentei só com aquilo senti a necessidade de mostrar que sou capaz de surpreender ainda mais quando escrevo.

O que é que já lançaste e com quem já tiveste a oportunidade de trabalhar?

A minha primeira obra foi lançada em 2010, a mixtape Mais Street que W, depois lancei “Vestígios” em 2012, que foi um dueto com o meu “nigga” Asso Skillz, em 2014. Saiu depois a mixtape O Crime com o meu grupo W.STUDIO (atual W.S), lancei outra a solo intitulada Código de Estrada em 2016, e em 2017 lancei o EP TRAVEL com os W.S. Já trabalhei também com Kool Klever, DJ Socena, Raiva, Tatiana Durão, Mário Vaz, Nato P3 e muitos outros artistas.

Quais são as tuas influências no rap feito em português e internacional e porquê?

É uma questão um pouco relativa porque sempre acompanhei o movimento e tive o prazer de conhecer vários MCs que muitos deles nem têm uma grande visibilidade, mas de uma certa forma contribuíram para o meu fortalecimento. Falando de alguns já renomados, que também fizeram a sua parte, posso frisar nomes como os Kalibrados, que para mim naquela altura aquilo não era só um grupo era um cocktail de skillz, flows e lirycs; a eloquência e profundidade do Valete faziam-me viajar e exigir mais de mim na composição; a trajetória do Nga é um dos maiores estímulos pois deixou patente que mesmo de forma independente, quando se tem habilidades impecáveis e foco, é possível; Abdiel sempre teve uma narrativa muito inovadora e surpreendente. Podia falar de mais uns quantos que não têm menos mérito mas para encurtar a questão… E já ia me esquecendo quanto aos internacionais JAY Z ainda continua a ser a minha maior referência.

Como vês o rap feito em Angola, em especial o da nova geração?

Estamos num período catastrófico, sinto que o público está pouco exigente e dessa forma facilita a existência de muitos pára-quedistas, mas o surgimento desses nem é o que mais me intriga. A minha maior preocupação é o que essa geração prioriza como “ter o flow mais badalado”, o que por acaso alguns até têm mas acaba por ser só mesmo isso, flow lindo e rimas sem sequências lógicas pois só querem ter o desfecho da cadência. Sinto falta de versos cativantes. Mas em contra-partida há também muitos projectos maduros e bem estruturados embora contam-se pelos dedos.

Agora que estás a residir em Portugal já tens ideia do movimento aqui, quem são os grande nomes do hip hop tuga no teu ver ?

Bem antes de cá estar e de entrar no movimento eu já consumia o rap português, e vou ser sincero que isto já esteve bem melhor há alguns anos. Hoje os rappers que mais tocam cá e têm lançado ativamente projectos são de vibes côr de rosa. Sinto falta da presença ativa de alguns nomes como Sam the Kid, Regula, Halloween, os Dealema, Boss Ac e por aí…

O rap feito em Portugal tem mais espaço do que o rap feito no resto a Lusofonia ?

Se nos referirmos à mídia portuguesa, isso é um facto. Só há divulgação do rap português, principalmente nos serviços radiofónicos. Conheces o rap feito em português fora de Angola? Moçambique e Brasil? E o que tens ouvido?
Eu sempre fui aquele indivíduo que não se mantém na sua zona de conforto, por isso é que em todos países que mencionei existem rappers que já consumi bastante. em Moçambique por exemplo Azagaia, Duas Caras e Hernâni da Silva, no Brasil Marcelo D2 e Emicida, Portugal já frisei e incluo a Força Suprema.

Como tens visto este bom momento para os artistas de música em especial os de hip – hop e como diferes o sucesso por de trás de toda esta exposição?

Durante o meu percurso por aqui tive o privilégio de conviver com vários artistas de hip-hop renomados, que além da visibilidade que tinham, não tinham mais nada, ou seja o rap não era lucrativo. O love pela cena é que os mantinha aqui. Mas hoje em dia felizmente o quadro inverteu e fico muito feliz em saber que já é possível viver do rap. Tens rappers que compram casas e carros e montam negócios com os frutos do exercício dessa atividade, é uma grande conquista.

Quando e o que podemos esperar do teu próximo projeto a solo? E já tem data?

Não vou me precipitar em estipular já uma data, mas já me encontro em estúdio para preparar um projeto que estará disponível ainda este ano.

Como andam e que têm feito os elemento da WS?

A W.S depois do lançamento do EP TRAVEL, deu início a episódios de lançamentos individuais de alguns membros. O Steffan Fat disponibilizou o projeto Papy na Via, o Asso Skillz fez um dueto com Kairo Boys e comercializaram o EP 8TAVA MARAVILHA, o Mr Make esteve envolvido em batalhas da RRPL e o Mr Adérito encontra-se em fase de preparação de um projeto novo. Mas há previsões de lançamento de um novo projeto do grupo em dezembro.

O que vamos ouvir nesse trabalho?

Colaborações inesperadas, W.Street em beats de vibes exóticas e uma série de coisas que não passam na Netflix (risos).

Quem é a tua principal concorrência no movimento angolano?

Tenho procurado bastante…

Neste momento, o que mais importa na tua carreira?

Continuar a disponibilizar trabalhos com o nível de qualidade que tenho proporcionado aos meus fieis ouvintes e conseguir alcançar a visibilidade equiparada à qualidade do produto que forneço.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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