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Yolanda Tati pede mais respeito pelo corpo da mulher negra

Yolanda Tati | DR
Yolanda Tati | DR

Yolanda Tati publicou nas redes sociais um texto de consciencialização sobre a naturalização da invasão do corpo da mulher negra, depois de um episódio em que, num programa de televisão português, uma modelo viu-se constrangida com os comentários e toques não autorizados no seu cabelo.

“A invasão constante do espaço pessoal da mulher negra, na tentativa de tocar-lhe no cabelo, sem autorização é um tema antigo, persistente e extremamente desagradável para nós. As mãos curiosas e – acima de tudo indesejadas – são uma constante no nosso dia-a-dia. Tocar no cabelo de uma mulher negra como quem toca num Património Público exótico é desrespeitoso, antiético e, no fundo, possui teor racista também. Ninguém é abordado, na rua, do nada e é tocado, sem permissão, quando se tem cabelo liso. Já me aconteceu: na rua, em festas, na faculdade, no trabalho… e podia por aqui continuar”, podemos ler no post de Yolanda.

Nos comentários, são vários os testemunhos de outras mulheres que confirmam terem passado pelo constrangimento, muitas vezes, de forma conivente até, pela paralisação causada pela perplexidade com a ação ou pela necessidade de não constranger o agressor, porque a sua intenção era “desprovida de malícia”.

“O que me fez falar foi que já não dá para estar calada. Temos de ser responsáveis pelas nossas ações, pelas nossas atitudes e pelo que assumimos. Este é um post de amor e, na realidade, mesmo fazendo esta entrevista, queria reforçar que não tenho nada contra o trabalho das pessoas que ali estão. Estive para não escrever, porque agora é muito fácil gerar ódio, mas achei mesmo que não podia deixar de gerar consciência e não quero que ninguém saia ofendido daqui”, começou por dizer-nos Yolanda, referindo-se aos comentários que tem recebido sobre a suposta susceptibilidade e sensibilidade negras.

“Já começam a surgir comentários ‘vocês também vitimizam-se por tudo, povo que não aceita nada. É crime tocar numa pessoa?’. Estou a receber muitos comentários deste género. Já estava à espera e até gostaria de não empolar mais a situação. Queria que as pessoas passarem por ali [post] e refletirem. É no fundo esse o meu papel, ao fim destes sete anos de digital, ao fim deste trajeto e desta militância, porque sou ativista negra, sou mulher negra e estes são desafios que me acompanham sempre e que não consigo dissociar da minha carreira, da minha missão”, continuou a comunicadora e ex-radialista.

Miss Yolo, como também é conhecida, sublinha que este é um momento que “nos expõe de forma forçada” e recorda um episódio pessoal, durante um direto televisivo. “Nunca me abri publicamente sobre isto. Foi a primeira vez que o fiz porque o objetivo também não era focar-me nisso. A verdade é que foi um ponto de viragem na minha vida e na minha carreira. Percebi o quão frágil e exposta estava por ser negra e quão ridicularizada eu poderia ser à conta da curiosidade e do ego de outrem.”

Durante a gravação em direto do programa “Late Night Secret”, da TVI e em que partilhava a cena com diferentes personalidades, o apresentador Serginho levantou-se para puxar a peruca que Yolanda estava a usar. “Nesse caso foi de pura maldade. ‘Vou puxar-te a peruca em direto, vais ver como vais ficar’ e depois a pessoa veio mesmo puxá-la”, explicou, acrescentando que chegou inclusive a ser chamada a atenção por não se ter pronunciado na altura. “No momento, disse que não podia continuar o direto assim, abandonei a minha cadeira e abandonei o direto. Depois pediram-me para voltar e eu voltei mas continuei nessa edição. Fiz questão de nunca abordar isto porque achava que era mais uma luta minha e que poucos iam compreender. Agora é um bocado o culminar disso, porque estou distanciada. Por um lado, estou mais madura, mais consciente e tolerante mas, por outro, estou mais ciente que o papel educativo cabe-nos a todos. E eu faço a minha parte que é pedir, apelar, com amor e com respeito ‘por favor respeitem o espaço privado da mulher negra’, porque realmente este é um tema que nos ridiculariza, que nos ofende, que nos invade e perturba. E que no fundo transmite muita coisa sobre a desigualdade”.

Ainda na mesma publicação, Yolanda ressalva que: “O meu cabelo, o meu corpo, não são propriedades públicas. Respeite-se realmente a raiz e diferença de cada um. Não permitindo que o Ego sobre o qual se rege a nossa curiosidade, por mais inocente que seja, se sobreponha ao respeito pela individualidade de cada pessoa.”

Há ainda a referência à apresentadora Maria Botelho Moniz, descrita como “aliada consciente”, por ter reagido ao questionar se alguém teria pedido autorização à modelo para tocarem no seu cabelo. Assim como também agradece aos diferentes intervenientes do vídeo em causa, pela oportunidade para “reflectir sobre algo tão sério, banalizado assim, em plena TV nacional”.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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