Com uma provável imunidade à estranheza dos outros, desde pequeno que Yuri Gonçalo destaca-se da maioria. Nos tempos de escola, havia sempre um detalhe na indumentária ou no corte de cabelo que o fazia sair do lote.

Atualmente, é através do seu atelier, na Póvoa de Santo Adrião, em Odivelas (Portugal), que o profissional da arte de bem vestir passa a sua visão e conhecimento para o público em geral. Na manhã de um sábado frio de janeiro, em que a maioria acumula as vestes, numa tentativa, por vezes frustrada, de se proteger das baixas temperaturas, fomos conhecer o espaço Yuriistyle.

Ao entrar, damos de caras com uma montra de acessórios, laços, punhos, gravatas, anéis e colares que fazem pandam com os blazers, calças e camisas pendurados no charriot.

“Querer ser diferente não significa ser aceite”, a premissa é do próprio stylist e serve-nos de ponto de partida para esta entrevista. Por mais que o fora da norma possa ser um fator de não aceitação automático, por vezes, a persistência acaba por criar a normalização do diferente. 

Mesmo assim, “questionamo-nos se estamos satisfeitos com o nosso próprio estilo. Porque como estás numa sociedade onde as pessoas não aprovam, mandam boquinhas e piadas, tens a tendência a não teres o teu estilo próprio e vais usar o que está na moda e o que a maioria usa”, explica Yuri.

A aventura de Yuri no mundo da moda começa, numa primeira fase, com a partilha de publicações sobre diferentes estilos e outfits. A acumular engajamento em cada publicação, rapidamente Yuri percebeu que poderia fazer negócio com o seu bom gosto. Com as várias mensagens que recebi a perguntar onde poderiam ser adquiridos os artigos e acessórios que partilhava, a consultoria tornou-se no primeiro passo desse negócio. À medida que a interação e página iam crescendo e ganhando outra envergadura, foi necessário perceber onde é que as pessoas em quem se inspirava compravam o que vestiam, ou onde é que ele podia arranjar roupas semelhantes àquelas, para poder aconselhar as pessoas que o iam contactando.

“Felizmente aconteceu tudo de forma muito natural e orgânica. No início, o objetivo era apenas divulgar estilos, porque achava que as pessoas precisavam de inspiração. Tens o teu estilo diário mas ao ver outros estilos, eles podem inspirar-te. Não tens de copiar, mas podes ganhar inspiração. Mesmo que não fossem estilos que eu gostasse ou me identificasse, quem segue a página poderia identificar-se. Então, percebi que podia perder alguns minutos para aconselhar as pessoas, adaptando-me ao orçamento delas para depois crescer e isto tornar-se naquilo que é hoje. Foi tudo muito natural e fluido. Daí, comecei a estruturar melhor o negócio, o processo, criar uma base de dados onde possa saber onde encontrar as coisas e poupar tempo naquilo que faço. Hoje em dia é muito mais rápido encontrar as coisas que quero. Se não existe, podemos criar de raiz, perceber as linhas, nível e grau em que está o cliente”, explicou.

É necessário uma conversa com o cliente antes de chegarmos à consultoria no ateliê, para perceber e conseguir captar o que o cliente precisa e o que o Yuriistyle pode agregar. Até porque o conceito do Yuriistyle, como o próprio nome indica em inglês, é o estilo do Yuri. Através do que o cliente quiser ou de uma ideia do próprio Yuri, o que sairá dali, criado de raiz ou não, terá uma assinatura única. 

Embora a marca seja homónima, “não quero fazer clones meus. Já referi isso várias vezes, porque as pessoas olham e dizem que tenho um grande estilo mas o objetivo é mostrar ao cliente que vestir bem não é copiar nem tem necessariamente de ser uma tarefa difícil.”

Depois de analisar a estrutura física do cliente, as suas características e energia, a partir daí tenta-se compreender o que pode ser adicionado. Faz-se uma filtragem e vai-se afunilando até se chegar ao resultado que combina o que a pessoa gosta de vestir, a ocasião, se quer um look diferenciando ou apenas aumentar a auto-estima através do que veste. 

O foco do Yuriistyle acaba sempre por ser o que o cliente quer, tentar projectar naquilo que é a solução e depois passar para a fase da concretização, que inclui desde o que os clientes já têm no seu guarda roupa e o que precisa ser atualizado. A equação faz-se com o que é útil ou não e o que pode personalizar ou refazer. 

A marca não se rege apenas por uma única linha. Tenta criar os mais diversos serviços e ainda quer agregar mais ao portefólio que o Yuriistyle já apresenta. 

A abertura do ateliê em 2022, que até então era somente digital, foi um passo importante para dar mais credibilidade ao seu trabalho. Até porque começou a ser complicado dar vazão à quantidade de pedidos que ia recebendo online. “O facto de estar com o cliente no meu espaço, com amostras de peças para que o cliente possa ver e experimentar e possa estar mais à vontade, cria toda uma dinâmica de aproximação diferente. Foi uma necessidade ter um ateliê”, sublinhou.

Sobre o encargo financeiro, a consultoria, por norma, é um serviço caro, mas nem sempre tem de o ser. 

Yuri Gonçalo explica que “. Com aquilo que se tem em casa é possível criar algo único e a partir dessa construção criar um estilo. Há lojas que vendem roupas a preços mais acessíveis e há pessoas que não sabem quais são e onde podem encontrar essas peças. Tenho na minha organização isso bem definido”.  Além de que, por mais que o cliente venha ter comigo e não tenha possibilidades de pagar uma consultoria, respondo sempre. Dificilmente deixo de responder a uma mensagem, sabendo que com uma resposta simples posso ajudar o cliente”.

Acrescenta ainda que: “imaginemos que queres comprar uma peça e eu sei onde comprar, mas o cliente não pode vir ao ateliê e nem pagar uma consultoria. Eu posso dizer onde pode ir, com todos os detalhes”. 

Apesar de ser o Yuri a idealizar tudo e ainda ser a cara do seu negócio, tem uma equipa competente que o ajuda na concretização daquilo que são as suas ideias, como costureiros, lavandarias, fábricas, entre outros parceiros.

Para quem o vê como um alfaiate, está enganado. O alfaiate é aquele que faz vestuário masculino por medida. E apesar de Yuriistyle já ter essa opção de criação de fatos, é principalmente um negócio de consultoria. 

O serviço de alfaiataria em si é um serviço não muito acessível, “num país onde o salário mínimo ronda 700 euros, um fato por medida pode ficar por esse valor. Ou seja, não é algo que esteja ao alcance de qualquer pessoa. Com o Yuriistyle, conseguimos encontrar um fato por 100€/200€ e ajustar à medida do cliente e ter o mesmo efeito de um fato à medida. Eu acredito que a nossa consultoria é a nossa forma de trabalhar, dá um leque mais variado de opções ao cliente do que estar só virado para aquilo que é a alfaiataria”.

Agregado ao valor do seu negócio, está ainda o facto de Yuri adicionar-lhe a preocupação com o nosso meio ambiente, sendo que a indústria têxtil é uma das que mais contribui em termos de poluição no planeta. 

O cliente quando vem ao espaço é para encontrar a peça que já foi previamente conversada e pedida exclusivamente para ele”. Um dos grandes objetivos da marca é fazer peças únicas, não dando azo ao excesso. “Podemos apenas pegar no que o cliente tem e refazemos, é uma forma de reutilizarmos e fazermos apenas aquilo que é necessário. Não queremos fast fashion”. Além de que cada peça é pensada no tempo que esta vai durar, também consoante o cuidado que lhe for dado.

Uma das maiores inspirações da marca é o Dandy, o estilo propagado pelos congoleses e que se preocupa não só com a aparência mas igualmente na forma de estar em sociedade. Na sua origem, o Dandy não seguia nenhum estilo, pois considerava ser o estilo em pessoa, desde o vestuário à forma de se comportar. O objetivo era distinguir-se com classe, discrição e de forma anónima. Não confundir com La Sape, o estilo que emergiu na década de 1960 na República do Congo, mais especificamente em Brazzaville e que mistura o dandismo cultural com detalhes extravagantes num movimento de resistência.

Atualmente, a vestir diferentes personalidades de universos distintos, como do desporto e das artes, na sua carteira de clientes destacam-se os nomes dos jogadores Pany Varela e Eidinho e do comentador desportivo Cândido Costa.

A médio e longo prazo Yuriistyle os seus objetivos passam pelo crescimento, não só na carteira de clientes como no conhecimento. “Claro que quero criar novas coisas, tenho as minhas ambições. O objectivo é sempre inovar. Se eu continuar a fazer o que faço hoje da mesma forma daqui a 5 ou 10 anos, vou estar ultrapassado. Está tudo em constante movimento e nós temos de estar sempre em evolução. E é o que eu faço, tento sempre estar adiantando e saber o que vou lançar no próximo mês e nos seguintes”.

No balanço do que já fez, as contas são rápidas. “Nunca imaginei ter esta ascensão e receber as pessoas que já recebi. O ano de 2022 foi ótimo e acredito que os próximos serão melhores. Só quero e queremos trabalhar com competência acima de tudo, com o prazer que tenho em cada trabalho que faço para poder apresentar o melhor ao cliente e com isso as coisas vão acontecer de forma natural.”