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Vida longa ao Zamrock, o Rock Psicadélico da Zâmbia

Falar sobre a história das músicas africanas, do rico folclore a ela inerente, dos artistas que serviram de pilares para a divulgação e promoção e nos esquecermos de falar do Zamrock, estaríamos em condição de pecado para com a história global da música popular africana e para com um dos estilos mais promissores do século 20, o Rock N´Roll.

Poucos conseguem fazer uma ligação direta entre o rock e a influência afrodescendente na origem do estilo – lê aqui a história de Rosetta Tharpe, pioneira do rock – e menos ainda conhecem o facto de a Zâmbia ter tido artistas que criaram um movimento de rock próprio que prosperou bastante na década de 1970. O Zamrock é um movimento de rock explosivo que surgiu naquele país, descrito como uma combinação de música tradicional africana com o rock psicadélico, rock de garagem, hard rock, blues e funk.

O músico Rikki Ililonga e a sua banda, Musi-O-Tunya, são considerados os criadores do novo género, inspirados pela combinação sonora entre a música de Jimi Hendrix e James Brown.

Há também nomes amplamente conhecidos que acabaram por inspirar a criatividade dos artistas do Zamrock, como os riff pesados e repetitivos de Black Sabbath, Blue Cheer, Rolling Stones, Deep Purple e Cream.

A cronologia do subgénero começa em 1964, quando a Zâmbia decretou a independência das amarras coloniais do Reino Unido e assumiu o controlo sobre aquela que era na altura a sua maior indústria, a mineração de cobre.

Com o boom económico verificado nesse período pós-colonial, a população viu os seus índices de poder de compra aumentarem, o que acabou por influenciar a dinamização do setor do entretenimento. Ao mesmo tempo, os britânicos de classe alta que decidiram permanecer no território zambiano importavam discos de rock de artistas populares, como Jimi Hendrix, The Beatles, Deep Purple, The Rolling Stones, criando uma penetração espontânea do rock na vida cultural e popular do país.

A vida dos rockstars passou a ser cobiçada pelos mais novos e rapidamente começaram a surgir bandas de covers como The Lusaka Beatles ou Rev 5.

Segundo a plataforma Open Culture, o primeiro álbum ligado ao movimento rocker da Zâmbia foi Witch – Introduction, com a produção a ter de ser feita no Quénia, o local mais próximo com uma prensa de discos.

https://www.instagram.com/p/CbkxbZnFd-M/

Contudo, de forma abrupta e sem nunca ter atingido o seu verdadeiro potencial, o Zamrock começou a perder força no final da década de 70. Era o prenúncio de um fim prematuro do estilo.

Além disso, a inflação originada pela queda no preço do cobre – que representava 95% das receitas de exportação do país – gerou um declínio económico que fez com que discos e ingressos para shows deixassem de ser acessíveis. Somou-se também a instabilidade política e social nos países vizinhos, que acabou por chegar às fronteiras da Zâmbia, levando várias regiões a terem de decretar recolher obrigatório e a sofrerem cortes de energia constantes, o que dificultava a organização de eventos.

Outro factor que contribuiu para a quase-extinção do Zamrock, segundo descrito no site Ambitions Africa, foi a epidemia de HIV – SIDA, que nos finais dos anos 80, chegou a matar cerca de 13% da população adulta da Zâmbia em apenas seis anos. Os músicos – considerando o seu estilo de vida frenético e a rara importância dada à segurança a nível da saúde sexual – eram particularmente vulneráveis ao vírus e à doença. Grande parte dos Zamrockers viria a falecer de “complicações relacionadas ao vírus HIV”.

Sem um mercado para a música e sem os artistas, o Zamrock acabou por cair no esquecimento durante um longo período mas não morreu. Mais de 40 anos depois do seu surgimento, o estilo despertou interesse por parte do público internacional e sobretudo de produtoras como as britânicas Strut e Soundway.

Mais recentemente, os uploads no YouTube de sucessos como “Suicide”, de Paul Ngozi, ou “Lazy Bones”, de Witch – deram novo fôlego ao género e algumas gravadoras começaram a desenterrar arquivos de rock da Zâmbia, remasterizando e re-editando discos.

Esse renascer permitiu que um dos sobreviventes do Zamrock, Emmanuel Jagari Chanda do Witch, chegasse inclusive a fazer uma digressão pela Europa e nos EUA, nos primeiros anos da década de 2010.

Entretanto, a conceituada gravadora norte-americana Vinyl Me, Please (VMP), especialista em produção de discos em vinil, anunciou o documentário The Story of Zamrock The Zambian Rock Sound 1972-1978, que analisa a génese do som, os pioneiros e os eventos sociopolíticos que o moldaram, além de apresentar raras entrevistas a membros dos Amanaz, Oscillations e Crossbones. Outra novidade da MVP, no final de 2020, foi o anúncio do lançamento de oito álbuns de Zamrock, sete dos quais inéditos, numa curadoria colaborativa com a Strawberry Rain Music e a Now-Again Records.

Enquanto percebemos se a segunda vida do Zamrock terá longa duração e se os proveitos financeiros que daí poderão advir, nesta nova era do streaming, serão alocados aos seus legítimos progenitores e descendentes, há também filhos da Zâmbia que estão a olhar cada vez mais para o estilo. É o caso de Sampa The Great, que acaba de lançar o álbum As Above, So Below, que presta homenagem ao Zamrock e às origens culturais da artista.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

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