Já lá vão seis anos desde que aconteceu a primeira edição da conferência Chá de Beleza Afro (CBA). O evento é um ponto de encontro onde, sobretudo, mulheres partilham as suas experiências pessoais, profissionais e ligadas ao empreendedorismo.
As mulheres têm, por norma, mais dificuldades em alcançar a liberdade financeira. A sua condição feminina associa-as a cuidadoras naturais, pelo que são as primeiras a abdicar dos seus objetivos educativos e profissionais para garantirem não só a sua sobrevivência como, muitas vezes, a da família.
Estas questões sociais ainda debatidas em escassez na esfera pública e que, quando o são, não refletem muitas vezes a intersecionalidade, acabam por remeter o problema para a sombra. Assim como as conquistas de quem conseguiu atingir os seus objetivos perdem-se nesse manto de invisibilidade.
Por isso e não só, Neusa Sousa, empreendedora, comunicadora e produtora de conteúdos da RTP África, deu vida ao projeto inspirada na falta de espaço público onde se fomente o empoderamento feminino negro. Com uma rede de contactos infindável, que foi construindo ao longo do tempo através das suas diferentes atividades profissionais, o Chá de Beleza Afro passou a ser uma plataforma que cria networking e é movimento de conexão, oportunidade e inspiração entre mulheres e homens, através de histórias de superação e sucesso.
A sexta edição do evento aconteceu no passado sábado, 4 de junho, no Fórum Lisboa, e tornou-se agora num dos maiores eventos de empreendedorismo e networking afrodescendente em Portugal.
Das áreas das artes, psicologia, política, imobiliária, e não só, passaram pelo palco nomes amplamente conhecidos como Shenia Karlsson (psicóloga), Romualda Fernandes (deputada), Nádia Silva (apresentadora de TV), Vita Malonga (investidor e empreendedor do ramo imobiliário), Roselyn Silva (estilista), Ana Sofia Martins (modelo e atriz), entre outros.
O lema deste ano foi “Viver o Seu Sucesso” para questionar e refletir sobre o que é o sucesso nas suas diferentes possibilidades e ambivalências. Tânia Fernandes, gestora financeira do CBA e organizadora do evento, contou à BANTUMEN que a ideia é “mostrar quem somos, mulheres e homens africanos e que, através da união, é possível chegar onde se quer”.
Com o networking a “rolar à solta” no Fórum de Lisboa, quem teve a oportunidade de assistir ao evento, passou a conhecer histórias de outras mulheres que arriscaram dar o passo e negócios fundados por afrodescendentes. Uma das oradoras do painel “Inglês para o sucesso”, Yonara Mateus, empreendedora e fundadora do projeto TEA e do Bantulag, uma das vantagens do CBA é poder partilhar o seu percurso cara-a-cara e ajudar outras pessoas a progredir para o sucesso. Até porque “as pessoas sabem muito, mas depois não conseguem aplicar tudo aquilo que sabem para terem uma conversa. Ás vezes, pensamos muito no inglês como fim, quando o inglês é apenas o meio”, afirmou.
O olhar de satisfação de cada mulher que passou naquele espaço e a cada troca de contacto, de conselhos sobre como empreender no digital ou como mulheres negras precisam cada vez mais de inclusão e representatividade deixaram Elisabete Moreira – fundadora da marca Kacau Tom de Pele (lingeries para mulheres negras) com o sentimento de estar no sítio certo. “É uma dor que eu sentia de não me ver representada”, disse.
As diferentes palestras foram intercaladas com dinâmicas adaptadas ao tema e alguns testemunhos reais, com debates e ação empoderadora, não só focados na mulher africana e afrodescendente, como para todos, independente do género ou nacionalidade, que se interessem sobre empreendedorismo, inclusão e humanismo.