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Fizz Escobarra, rapper da cena undergound, presenteou os seus ouvintes com o álbum The Ghost. O primeiro tema lançado no seu canal de YouTube foi “Santuz”, que despertou atenção de muitos por ser 100% em krioulu de Cabo Verde, algo que o artista não costumava fazer.
Fizz é o rapper que assume, sem esforço, a expressão, até clichê, da cultura Hip Hop: The real one, pela sua consistência, carácter e postura no cenário do Rap, e agora com um álbum maduro, onde as palavras ganham força pelas vivências e pela experiência. “Nunca tive tempo para ser imaturo / desde os 15 anos na estrada a dar no duro / Devias estar contente porque ainda estás a ouvir o puro”, ouvimos Fizz dizer na track “Davy Jones”, do LP The Ghost.
“Aqui o set é outro, estou na dos diplomatas…” ou “Protegendo os meus valores, sistema imunitário”, são outras linhas da mesma faixa, que exemplificam bem as qualidades do artista, que tem sido ao longo dos anos uma espécie de ponte, um mediador ou diplomata, entre a compreensão da vivência das ruas e do underground pelo mainstream. Tal qual um olheiro do Miratejo que mira além Tejo, um olheiro da sociedade, do comportamento humano, com análises e reflexões pertinentes.
A BANTUMEN esteve à conversa com o artista.
Sim, emigrei para UK quando saiu o meu primeiro LP, antes de redes sociais, eram tempos que precisavas de estar no terreno a promover o teu trabalho. Esses foram os tempos orgânicos do RAP que muitos se influenciaram e ganharam história. Muitos querem cair de para-quedas no game porque hoje é fácil. Existem meios para tudo. Sempre relatei sobre a minha vida, a minha realidade. Nunca rimei sobre nada que não tivesse vivido e hoje em dia já não é assim. Hoje é tudo entertainment e são todos artistas. O mais difícil, desde o tempo de lá para cá, é manter relevância e consistência, algo que foi desvalorizado ao longo dos anos. Nunca pensei em monopolizar com isto porque onde existe amor nada será feito com o objetivo do dinheiro. Dinheiro aparece com o empenho das coisas. Quanto ao impacto, os ídolos na Tuga estão sempre em mudança, no final disso tudo, quando chegas a certos patamares, muitos não serão humildes e suficientes para mencionar as suas influências porque se sentem maiores que os antigos ídolos, dos quais aprenderam muito.
Ghost porque sempre fui um fantasma no RAP game. Sempre me movimentei sozinho, rejeitei imensas ofertas de editoras. Produzo, edito vídeos, faço capas, misturo os meus álbuns, masterizo e isso tudo é muito trabalho nunca visto da minha parte. Sempre produzi os meus álbuns e não mostrei vídeos de mim a produzir, ou a gravar, ou links com imensos MCs, sessões, momentos. Estou ligado a muitas pessoas que nunca imaginarias mas nunca foi preciso mostrar nada, mesmo a vida pessoal, como me movimento, como penso, como ajo. sempre foram bastante curiosos em saber do meu sigilo. Mcs vivem de singles não fazem body of work de álbuns, o que exige mais trabalho e mais atenção. Vivemos sem paciência e num fast food type of rap world. Super consumistas em tudo, na comida, na aparência na música, queremos tudo rápido depois deitamos fora. Mas, no final do dia, sou uma pessoa real, levanto, caio, motivo, ajudo, assisto, sei de raiva da pobreza, do racismo, da injustiça, etc. Nunca fui de cunhas e ajudas, todos que me viram no game e me pediram assistência dei e nunca cobrei nada. A cobrança era respeito, e foi dado. Hoje em dia já é tudo business.
Quanto ao “Santuz” foi desafio. Oiço 1% de rap Tuga, não vou mentir, e no geral nem rap oiço. Eu já devia ter rimado em kriolu há muitos anos mas a confiança era outra e ela está muito presente neste álbum. A primeira parte do álbum é 65% em kriolu e 35% em português. Todos os meus álbuns anteriores foram somente em português.
Eu sei do meu valor como ser humano, e para mim é o mais importante. Muitos vivem da aceitação social para se afirmarem. Eu sei do valor que tenho e não me foi dado, foi cultivado. A terra é apenas terra até meteres as tuas sementes e crescerem frutos, árvores e legumes etc. Cultivei na minha horta e colhi os meus produtos. Quando as pessoas não te vêem a viver da música pensam que automaticamente falhaste. Todos os álbuns que lancei, independentes, acabaram todos esgotados, nem para mim tenho. A fama cegou muita gente que gosta de ser o centro das atenções e vive apenas para isso. Até porque hoje, os rappers são mais conhecidos por darem uma de celebridades nas redes do que propriamente pela qualidade da sua música que tem vindo a ser cada vez pior. Todos querem tocar na rádio e se ajoelharem às editoras e ocultarem muita verdade desta indústria, e quando falas a verdade és a ovelha negra. O game é muito sensível porque todos querem sentir a dopamina de serem falados no mundo da música. O que motiva a fazermos qualquer coisa na vida é o amor. Se fizeres algo durante muitos anos nunca vais perder o dom e, se funciona pela positiva, é algo que nos identifica sempre.
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