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A nova poesia moçambicana aos olhos de Melissa Dinda

16 de Junho de 2023
A nova poesia moçambicana aos olhos de Melissa Dinda

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Melissa Dinda é uma jovem escritora moçambicana que acaba de estrear-se no universo literário. Define-se como “criativa e artista” e não apenas escritora, por estar inserida em diversos formatos e subgéneros da arte como um todo. 

A sua estreia acontece com o livro Elementos, lançado pela plataforma Amazon, e que versa sobre uma autoexpressão em forma de prosa, sobre as diferentes esferas da vida e numa visão poética. Essa visão ramifica-se nos quatro capítulos que compõem a obra: Terra, Fogo, Mar e Ar, que, no caso, fazem jus ao título e acabam funcionando como uma metáfora para diferentes conceitos, que vão desde a reminiscência de memórias de infância, problemas político-sociais, a liberdade, o amor, a amizade, o desamor, a harmonia, o compromisso social e a emancipação individual e coletiva. 

Para os tempos de hoje, da conetividade e dos hashtags, a escritora conta que foi preciso abster-se do excessivo contacto social para que conseguisse escrever o livro. “Isolei-me. Sem redes sociais e com muito pouca interação social”, disse-nos. 

Todavia, apesar de a rapidez na informação, por exemplo, ou do desgaste das relações em virtude do digital, Melissa diz que não são só desvantagens. Há a vantagem de a nova geração de escritores conseguir expressar-se por esses meios menos dispendiosos. “Há muito tempo, a validade era teres um livro físico, ou teres manuscritos. Para nós, se eu me consigo comunicar através da literatura, seja através de um texto no Twitter, no WordPress, no Facebook, no WhatsApp, é válido. Já não é muito cartas ou diários, acho que essa é a maior diferença, nós somos mais ávidos em termos de encontrar expressões diferentes para a literatura”, disse a escritora.

Melissa Dinda
Melissa Dinda

Sobre o seu processo criativo, Melissa reitera o isolamento como base para a materialização dos seus projetos artísticos. Após a reclusão, surge a fase de imersão nos conceitos a abordar, e foi nesta fase que escolheu a prosa poética como pano de fundo para a sua obra, e então, dividiu os capítulos em quatro, “em analogia aos elementos da natureza”. 

Terra aborda sobre as suas memórias de infância e sobre alguma introspeção do ser humano como individual e ser coletivo. Fogo é um capítulo em que a autora traz temas como saúde mental, feminismo e problemas político-sociais.

Água (transformado em Mar pela autora): nas ondas deste capítulo, a autora discute os afetos, quer consigo mesma, quer o afeto ao próximo ou o amor romântico e simboliza ainda família, amigos, comunhão e partilha. 

No capítulo Ar, a autora escreve sobre sonhos e aspirações pessoais, bem como ideais inseridos num conceito de coletividade. 

“É sobre as minhas experiências, no primeiro lugar como pessoa, mas também experiências coletivas do ouvir, do ver, do prestar atenção, do conectar, do viajar. Então foi assim que surgiu Elementos. Foi um processo bonito.” 

Melissa Dinda
Melissa Dinda

Elementos é assim, uma obra para todos e que rompe, na visão da autora, os preconceitos geracionais e a barreira da idade, devido à pluralidade dos temas abordados e à própria forma do texto. 

“As pessoas que fizeram a revisão do livro em primeiro lugar eram pessoas adultas. Fiz de propósito, para saber como é que uma pessoa que não é da minha geração, que não tem o mesmo fio de pensamento ou vivência sócio-cultural comigo, vai conseguir conectar com uma obra  que escrevi. Então, nesse processo, quando tive o feedback “continua a escrever, faz sentido, melhora aqui, melhora ali” foi quando vi que sim, a escrita une e é sobre isso.

Melissa Dinda nasceu e cresceu na cidade de Inhambane. Atualmente a viver na capital Maputo, tem como área de formação académica Psicologia Social e Comunitária, pela Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique, e Iowa Wesleyan University nos EUA. Profissionalmente, atua na área de Marketing como Media Planner.

Interessada em questões sociais, Dinda já representou Moçambique na Cimeira da União Africana, em Kigali, no Ruanda, como ativista social pelos direitos da rapariga. É também co-fundadora e líder do movimento literário “E”ntrecho de Arte e, além de atividades na música, dança e literatura, é atriz de voice-over.

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