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“Sementes” de MCK é sabedoria da rua

5 de Junho de 2024
“Sementes” de MCK é sabedoria da rua

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Seis anos depois de V.A.L.O.R.E.S, o rapper e ativista angolano MCK lançou a 30 de maio o seu quinto álbum, Sementes. São 11 faixas onde solta a palavra, e o som, sobre a realidade social, política e económica que se vive atualmente em Angola. O álbum vai ser apresentado ao vivo, este sábado, 7 de junho, no MusicBox, em Lisboa. Ao palco vão também subir Gilmário Vemba (que acordou o seu MC Esquecido); a artivista brasileira Bia Ferreira e o incomparável Valete.

Sementes foi pensado para ser lançado em 2023, mas MCK optou por não o divulgar até que conseguisse reunir todos os elementos necessários para garantir uma obra quase perfeita. A transição para 2024 teve por base a racionalização de recursos humanos e financeiros, e a selecão criteriosa de cada profissional que contribuiu para edificação da obra”, explicou-nos o artista.

A produção dos instrumentais esteve a cargo de Nino Jazz no piano, Luís LR no baixo, Dalu Roger na percussão, Omar na bateria. Sementes traz também outros nomes na produção, como o francês Aksil, Silindro Dark Room, Marcial, Boni Diferencial, Tracks Pro, Ricardo 2R & Camufingo, sem esquecer a especial participação de Daniel Nascimento na composição, e que MCK considera um “génio criativo”.

Formado em Filosofia e Direito, Katrogi Nhanga Lwamba, de 43 anos, é detentor de uma das canetas mais “críticas” do cenário musical angolano. O cantor, compositor e produtor, é conhecido por criar obras sonoras de intervenção social, com mensagens que lançam o alerta para a estratificação e degradação social em Angola.

O ciclo de crescimento humano e das plantas, onde cada estágio de crescimento é valorizado para um bom desenvolvimento até chegar à maturação, foi o processo que inspirou o título do álbum. “A ideia é fazer comprender que, ao contrário do cigarro, que nasce grande e morre pequeno, as pessoas e as plantas nascem de pequenos rebentos e fazem-se enormes ao longo do tempo”, explicou MCK.

O artista acredita que Sementes é o seu melhor álbum. Talvez, por ter conseguido uma fluidez sonora quase perfeita, que cruza o acústico com o programado, o que acaba também por refletir a maturidade etária e artística do músico. “É um álbum mais esclarecido e maduro. A abordagem é transversal ao nosso contexto político e social, com uma escrita híbrida que cruza conhecimentos científicos com a sabedoria da rua, uma escrita que traduz sonhos, dores, aspirações, dúvidas e outras narrativas da dura realidade que assola o nosso país”, confidenciou-nos.

Nos últimos cinco anos, ao viajar de um ponta a outra de Angola, MCK adquiriu uma nova perspetiva de vida e realidade. O seu lado artístico levou-o a visitar diversos locais, tanto rurais quanto urbanos, incluindo esquadras policiais, tribunais, universidades, salas de espetáculos e auditórios de conferências, além de comunidades abandonadas. Essas experiências permitiram-lhe observar, em muitos casos, a ausência de intervenção governamental. É com base nessas experiências que alimenta a sua caneta e que transforma o microfone na sua arma de guerra.

Sobre o processo criativo, “é variável em função do momento emocional que estou a viver. Regra geral, são as situações quotidianas que estimulam a criação de um tema, a criação do conceito e a seguir a construção das rimas sobre aquela realidade concreta. Existem casos que é um instrumental ou sample de uma outra música, que te leva a discorrer na escrita sobre um determinado assunto, outras vezes, a ideia nasce de um estudo científico, de um debate, ou uma conversa do bairro… É muito relativo e variado esse processo. Não existe uma única fórmula, nem sou invadido por um momento de inspiração divina. Preciso apenas ter tempo e estar num ambiente sossegado para criar“, explica.

Numa comparação injusta com os álbuns anteriores, Sementes, além do abandono do conceito de 15 faixas, mais introdução explicativa, a essência é outra e há dois nomes ausentes: Flagelo Urbano e Ikonoklasta. Condutor, que também sempre foi presença assídua, neste Sementes assina apenas “Mulher Inteira”. “Não tenho neste álbum os habituais samples de música africana, a regular presença do Conductor e Flagelo Urbano, músicos que eu muito admiro e respeito, e nota-se a ausência do Ikonoklasta, tradicional convidado dos álbuns anteriores”, sublinhou.

Sobre a crítica do público, ao receber este Sementes, “sinto-me seguro em relação ao nicho de consumidores preocupados com a arte pura e genuína“, disse. “Falo do público que se preocupa com conteúdo ao invés da polémica ou todo o barulho em volta dos lançamentos… Essas pessoas vão se deparar com o melhor álbum do MCK“, garantiu. Apesar de o seu nome não compor os cartazes de grandes festivais ou o alinhamento de importantes programas televisivos, o artista garante que encontra “acolhimento e respeito de gente que valoriza arte pura e valoriza a música engajada”.

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