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Coliseu esgotado para ouvir “reEncanto” de Mayra Andrade

October 16, 2023
Coliseu esgotado para ouvir “reEncanto” de Mayra Andrade

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Pontualmente às 21h deste sábado estávamos no Coliseu de Lisboa para ouvir e ver Mayra Andrade acompanhada por Djodje Almeida. Um quarto de hora mais tarde, as cortinas abriram-se e deixaram a descoberto o palco com uma cadeira e uma poltrona vermelhas, várias plantas, de vários tamanhos e feitios e um candeeiro do estilo dos anos 1980. Sentimos-nos acolhidos na sala de um familiar que há muito não víamos e de quem as estórias ansiamos por ouvir.

Djodje Almeida começou a tocar alguns acordes na sua viola acústica, dando início a este reencontro com Mayra Andrade nos palcos lisboetas. De cabelo apanhado, vestido comprido verde com padrões em harmonia com o tom das plantas, pele brilhante e, com um sorriso, a artista fez uma vénia para cumprimentar o público. De reco-reco na mão, “A-mi n kre-u txeu” deu início ao alinhamento, seguindo-se “ Konsiénsia”, que acompanhou com uma tchabeta, instrumento tradicionalmente usado no batuko.

“Houve uma necessidade muito profunda que senti, no ano passado, em paralelo com outros projetos… Senti a necessidade de voltar a um ventre do qual nasceram estas músicas todas… Como as letras desde Navega a Lovely Difficult, ao Manga, entre outras. Foi como voltar à génese. Vocês nunca me ouviram a cantar estas canções de forma tão pura. Porque foram escritas com um violão… Fizemos quatro espetáculos no ano passado e deu vontade de continuar(…) Estou em casa, neste palco, que pisei quando tinha 15 anos para representar a nova geração com outras três gerações da música cabo-verdiana, então, não se deixem intimidar por este palco intimista. Se quiserem cantar, cantem, se quiserem dançar, dancem. Obrigado por estarem aqui”, ouvimos Mayra dizer antes de cantar “Stória, Stória”.

Concerto “reEncanto” / Foto: Irís Maximiano

“Nha Sibitchi” e “Plena” foram as músicas que o público ouviu logo de seguida. Ao longo de todo o concerto, ouvimos Mayra falar de cada uma das músicas que criou e interpretou. Sobre “Plena”, escreveu-a numa noite de lua cheia em que nem a beleza da plenitude lunar foi suficiente para afastar a melancolia que sentia naquele momento. Há algum tempo afastada dos palcos por conta da maternidade, parece que Mayra teve tempo para digerir e ressignificar o que fazer música representa para si, tendo encontrado vários paralelismos entre a nova fase que está agora a viver, enquanto mãe, e o fazer nascer uma música. “Há momentos em que as músicas saem completas e outras não, parece um parto onde ficas a torcer para dar certo”, chegou a dizer entre uma música e outra. Também talvez por isso tenha escolhido a palavra “reEncanto” para esta apresentação. O recurso a palavras como “parto”, “ventre” ou “gerar”, deixaram-nos sentir que houve uma simbiose entre a gestação de Mayra Andrade e a concepção deste concerto.

A eloquência lírica da cantora permite-lhe contar os seus sentimentos e experiências mas, sobretudo, as estórias que a todos são próximas, principalmente ao povo insular. Mayra canta o pescador que procura sustento para a família, canta sobre o “flado-fla” (diz que disse, em português), sobre o contraste geracional da época da “sementêra” (do cultivo) e da sua importância na economia rural do povo, da resiliência do emigrante… Mayra canta em crioulo, em português e em francês, reflexo também, dos lugares onde já viveu por esse mundo fora, aproximando ainda mais públicos às músicas que cria.

Concerto “reEncanto” / Foto: Irís Maximiano

Mayra rendeu várias homenagens aos que abriram caminho para si mas a homenagem mais sentida ficou reservada para o pai. Carlos Andrade, que como a própria descreveu como o seu “fã número zero”, foi o primeiro a visionar a carreira de artista da filha, quando esta tinha cerca de sete anos. A ele dedicou a canção que terá sido escolhida pelo próprio, pelo facto de se tratar de uma letra que descreve Cabo Verde, que honra a sua geografia e dignifica a sua história no mundo. “Terra longi” destaca também a luta pela independência do arquipélago composto por 10 ilhas. Cabral é citado, assim como em outras músicas a artista fez questão de reverenciar Kaká Barbosa, Mário Almeida, Orlando Pantera, Cesária Évora e ainda Princezito.

Para encanto de todos os que a foram assistir, as duas horas de concerto foram preenchidas com detalhes do processo de criação de cada canção e de música pura, no seu estado mais virgem e sincero. Não foi apenas um concerto, foi conhecer uma Mayra por dentro, as suas dores, felicidades, lutas, e o amor que tem pelas coisas, foi entrar na casa de Mayra Andrade, no seu coração, e sentir-se abraçado pela sua música.

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