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Como a fotografia ajudou Enzo Sinai a sair da sua zona de conforto

December 6, 2023
Como a fotografia ajudou Enzo Sinai a sair da sua zona de conforto

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O plano de Enzo Sinai sempre foi ingressar na universidade e formar-se em Direito. No entanto, durante a pandemia, surgiu uma nova paixão: a fotografia. Sem experiência alguma, transformou um simples gosto numa possível carreira de sonho. Em conversa com a BANTUMEN, Enzo contou-nos sobre como a fotografia o ajudou a sair da sua zona de conforto.

Enzo Sinai nasceu e cresceu em Maputo, Moçambique. Sempre quis seguir arte mas não teve a oportunidade de o fazer no secundário, por não gostar de desenho e achar que a arte se reservava a quem tivesse uma aptidão específica. “Ou nasces talentoso ou não tens mais para onde ir”, declarou relembrando. Ainda assim, foi experimentando. Durante a pandemia, voltou de férias a Maputo e, com o tempo livre, decidiu começar a explorar o que gostava. Foi experimentando tirar fotos no telemóvel, editar, praticar design e artes visuais em 3D. 

Com uma câmera emprestada da irmã, regressou a Portugal e começou a praticar nas ruas do Porto. “Voltava da faculdade e ia para casa testar. Tirava fotos de plantas, de pedras, de galinhas, de cães e fui testando todos os dias “, diz Enzo. Mas a sua primeira oportunidade surgiu numa sessão fotográfica para a marca Taikonaut, do designer moçambicano Teosson Chau. “Eu conheci um jovem, que por acaso era moçambicano, que me apresentou ao Teosson. E o Teosson queria tirar umas fotos para a marca dele. E eu não tinha nenhuma experiência em tirar fotos às pessoas. Fui ao youtube, pesquisei e vi “Ah! É assim como se tira fotos às pessoas” e depois experimentei – e até que saiu uma coisa nice” contou-nos. 

Tão “nice” que a experiência contribuiu para que Enzo quebrasse um outro obstáculo: a timidez. “No início, tinha muito medo de fotografar pessoas. Sou muito tímido – era antes, mas agora nem tanto. Sempre quis fotografar pessoas mas tinha esse medo e, depois dessa experiência, decidi tentar sair da minha zona de conforto e comunicar-me melhor com as pessoas. Porque a cena de fotografar pessoas envolve muito a tua comunicação e eu tenho um bocado de problemas com isso, então uso isso para melhorar”, confessa. Sendo a sua primeira experiência profissional, foi nesse momento que Sinai apercebeu-se de que era possível seguir fotografia como carreira. 

Autoditado, Enzo teve que criar as oportunidades por si. Começou por enviar mensagens a pessoas e foi conhecendo outras que o levaram a conhecer outros contactos. “E ainda faço isso. Ainda vou criando as oportunidades para mim mesmo. Não paro por lá, é sempre uma coisa constante”. 

Sinai descreve o seu estilo como cru, natural e surreal. “Digo surreal porque, muitas vezes, posso tirar umas fotos e no momento começo a transformar aquela foto como se não fizesse parte da realidade”, conta-nos. Aponta o fotógrafo Ray, conhecido por acompanhar o artista norte-americano Travis Scott, como maior influência. Explica que Ray o fez ver que podia praticar fotografia à sua maneira, sem seguir padrões. “Foi com ele que comecei a perceber que podes fazer fotografia da tua maneira. Por acaso, sempre olhei para a fotografia mas nunca olhei com os olhos que tenho agora. Sempre olhei como algo mais bonito, formal e nunca dessa maneira mais alternativa”. 

Atualmente, Enzo Sinai apresenta um portfólio bastante diverso e único. Já fotografou para festas, eventos de moda, marcas, entre outros. Ski Mask, The Slump God, Derek Luccas e Wet Bed Gang são alguns dos nomes incluídos no seu portfólio. Porém, ainda sonha um dia colaborar com Cruel Santino, artista nigeriano.

Em agosto deste ano, foi reconhecido pela Hypebeast Africa, plataforma que se foca na cultura africana e diáspora. No entanto, sente que o seu “boom” deu-se no Portugal Fashion Week, onde teve a oportunidade de trocar contacto com várias pessoas, de vários meios e culturas diferentes. Quando questionado sobre a reação dos familiares, confessa que os pais ainda não se aperceberam do tamanho do seu sonho. “Acho que eles apoiam a paixão mas ainda não perceberam a dimensão. E eles também não sabem de muita coisa. Sabem que tiro fotos mas não percebem a dimensão com que vejo isto”. 

De momento, o aluno finalista de Direito diz que gostava de focar-se apenas na arte. “Agora é só isso que quero. Se for para estudar, que seja algo relacionado com isso.” E um dos objetivos é, “até ao final do próximo ano, já ter um corpo de trabalho grande de editoriais e ter o meu trabalho partilhado em revistas grandes. Por acaso gostaria muito de, no próximo ano, voltar a Moçambique. Ir para lá e tirar o maior proveito daquilo que nós temos, da nossa cultura”. 

No final da entrevista, Enzo Sinai admite que, apesar de já ter experiência, sente que ainda tem muito a aprender mas aconselha a quem esteja a começar para tentar. “Tenta. Só tenta. Faz. Não importa onde isso vai, em que direção. Se for para esquerda, direita, isso vai chegar a algum lado. Ao menos dá o primeiro passo”. 

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