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MIA 2024

Um Jardim Crioulo na Bienal de Veneza para pensar a revolução através dos ideais de Amílcar Cabral

April 25, 2024
Um Jardim Crioulo na Bienal de Veneza para pensar a revolução através dos ideais de Amílcar Cabral

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A artista Mónica de Miranda, juntamente com Sónia Vaz Borges e Vânia Gala, é uma das responsáveis pela a manifestação estética “Jardim Crioulo”, do projeto “Greenhouse”, escolhida para representar Portugal na 60.ª Bienal de Arte de Veneza, Itália. Estivemos com a artista para melhor compreender a estética e as reflexões por trás do projeto fundeado nos ideias de Amílcar Cabral sobre revolução e ambiente.

Este ano, a bienal traz como tema “Foreigners Everywhere”, que, em tradução livre, significa estrangeiros por toda a parte, que é também um dos pontos de arranque da narrativa do “Jardim Crioulo”.

“Reflectirmos-nos como estrangeiros no lugar em que nascemos e estarmos a representar Portugal, sendo que é a primeira vez em que há artistas e curadores com descendência africana a representar o país, tentámos virar ao contrário o espaço que em si tem uma carga colonial muito grande. Temos de pensar que Veneza foi um porto onde tudo passava, de Ásia, América e África, então, tentar criar uma exposição num espaço com esta carga não foi fácil e, especialmente, neste ano em que comemoramos 50 anos da revolução do 25 de abril e o centenário de Amílcar Cabral. Era muito importante fazermos para nós uma reflexão à volta de como é que as lutas de libertação em África foram essenciais para que o fascismo e a ditadura se desmanchassem em Portugal”, explicou a artista.

Além de celebrar os 50 anos do 25 de Abril, este “Jardim Crioulo” reflete assim o início das independências dos territórios africanos ocupados por Portugal, elencado ao pensamento de Amílcar Cabral e de outros pensadores africanos, que foram fundamentais para derrotar o regime colonial e que implementaram estratégias importantes de libertação. “Neste centro de pensamento europeu, queríamos contrapor com um espaço vivo, daí as plantas”, indicou Mónica. Este jardim “é um lugar também para chamar novas formas de interpretação e um lugar onde processos de regeneração podem acontecer, a partir do solo que se vai curando, a partir do solo que foi exaustivamente cansado por práticas monoculturais. (…) Amílcar Cabral defendia que defender a natureza é defender a humanidade. E o solo carrega em si histórias e memórias das lutas de libertação, de pensar como é que se fazem as lutas. Ele dizia que não se conseguiria pensar nas lutas de libertação sem pensar nos solos em si. Então, fez-nos muito sentido trazer todos esses elementos como matéria criativa para apresentar a nossa proposta, que é uma proposta múltipla entre uma artista visual, uma coreógrafa e uma investigadora”, concluiu.

A parte central do “Jardim Crioulo” da “Greenhouse” acolhe um vasto programa de “ações interdisciplinares e transformadoras” e é composto por plantas provenientes da botânica tropical, cultivadas segundo os princípios da permacultura e da agricultura sintrópica, caracterizada pela organização, integração, equilíbrio e preservação de energia no ambiente.

A inauguração da 60ª edição da Bienal de Veneza aconteceu no sábado, 20 de abril, e estará aberta ao público até 24 de novembro de 2024.

Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP), a mostra deste ano coloca novas vozes artísticas em destaque.

O título Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere foi inspirado numa série de trabalhos iniciados em 2004 pelo coletivo Claire Fontaine, criado em Paris e radicado em Palermo, na Itália. As obras consistem em esculturas de neon em diversas cores, que reproduzem em diferentes idiomas as palavras Foreigners Everywhere. Já a frase, por sua vez, faz alusão ao nome de um coletivo de Turim que lutou contra o racismo e a xenofobia na Itália, no início dos anos 2000. De acordo com Adriano Pedrosa, a expressão Stranieri Ovunque tem vários significados. “Em primeiro lugar, onde quer que você vá e onde quer que esteja, você sempre encontrará estrangeiros – eles/nós estamos em toda parte. Em segundo lugar, que não importa onde você esteja, você é sempre verdadeiramente, e no fundo, um estrangeiro”.

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