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Falámos pela primeira vez com Alice Costa no final de 2020, depois da sua aparição num programa de televisão do canal português português SIC, onde, vestida com uma farda do exército português, interpretou de forma estonteante a música “Foi Deus”, um fado de Amália Rodrigues.
Hoje, passado quase três anos, Alice é das artistas de música portuguesa mais promissoras dos últimos tempos, que ganhou maior destaque entre comunidade negra em Portugal e na diáspora depois do lançamento do single “Sombra”, onde a artista introduziu-nos ao afro-lusitano, uma fusão do fado com as sonoridades do afro-beat, kizomba e amapiano.
Alice nasceu e cresceu em Marvila, Lisboa, é filha de pais guineeses e esteve no exército português por mais de seis anos. Agora, fora dos compromissos com a Orquestra Ligeira do Exército, juntou-se à produtora Kavi Music para dar asas à sua carreira musical, que já conta com pelo menos dez anos.
A artista tem duas faixas bem orelhudas nas plataformas de streaming, “Sombras” e “Sonhava”, e algumas colaborações, com destaque para “Nha Nome”, do DJ Buruntuma e “Plano, de Mandas, também DJ.
Nesta entrevista, Eddie Pipocas mergulhou no mundo musical da artista e explorou os seus primeiros passos enquanto cantora e a transição do serviço militar para os palcos a solo. Ao longo da conversa, Alice explicou o que é o estilo afro-lusitano, com o qual quer redefinir fronteiras musicais.
Alice Costa: Já havia uma pequena preparação, pelo menos desde 2020. Agora não me recordo o ano em que fui à televisão, mas desde 2020, na pandemia, que eu andava a preparar este projeto da “Afrolusitana”
Alice Costa: É, é. É como me apresento, é o que eu quero representar e é aquilo que sou. Os americanos costumam sempre dizer afro-americanos. E eu, como nasci aqui, pensei, olha vou pôr afro-lusitana, porque falamos em português, não é, e não é um termo muito utilizado. E pensei bem, é este o novo género que eu vou criar para mim, para a minha identidade musical.
Alice Costa: Esse género é uma fusão de fado com afrobeats e músicas africanas, mas é um pouco redutor dizer “música africana” ou só afrobeats. É o fado, afrobeats, kizomba, se for o caso, o amapiano. Essas misturas, essas fusões que vão existindo muito agora, embora no meu projeto ainda não misturei com o amapiano. Estou simplesmente a tentar misturar com um foco principal, que é o afrobeats.
Alice Costa: Está a ser preparado desde o ano passado, a ser mesmo preparado, a questões de gravações e de vídeos e tudo mais. Aliás, o primeiro vídeo que lancei já o tinha há um ano, praticamente. Só que como gostava de andar no exército, não queria estar a juntar as duas coisas. Depois é difícil gerir e tudo mais, esperei até completar os seis anos , saí e depois é que comecei a lançar as coisas.
Foi um acaso do destino. Estava a terminar a minha licenciatura e estava a ter aulas de canto. Sempre trabalhei como corista. As pessoas estão a conhecer-me agora como Alice mas já estou nisto há muito tempo. Há dez anos, a trabalhar para outros artistas, a fazer coros e depois quando tinha 22 anos, conheci o meu professor de canto que me indicou para uma orquestra que necessitava de uma cantora. Como já tinha a experiência de fazer coros para outros artistas, mas era uma trabalho freelancer pensei que era uma oportunidade. Na altura não tinha noção de que era para o exército. Na altura, fui fazer as audições e só quando cheguei lá é que percebi que era mesmo do exército. E foi assim. Depois fui fazer a recruta, fiz a incorporação toda e fiz o meu percurso lá como vocalista. Foi lá que cresci também, não só como artista mas como pessoa. Aperfeiçoei ainda mais o meu canto, a cantar o fado, que é uma coisa que já ouvia mas não cantava muito, então foi muito importante para dar este passo que agora estou a dar.
Alice Costa: Sim. Na verdade, virei uma militar mas da música. Porque a minha função lá era simplesmente cantar. Era ser vocalista deles e andar de norte a sul do país em digressões.
Alice Costa: Haver havia, mas não seria muito provável. Também saí antes disso tudo acontecer.
Alice Costa: Olha, simplesmente passou-me ao lado. Não pensei muito nisso, primeiro, porque são estéticas muito diferentes, pelas vivências de cada uma. Ela tem a sua arte, eu tenho a minha. Eu intitulo-me de afro-lusitana porque é o que sou. Uma portuguesa com experiências africanas. Não é a mesma coisa viver numa sociedade portuguesa sendo negro ou sendo branco, não é a mesma coisa. Por isso são estéticas completamente diferentes. É muito boa cantora, também gosto, e foi uma das cantoras que apreciou o meu projeto mas nas não foi nada que me preocupasse. Há muito anos que já digo, “estou a sentir que o mercado português precisa de uma mudança, a nível sonoro”, porque, não querendo desrespeitar ninguém, gosto de todos os géneros de música, mas sentia que infelizmente nos metiam numa gaveta. E pensei, e aqueles que nascem aqui e que mesmo os que não nascem aqui e que fazem parte? Nós todos fazemos parte. Não temos de estar engavetados num sítio e não podermos estar noutros sítios. Foi essa deixa que me fez pensar neste projeto. Pensei, vou fazer uma coisa que me identifique e que, se Deus quiser, (estou a tentar) derrube esses telhados de vidro. É isso que tenho tentado fazer. Ainda estou no meu percurso, não é um sucesso muito grande mas para mim tem sido porque, para quem viveu sempre naquele ambiente e numa busca incessante do que iria fazer, para mim está a ser um sucesso. Tinha muito medo que não fosse aceite ou fosse comparado com a Ana Moura mas, por acaso, não tenho visto essa abordagem.
Tem sido maravilhoso. O feedback que mais tenho tido é de africanos. E sabes que eu pensava como estou a cantar assim, com essas nuances do fado, o meu público, que para mim são os africanos, o meu alvo são eles, apesar da música ser global e para todos, mas pensei se calhar não vou ser bem aceite porque é uma sonoridade nova e não estou habituados a ouvir. Mas fui surpreendida. Os que mais me têm dado apoio, todas as mensagens, todo o carinho, tem sido a maior parte, aliás 99%, tem sido do público africano.
Alice Costa: A ligação com a Kavi nasceu já há muito tempo. Antes sequer de ter este projeto preparado. Na altura, não sei se foi antes do vídeo “Amor a Portugal” ou depois, eles já tinham entrado em contado comigo mas como eu estava no exército, nós fazíamos muitas digressões e concertos, por ano fazíamos 60 concertos, e não tinha a possibilidade de enveredar num caminho a solo. Na altura, em 202, falámos, expliquei e não conseguimos trabalhar juntos. Mas como eu já estava a preparar-me para sair em 2023, tive conversas com outras produtoras mas a que mais me interessou foi a Kavi e aí começámos a trabalhar e tem corrido bem.
São africanos que têm interesse na música africana, na música europeia, na música global. Porque o interesse deste projeto não é a segregação mas sim a inclusão. É para todos. Eu costumo dizer que os afro-lusitanos não só aqueles que nascem em Portugal, são todos aqueles que ouvem este género que estou a fazer, cantado em português (…) em crioulo ou inglês.
Alice Costa: É um misto dos dois. Vou nas calmas, mas ao mesmo tempo, daqui a uns cinco anos, eu digo manifesto, gosto de manifestar. Gostava de, daqui a cinco anos, ser uma artista o mais bem sucedida possível. Estou a tentar. Vivendo com calma, projetando, fazendo planos mas, obviamente, tendo sempre o objetivo de ser o mais bem sucedida possível.
Alice Costa: Sim, também é verdade. Temos uma energia diferente e é impossível ficar indiferente.
Alice Costa: Incrível. Como fui militar durante muitos anos, Às vezes, ficamos com muito medo, pelo menos falo por mim, ficava com muito medo de sair dessa área de conforto. Sempre tive o sonho de ser cantora a solo mas andei muitos anos a cantar para outras pessoas, estive em vários grupos, até de rock, cantei de tudo um pouco… Menos ópera, ainda não cantei ópera. Então, sempre tive medo de dar esse passo e vendo o que está a acontecer, em tão pouco tempo e a receção que estou a ter, é incrível. E só vamos ainda a meio do ano. Espero que estas boas notícias continuem assim e que este percurso seja bonito, porque canto do coração. É a coisa que sei fazer. Até porque é realmente a única coisa que sei fazer, de resto, esqueçam. (risos)
Alice Costa: É eu sentir-me bem comigo mesma. É eu estar afazer aquilo que gosto, porque há label e artistas que estão a fazer aquilo que não gostam, e eu tenho a sorte de ter uma equipa que apoia-me, acredita no meu projeto e dá-me essa liberdade artística.
Alice Costa: Sim, adorava, adorava. Primeiramente, passa por mostrar este projeto, este afro-lusitano, como eu costumo dizer, nos restantes países. Se um dia puder ser algo global, por que não passar pela Nigéria, pelo Gana? Olha, seria um enorme prazer, seria mesmo um desafio grande, mas que estou pré disposta, se houver essa oportunidade, de o fazer.
Alice Costa: Estão a surgeir. É uma fase ainda embrionária. Só lancei dois singles e os festivais requerem, pelo menos lançares, claro que tenho mais músicas gravadas. Mas lançadas e com resposta do público ainda sou uma “recém nascida”. Tenho tido poucos convites ainda, o que é normal porque estou numa fase embrionária mas estou a preparar-me para isso. Conto este ano ir à Guiné, era para ter atuado no Sol da Caparica mas por problemas técnicos não consegui.
Alice Costa: A união da comunidade negra na Europa é crucial para promover o sucesso e a inclusão. Quando estamos unidos, temos mais força e capacidade de alcançar novos patamares. É importante que nos apoiemos mutuamente e celebremos a nossa diversidade.
Alice Costa: Quero continuar a crescer na minha carreira e espero ser uma artista bem sucedida. Além disso, desejo que o projeto afro-lusitano alcance um público global. Estou preparada para os desafios e estou entusiasmada com o que o futuro reserva.
Alice Costa: Tenho algumas surpresas preparadas, mas ainda não posso revelar tudo. O importante é que estou a trabalhar em novos projetos e a explorar novas sonoridades. Fiquem atentos, porque vem aí muita coisa boa!
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