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Raquel Machaqueiro ensina a falar sobre escravidão e comércio transatlântico de escravos

Raquel Machaqueiro
📷: Portuguese Gravity / Unsplash

Raquel R. Machaqueiro é antropóloga, autora e uma das líderes do Slave Wrecks, uma rede internacional de investigadores e instituições do Museu da História Afro-Americana, que utiliza a arqueologia marítima, a pesquisa histórica e o estudo de navios negreiros para aprofundar e desmistificar as ramificações do comércio transatlântico de pessoas africanas escravizadas. O projeto deu aso também a uma formação – Histórias Difíceis e Legados Difíceis -, a acontecer em julho, na Fundação Calouste Gulbenkian, para professores, mediadores de museus e outros profissionais da área educativa na abordagem desse período obscuro da História portuguesa, em específico, e europeia, em geral.

Nesta entrevista conduzida por Lea Komba, Raquel Machaqueiro falou sobre a necessidade de se reestruturar o modo como a história da exploração do continente africano é ensinada no sistema educacional português e sobre como a sociedade portuguesa é ainda afetada por preconceitos enraizados na memória coletiva.

Com a intenção de catalisar discussões sobre história, racismo e inclusão no meio social português, especialmente entre os estudantes, Raquel leva a iniciativa Slave Wrecks Project, apoiada pela Embaixada dos Estados Unidos, para diferentes localidades de Portugal, e impulsiona debates sobre o legado do tráfico de escravizados e a falta da humanização da história nas universidades portuguesas.

Raquel Machaqueiro enfatiza que um dos grandes problemas no modo como a história do legado de exploração de Portugal em África é ensinada, é a simplificação dos factos; além de criticar o modo como os acontecimentos são denominados. Na sua perspetiva, tal simplificação da história leva a um ensino sem detalhes e no qual alunos de descendência africana não se revêem. Para acrescentar, fala-nos sobre o impacto económico da exploração para o desenvolvimento de Portugal, criticando a falta de estudos e arquivos públicos, tanto a nível micro como macro-económico, que constatem o desenvolvimento das riquezas de Portugal durante o período de exploração africana.

Ao abordar sobre como questões de racismo são discutidas na sociedade portuguesa, Raquel afirma que são conversas que se tornam “difíceis” em meios mais informais. Dentro destes meios informais, a investigadora explica que “pessoas brancas são as que menos são confrontadas com este tipo de questões, pois não vivem o problema à flor da pele”, e afirma que a reação defensiva, de “auto-flagelação”, é o que torna a conversa mais difícil. É exatamente por isso que Raquel considera que existe a necessidade de mais pessoas brancas participarem de discussões sobre racismo e inclusão, para que se tornem parte da solução ou minimização do problema.

Apesar de não ter uma perspetiva optimista sobre as questões de discriminação racial em Portugal e no mundo, Raquel Machaqueiro afirma que, por exemplo, a presença de pessoas de origens diversas em salas de aula, contribui para que jovens e crianças já cresçam com uma perspectiva de mundo mais abrangente. No entanto, cabe às escolas tomar medidas estruturais para que essa inclusão seja efetiva a todos os níveis académicos, e crê que é na educação que se começam a lançar as sementes de uma sociedade mais inclusiva.

Sobre o crescente discurso de ódio contra minorias, sobretudo entre jovens universitários, a investigadora aponta o dedo à normalização de agendas abertamente racistas de partidos políticos de extrema-direita e espera que as instituições educacionais respondam de forma assertiva a estes episódios sem qualquer ambiguidade pois, como a mesma afirma, “o racismo mata”.

Numa reflexão profunda sobre o estado atual da nossa sociedade, Raquel acredita que o maior acesso à informação, facilitado pela Internet, não significa ter uma melhor educação. “As pessoas vivem na ilusão de que estão mais informadas”, contudo, o que acontece é a seleção do tipo de informação que é conveniente – e o que os algoritmos entendem como conveniente para aquele perfil. Esse processo resulta no confinamento das pessoas dentro das suas próprias bolhas ideológicas, isoladas de perspetivas divergentes.

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