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Leopoldina Fekayamãle e a literatura produzida em África e para África

Leopoldina Fekayamale | DR
Leopoldina Fekayamale | DR

Em termos de currículo, falar de Leopoldina Fekayamãle, é enumerar um sem número de coisas. A angolana, do Namibe, é professora e co-fundadora da biblioteca comunitária Mbanje do Livro, membro do coletivo Ondjango Feminista, faz parte do Conselho Consultivo Jovem do Centro de Arte Moderna Gulbenkian, em Lisboa, e frequenta atualmente o mestrado em Mitos Contemporâneos: Literaturas, Artes e Culturas na Universidade Nova de Lisboa.

Nesta entrevista, conduzida por Lea Komba, Leopoldina começa por explicar no que consiste o seu trabalho no recém formado Conselho Consultivo Jovem do Centro de Arte Moderna. Passa, sobretudo, pelo exercício de questionar. “Apesar de [a Gulbenkian] ser essa instituição muito importante e de ocupar muito espaço [no universo da arte em Portugal], muitas vezes não consegue chegar aos jovens, principalmente, dos 20 aos 30 anos, e o objetivo deles é aproximarem-se mais desses jovens. Por isso, decidiram criar este Conselho Consultivo”, começa por dizer. Depois de compreender todo o trabalho e ramificações do Centro de Arte Moderna, o propósito dos respetivos membros é observarem quem entra e quem fica de fora – e os seus porquês – das escolhas de exibição ou de estudo do Centro.

A conversa deriva principalmente por uma reflexão sobre o impacto da literatura e da escrita para a comunicação dos ideais independentistas nos povos colonizados na época, para que se iniciasse um processo de emancipação política. Leopoldina recorda como, por volta de 1880, quando a imprensa foi introduzida na maior parte das então colónias portuguesas. A par do jornal oficial do Estado, foram surgindo publicações independentes, principalmente de pessoas mestiças, mas também de pessoas negras que conseguiram ter acesso à escolaridade. “Essas pessoas já publicavam alguns textos com caráter de contestação, a refletir sobre as desigualdades do período colonial e a criticar”, indica.

A literatura do tempo colonial, produzida pelos colonialistas portugueses na altura a residir nos territórios africanos, não representava os povos colonizados mas sim a visão do colonizador e sentia-se a necessidade de criar narrativas que espelhassem as necessidades e experiências do povo subjugado.

A literatura do tempo colonial não representava os povos colonizados mas sim a visão do colonizador e sentia-se a necessidade de criar narrativas que espelhassem as necessidades e experiências do povo subjugado.

Nesta entrevista, Fekayamãle chama também atenção para o discurso perigoso que muitas vezes se difunde entre diversas pessoas dos PALOP, que acreditam que “talvez fosse melhor continuar com a colonização, deste modo não sofreríamos tanto hoje”. Leopoldina afirma que este discurso representa a falta de contacto com a literatura da época colonial que conta a história real sobre as vivências dos seus antepassados nos séculos XIX e XX.

Reconhecendo que apenas uma porção limitada de pessoas na época tinha acesso aos textos, poemas e jornais que pautavam ideais independentistas, principalmente nas décadas de 50 e 60, a literatura serviu ainda como uma ferramenta anticolonial para o despertar das massas que não tinham acesso a uma educação formal. Apesar de cada país possuir a sua própria linguagem de transmissão da mensagem de libertação, a literatura permitiu que uma mesma mensagem se difundisse entre os diferentes PALOP.
De um ponto de vista mais atual, Leopoldina olha para a literatura contemporânea e afirma que há um grande problema no modo com que literaturas africanas são assedidas, chegando a ser mais fácil ter acesso a certas obras fora do próprio continente.

Ainda assim, crê que a literatura contemporânea dos PALOP traz reflexões sobre resistência na nossa contemporaneidade, sendo que os contextos sociais são até hoje muito férteis para gerar uma literatura com um posicionamento político.

A sublinhar, que a literatura produzida durante o período de libertação é ainda hoje relevante para os estudos contemporâneos sobre a nossa história, sendo um legado de resistência que potencia também o exercicio de voltar às raízes para compreender o presente.

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