Matchundadi, género, performance e violência política na Guiné-Bissau é a tese de doutoramento de Joacine Katar Moreira, publicada agora em livro e que explica como a exacerbação da masculinidade domina a política e a sociedade guineense. O livro foi apresentado nesta quinta-feira, 24, em Lisboa.
Nesta obra, segunda da bibliografia da deputada, Katar Moreira fala sobre género, violência e instabilidade política, através da cultura da masculinidade hegemónica que se vive na Guiné-Bissau.
“Existem sujeitos que são objetos de estudo e existem aqueles que são olhados como sujeitos de conhecimento. As mulheres, normalmente, são os objetos de estudo, bem como os desfavorecidos, as minorias e etc. Os sujeitos de conhecimento, geralmente, são os homens. Então, decidi mudar a minha tese radicalmente. Não vou objetificar as mulheres, vou objetificar os homens. Para entendermos a história da Guiné Bissau temos de entender o que é que aconteceu. Os homens que estão nos quadros de visibilidade têm de ser estudados para entendermos os efeitos e o impacto desta masculinidade e a forma como existe este ambiente que vai alimentando e organizando a dominação institucional masculina”, explicou a autora aos convidados da apresentação oficial de “Matchundadi, género, performance e violência política na Guiné-Bissau.
Joacine indicou também que a política não foi um caminho que escolheu de primeira. Contudo, durante o seu percurso académico, acabou por estudar exatamente aquilo que viria a sofrer nos meandros da política em portugal. “A minha ambição maior era dar aulas na universidade, a investigação e andei estes anos todos a estudar a violência política. É irónico. Estes autores e autoras sobre a violência, os estudos da violência, das desigualdades é que me ajudam hoje em dia a encarar e relacionar este ambiente de extrema violência contra mim mas também do discurso de ódio, do sarcasmo absoluto em relação à minha pessoa em específico. Mas eu nunca encaro como algo sobre mim, eu analiso esse discurso de ódio, perseguição mediática, o anular da minha intelectualidade, encaro sociologicamente”, acrescentou.
Matchundadi, género, performance e violência política na Guiné-Bissau está disponível em diversas livrarias físicas bem como online.
Joacine Katar Moreira é deputada portuguesa, nascida na Guiné-Bissau, em 1982. Com oito anos mudou-se para Portugal com a família, onde é hoje deputada não inscrita no parlamento. Feminista negra interseccional e ativista anti-racista, Joacine é licenciada em História Moderna e Contemporânea, mestre em Estudos do Desenvolvimento e doutorada em Estudos Africanos pelo ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa. As suas áreas de estudo e de intervenção são os Estudos do Desenvolvimento, Estudos de Género, violência, política e movimentos sociais.
No seu vasto currículo, inscreve-se ainda mentora e fundadora do INMUNE — Instituto da Mulher Negra em Portugal, criado em 2018 para lutar contra a invisibilização e o silenciamento da mulher negra na sociedade portuguesa.