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“Sinto falta de músicas eternizáveis”, Mallaryah

Mallaryah
Foto: Matamba Kindala António

Marcos Pinto é conhecido no mundo da música como Mallaryah. Produtor e cantor angolano nascido a 3 de fevereiro de 1989, Mallaryah trabalha em produção há mais de 14 anos e é conhecido por ser um dos líderes da gravadora WonderBoyz. Mallaryah deu vida a inúmeras obras de sucesso do grupo, ao lado do falecido Fill Junior e de Manda Chuva, no grupo Dream Boyz, e de vários artistas angolanos, como Anselmo Ralph Zona 5, Pérola, Cage One, Paul G e muitos outros.

Atualmente, o músico também é proprietário da produtora Dream Nation, onde fazem parte músicos em ascensão e incluindo o seu grupo Dream Boyz. A produtora desde a sua fundação, tem lançado novas vozes que se têm destacado no mercado angolano, como é o caso das cantoras Arieth Feijó e Jordânia.

Com o seu trabalho como prova irrefutável, Mallaryah tornou-se um dos pilares da música moderna feita em Angola e nos PALOP. Em entrevista à BANTUMEN, o produtor e cantor, deu o seu ponto de vista sobre o atual estado da produção musical em Angola, a identidade dos novos produtores e a consequência das influências externas na musicalidade angolana.

Como vês o estado atual estado do panorama musical em Angola, considerando a pandemia?

A pandemia trouxe enormes dificuldades ao sector artístico. Em todas as partes do mundo ainda existem várias restrições que dificultam financeiramente os fazedores de arte mas em África a Covid foi menos agressiva e, pouco a pouco, as restrições têm baixado. O ano de 2020 foi bem pior mas neste 2021 têm-se realizado eventos, não aqueles de grandes massas, eventos pequenos, mas que já conseguem ser uma lufada de ar fresco para os músicos porque infelizmente não há um fundo que apoie os mesmos, além de não haver dinheiro passivo para quem não consegue vender tão bem online.

Cruzando a arte que é necessária para se criar música, em termos de composição, instrumentalização e inspiração, em relação à new school, achas que Angola está a viver uma das suas melhores épocas a nível musical ou as novas gerações ainda têm muito caminho para percorrer?

Para ser sincero, eu sinto falta de músicas eternizáveis. Hoje em dia, não só em Angola mas no mundo, existe um movimento de música descartável severo e acredito que sim, deve existir todo o tipo de música e todo tipo de conteúdo, mas sinceramente preocupa-me bastante. Quanto à nova geração de músicos que está a surgir, está a vir com dinamismo, criatividade, musicalidade diferente do que muitos estavam habituados e acredito que sim, temos muitos talentos novos que já estão a dar o que falar e muitos que estão a vir que demonstram que quanto à qualidade vocal evoluímos muito nos últimos dez anos.

Há quem fale que há produtores que são clones uns dos outros. Concordas?

Não controlo muito. Sei que no que toca ao afro house ou Afro beat é onde mais noto uma quantidade mais exagerada de beats parecidos. Quanto aos outros estilos não tanto, eu acredito que muitos produtores se inspiram noutros e acabam por tentar seguir tendências, com base naquilo que eles ouvem dos produtores que mais amam. Há alguns que encarnam menos e outros que copiam mais ou tentam ser iguais mas acredito que é uma questão de tempo, porque com o decorrer dos anos, alguns produtores têm tendência em ganhar um estilo próprio. Noto isso num produtor que sempre acompanhei que é o Niiko. Os beats que ele tem feito só se parecem com ele mesmo, ele encontrou uma identidade só dele.

Até que ponto é favorável a influência externa na nossa música? Por outro lado, a música angolana tem influenciado os outros produtores de outros países?

A música é universal, atravessa fronteiras, assim como os ritmos e estilos musicais, logo é bom que possamos ouvir de tudo e possamos beber de algumas músicas principalmente africanas, sente-se que o mundo finalmente acordou para a música africana e seus ritmos, hoje tu sentes isso através do intercâmbio musical que tem acontecido nos últimos anos, onde vês cantores africanos a participarem constantemente em Grammys e outros concursos mundiais de música, já podes ver filmes a volta do mundo a apostarem em estilos africanos nas suas bandas sonoras, já consegues ver pessoal fazendo Beats em género afro beat, naija, produção de músicas com cadência de zouk e Kizomba, com ritmos do Congo, com aquele nosso semba também… não tem como, África sempre foi a região onde se faz música com aquela alma e alegria ao mesmo tempo que é capaz de conquistar o mundo.

Embora ainda sejas jovem, o teu trabalho já é old school. Como tens trabalhado com os nomes da nova geração?

Faz anos que trabalho na construção de artistas, antes mesmo de pensar em cantar já construía artistas, já produzia álbuns e já me vi como director de vários projectos musicais, porque o meu foco sempre foi contribuir com o que sei para elevar a cultura musical angolana. Não tem sido diferente com a nova geração de músicos porque tenho mais gozo quando ajudo a produzir artistas desconhecidos, ou mesmo a levantar aqueles que se encontravam apagados e que tinham caído no descrédito daqueles que apostavam neles. Isso sim, dá-me gás e dá-me gozo passar por estes desafios. Até porque a música é assim mesmo, um desafio contínuo onde encontras uma grande legião de pessoas talentosas e tens que dedicar-te para ser a cereja diferente no topo do bolo. E pessoas novas e com novas ondas inspiram-me porque estou em constante upgrade, porque não gosto de me perder no tempo. Gosto de associar o que há de novo a mim mesmo para que não exista a possibilidade de me encontrar perdido enquanto os outros evoluem. Chamo a isso de actualização de software. É o que todos nós artistas e produtores precisamos fazer a cada ano que passa.

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