Procurar
Close this search box.

Dago e a biblioteca 10padronizada, um espaço que descentraliza o privilégio

Dago

Francisco Mapanda, conhecido como “Dago Nivel Intelecto”, é um jovem preocupado com o bem comum. Nascido na província do Uíge, Dago é pai de duas meninas e a força motriz por trás da Biblioteca 10padronizada.

O projeto “é um espaço inspirado na ideia da partilha de privilégio”, explica Dago, acrescentando que em Angola, especialmente nas periferias, possuir livros é um privilégio. A Biblioteca começou com a ideia de colocar livros debaixo de uma ponte pedonal para partilhar livros, de diferentes categorias, por forma a partilhar informação e conhecimento.

Tudo começou de maneira inusitada. Durante a pandemia, com a perda dos seus empregos, Dago e Arantes Kikuvu começaram a vender whisky e cigarros sob a pedonal, para conseguirem garantir um meio de subsistência. “Não viemos com os livros logo no primeiro dia”, explica Dago. A dupla percebeu que, além dos produtos que vendiam, as pessoas mostravam interesse em ler. “Essa coisa de termos percebido que as pessoas têm interesse em ler fez com que nós partilhássemos com elas os livros”, diz, evidenciando a transformação do espaço numa biblioteca comunitária.

Inicialmente, a biblioteca tinha mais de 100 livros, mas a incerteza sobre o interesse da comunidade levou-os a começar com apenas 14. A resposta foi surpreendente: todos os livros foram rapidamente requisitados. “Daí percebemos que todos os 14 livros foram ocupados e ainda tinham pessoas à espera de livros para ler”, conta Dago. Isso incentivou-os a trazer mais livros, expandindo o acervo para cerca de quatro mil exemplares, todos adquiridos por meio de doações.

No início, houve um impasse com um assessor para área social, mas após um descontentamento expresso nas redes sociais e a consequente viralização do post, houve um esclarecimento e apoio da administração local. “Lugar impróprio é onde as pessoas não se sentem bem”, afirma ele, reforçando a importância da biblioteca na comunidade.

Sobre o impacto do projeto, Dago é enfático: “Muito sinceramente, não andamos a medir como somos olhados pelas autoridades governamentais, estamos preocupados com como somos vistos pelas pessoas a quem realmente servimos, que é a nossa comunidade”.

A Biblioteca 10padronizada não é apenas um local de leitura, mas um espaço de acolhimento e conexão. “É um lugar onde as pessoas vêm em busca de paz, de calmaria”, diz Dago. Ele observa uma mudança significativa na comunidade desde a inauguração da biblioteca: locais que antes eram sujos e frequentados por pessoas marginalizadas, hoje são ocupados por indivíduos interessados em leitura. “São raras as vezes que a pessoa da comunidade entra aqui e nunca mais volta, porque é um chamativo”, comenta.

Finalizando, Dago reflete sobre a sustentabilidade do projeto. “Nunca foi nosso foco fazer dinheiro com a 10padronizada”, afirma, mas admite que recentemente começaram a criar políticas de sustentabilidade, como ceder o espaço para eventos externos. “Hoje temos menos dificuldades do que quando começamos há dois anos”, conclui, otimista quanto ao futuro da Biblioteca 10padronizada e o seu impacto contínuo na comunidade.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

Recomendações

Procurar
Close this search box.

OUTROS

Um espaço plural, onde experimentamos o  potencial da angolanidade.

Toda a actualidade sobre Comunicação, Publicidade, Empreendedorismo e o Impacto das marcas da Lusofonia.

MAIS POPULARES