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A vida de Ary em “Contos de Amor de Um Bom Malandro”

“Todo o malandro tem uma história, dentro de muitas histórias”. Ao abrirmos o dicionário português e procuramos pela palavra malandro, significa quem procura viver à custa do trabalho alheio ou de atividades ilícitas, quem não demonstra vergonha na cara, entre outros. Mas neste caso é diferente. É a história de um malandro apaixonado, em Contos de Amor de Um Bom Malandro.

“Malandro não pára, dá um tempo”

Já se devem estar a perguntar do que estou a falar. Na verdade, esta já é uma história antiga, que começa em casa. Deixem-me descontrui-la para que consigam perceber. Ary é um brasileiro que vive em Portugal, a música sempre esteve nas suas veias, é filho de músico brasileiro e mãe dançarina angolana. Três culturas em casa, três costumes e tradições diferentes. Parece confuso, não é? Para Ary foi, até encontrar a melhor forma para expressar a mistura viva desses três universos culturais e a partir da multicultural cidade lisboeta.

É nessa demanda que Ary Rafeiro assume naturalmente o seu lugar na história e nos traz o seu primeiro álbum Contos de Amor de Um Bom Malandro.

Na terça-feira (2), a BANTUMEN foi à festa de lançamento do filme do álbum e do álbum, que teve lugar no Tokyo, espaço noturno no Cais do Sodré, em Lisboa.

Estão a ver aquelas festas familiares com pessoas bonitas, churrasco, cerveja na mão bem fresca, risos e gargalhadas que não acabam e música à mistura? Era exatamente esse o cenário que se encontrava mal se entrasse no Tokyo. Sem falar das várias culturas no mesmo sítio. Desde Brasil, Angola, Portugal, Cabo-Verde, São Tomé, Guiné, entre outros, que é exatamente a “turma” com que Ary se mistura, explicando porque se autodenominou “Rafeiro”.

Calma, não é uma ofensa! Mas lá vamos nós novamente ao dicionário. Rafeiro é uma palavra ausente do vocabulário brasileiro mas que em “português de Portugal” significa vira-lata, de raça não pura ou cão mestiço. É assim que o mesmo se sente, mestiço, não só de traços fisiológicos, mas também de culturas e vivências que acabam por se refletir na maneira única como se expressa musicalmente. Então, a festa não podia ser diferente, às várias misturas fazem parte da vida do artista, e é nessas misturas que se tem desencontrando e encontrando.

Muito se fala e se ouve da música PALOP, criada nesses países e também, agora cada vez mais, pelos afrodescendentes na diáspora. No entanto, pouca história há quando toca ao prisma brasileiro, e este é sem dúvida, naturalmente o seu legado, onde Ary se consegue expressar melhor e amplificar a voz do Brasil em terras lusas.

E é disso mesmo que se trata a luta de Ary, por uma representatividade, por lutar uma sociedade mais equalitária. “Sempre fui um ser social, a mistura entre a área social e a arte é tão grande que a primeira vez que fui no estúdio gravar, foi porque estava a fazer voluntariado (…) A área social sempre esteve muito ligado a mim. Por mais que o álbum fale de amor, os encontros sociais que vão tendo, as rimas que nos tocam como brasileiros ou a representatividade que tem o álbum, ou o primeiro brasileiro que vive aqui [Portugal] a ser assinado pela Sony, como artista, e todas essas coisas fazem com que essa mistura que eu tento trazer para frente do Brasil, seja uma mistura que ao meu ver tem que ser emergente, que tenhamos um lugar nessa história dessa nova Lisboa ou Lisboa crioula, ou mestiça”.

Se Ary Rafeiro quis contar a sua história ou a história de muitos emigrantes [principalmente dos brasileiros] através da música e através do filme, conseguiu. Contos de Amor de Um Bom Malandro não é apenas um álbum, são histórias, sobre amor, paixão e sedução, que todos nós, mais ou menos românticos, malandros ou não, já vivemos ou presenciamos.

Histórias de paixões que contamos numa conversa de bar aos amigos, outras que partilhamos apenas com a nossa cara metade ou até as que guardamos só para nós.

Entre o álbum e o filme, durante cerca de duas horas, Ary permitiu-nos viajar pelas suas histórias mais íntimas, ao mesmo tempo que, naturalmente, vamos-nos identificando com algumas. Contos de Amor de Um Bom Malandro divide-se em três contos, como se de um livro ou uma peça de teatro se tratasse.

É a balada dos malandros e a sinfonia dos apaixonados. É a mistura entre funk carioca, com afrobeats e uma própria multiculturalidade. É a vida de emigrante personificada em música com uma narração animada, com sonhos, sorridente e feliz, tal e qual a personalidade que nos caracteriza, apesar das várias dificuldades. E isso sim, é a definição deste bom malandro.

Clica abaixo para ouvires o álbum.

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Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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