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“Cada uma de nós é o vetor de influência na nossa comunidade”, Annie Costa

Na vida, tudo se trata de equilíbrio e Annie Costa encontrou esse ponto de estabilidade quando teve de fazer valer para a sua vida profissional duas áreas diferentes: vertente da Gestão de Empresas e a vertente da imagem e do personal styling.

Ao longo dos anos, Annie tem se deparado com episódios de superação e de desafio que a têm empurrado num sentido de ascensão cada vez mais sólido, sobretudo, na área do styling, a área profissional que desempenha, principalmente, por paixão.

Fomos conhecer melhor a bolha estética em que a Annie Costa desenvolve os seus projetos, como se pode ver na entrevista que se segue e que vos convidamos a ler.

Annie, fala-nos de como foi o ambiente em que cresceste e de onde vem a influência para a vertente estética.

Nasci e cresci em São Tomé e Príncipe, num ambiente onde imperava a disciplina e o rigor, em paralelo com a criatividade. Apreendi desde pequena a costurar roupas para as  minhas bonecas. Posteriormente, apreendi com a minha mãe a usar a máquina de costura a pedal, depois a elétrica e, enfim, aprendi a costurar para adultos. Posso concluir que essa vertente estética foi-me transmitida pela minha mãe que, em tempo livre, dedicava-se à costura. Lembro-me também de que, inclusivamente nas férias, sempre aprendia algo mais, desde croché a bordados, entre outros trabalhos manuais.

São Tomé, a terra que te viu nascer, é um país com características sociais bastante peculiares e com um povo “calmo”. Em que medida te revês na cultura e como é que ela se manifesta no trabalho que fazes? 

O meu mood não é propriamente “leve, leve” mas, aprendi a ter a leveza necessária sempre que possível. Porém, somos efetivamente, o povo da terra do “leve leve”. Sou oriunda de um país rico na sua diversidade cultural, rico em gente resiliente que desde cedo apreendeu que o facto de nascer num país insular, o mar não é limitativo. Onde, trabalhar e lutar para além do horizonte é essencial. Confesso que transporto também um pouco disto tudo no dia a dia, em fusão com a alegria e esperança que devemos sempre ter.

Qual foi o teu percurso académico? 

 Em 2004 licenciei-me em Organização e Gestão de Empresas, na vertente Finance no ISCTE. Comecei por fazer estágio numa SGPS, depois trabalhei em gabinetes de contabilidade e, por fim, com entidades do sector financeiro, onde me encontro até então.

De referir que, numa fase inicial, os primeiros anos após a conclusão do curso, enquanto trabalhava para ganhar experiência e competência na área de formação académica, também fazia em paralelo alguns trabalhos temporários (assistente de vendas El Corte Inglês, hospedeira em eventos) complementares, por forma a incrementar o meu orçamento. Foi também uma ótima oportunidade interagir com outras áreas e realidades e confesso que apurei imenso as minhas capacidades comunicativas.

O teu trabalho como personal stylist representa o que sentes ser a tua vocação? O que te levou a seguir a vertente profissional em Gestão de Empresas? 

Diria que foi um equilíbrio entre a razão e a paixão. Neste sentido, primeiro, fiz a formação académica e depois quis incrementar os meus conhecimentos com aquilo que até a data era paixão.

Em 2016 decidi fazer o curso de Styling & Imagem Consultant no Atelier Styling Project by Pedro Crispim. Dois anos depois, regressei para fazer Produção em Moda, onde o foco foram, essencialmente, os bastidores. Na verdade, esse gosto pela moda, pela forma de nos comunicarmos com a nossa imagem foi crescendo e apurando-se gradualmente ao longo dos anos. Entretanto, fiz algumas formações complementares a nível da fotografia (algo que também aprecio) e em 2015, por incentivo de amigos, decidi materializar algo que na verdade já tinha em mente desde 2008. Neste sentido, criei uma página onde pudesse espelhar o meu conceito de moda e em paralelo disponibilizar os meus serviços de Consultoria. E assim nasceu o Blog AnniesMirror.

Se pudesses destacar aquele que foi o teu trabalho mais importante até então, na área da moda, qual seria e porquê? 

Pergunta difícil. Não é fácil escolher apenas um. Entre tantos trabalhos distintos que tive a oportunidade de colaborar, houve três que me marcaram de forma especial. O primeiro dos três, e que foi bastante desafiante, foi fazer o styling da apresentadora de um programa diário na SIC Mulher, de segunda a sexta feira, durante mais de meio ano. Depois, o segundo que muito me cativou foi um trabalho de consultoria prestado a uma senhora, mãe de três filhos e que nunca tinha priorizado a sua imagem. Sempre viveu para a família e tinha o “complexo” sonho de usar uma saia plissada. Culminamos o dia de serviço de Personal Shopping com peças essenciais, com uma saia plissada e com as diretrizes de como usar as peças. Naturalmente, acompanhadas com um grande sorriso no rosto. Foi de facto uma experiência muito gratificante.

Igualmente gratificante foi a ação solidário na Prisão feminina de Tires, em que enquanto Stylist tive a oportunidade de vestir presidiárias que iriam participar num desfile a acontecer no estabelecimento prisional. Tratou-se de um evento organizado pela ONG Art4Life, que visa integração social das minorias. Fiquei algo admirada com aquela realidade de jovens mulheres (algumas com filhos pequenos), por estarem naquela situação de privação de liberdade. O desfile deixou-as, porém, muito felizes e sentiram-se verdadeiras modelos. Terminei o dia com o coração cheio mas, apertado e recordo-me de não ter conseguido conter as lágrimas.

Quem são as tuas maiores referências na vida? 

 A minha mãe. Por ser, para mim, símbolo de dedicação e garra.

Recentemente vimos um post teu, por ocasião do Dia dos Namorados, em que falavas de como é celebrar o amor, nos seus múltiplos contornos. É pertinente perguntar se o amor inspira-te a criar? 

Sem dúvida que sim. O amor nas mais variadas formas de expressão, inclusive o próprio, é inspirador. E estando neste estado, naturalmente a criatividade flui mais facilmente. 

És das poucas mulheres negras que faz esse trabalho de Personal Stylist. Sentes que essa seja uma área desvalorizada ou faltam ferramentas para que mais pessoas o possam fazer? 

Na verdade, vou conhecendo cada vez mais consultoras de imagem mas, stylists não conheço na mesma proporção. Provavelmente, por abranger um nicho de mercado mais reduzido comparativamente com a Consultoria e as perspetivas de trabalho serem ainda muito reduzidas. Creio que também existem mais escolas que disponibilizam formações na área de Consultoria de Imagem.

Confesso que, apesar de tudo, tenho estado agradavelmente surpreendida com o crescente número de mulheres negras que desenvolvem a atividade de consultoria. Entendo que cada uma de nós é o vetor de influência na nossa comunidade e contribuirá para a desmistificação da não necessidade do cuidado com a imagem.

A pandemia está a ser uma objetora ou uma aliada para o crescimento do teu negócio, tendo em conta que o envolvimento no mundo digital aumentou por estarmos todos mais tempo em casa? 

Embora a Consultoria de Imagem possa ser efetuada por via digital, a presencial é sem dúvida mais eficaz. Por outro lado, o mercado português, além de ser pequeno, não tem propriamente a cultura de recorrer aos profissionais na área em caso de necessidade de melhoria de imagem. Se compararmos com os Estados Unidos ou Reino Unido, é completamente diferente. São profissões sedimentadas no mercado e há profissionais que vivem exclusivamente do serviço de consultoria de imagem e com a devida estabilidade profissional. No contexto pandémico, em que estamos todos em casa confinados, provavelmente a imagem é algo que infelizmente terá ficado para o segundo plano. Notei alguma dinamização nas minhas redes sociais, mediante as publicações de advertências que fui fazendo para mantermos a nossa rotina o mais possível, mesmo estando a trabalhar em casa. Por exemplo, fiz um vídeo onde enumerei os meus mandamentos para participar em vídeo-chamadas ou reuniões por Zoom.

Também fiz lives onde forneci algum conteúdo de consultoria e incentivei as pessoas a revisitarem o seu roupeiro e a descobrirem peças que pudessem ser usadas de diferentes formas. 

Quando desempenhas o trabalho de stylist, incorporas a vertente de consultoria, o que pressupõe que não saltes diretamente para a parte técnica da conjugação de peças de roupa e para os acessórios, mas que faças um estudo prévio da pessoa que vais vestir. Podes explicar-nos, concretamente como funciona esse processo e qual a importância de cumprir essas etapas? 

Cada serviço de Styling é único, porém, há aspetos comuns que devemos, desde o início, considerar. Para algumas situações ter o Moodboard é essencial, visto ser uma ferramenta que ajuda no alinhamento da ideia do Styling pretendido. Pode conter imagens, texto, cores, textura, etc, tudo o que seja necessário para, visualmente, comunicar a ideia, para produção de Moda. Em caso de Styling para apresentador de TV, são necessárias outras referências com estilo próprio, a imagem que pretende comunicar, o tipo de programa, as cores e os padrões que podem ser usados em Televisão, entre outros tantos detalhes. 

De referir que é extremamente importante que quem veste a roupa escolhida, se sinta completamente confortável até porque algum desconforto poderá transparecer na apresentação que faça, seja num contexto mais restrito ou num mais alargado. 

Esse trabalho na área da stylist não ocupa a maior parte do teu trabalho remunerado, consegues, ainda assim, obter lucro com a consultoria de imagem? 

Diria que cobre os custos de manutenção do meu site. Vou tendo algum trabalho pontual durante o ano, mas conforme referido nos pontos anteriores, não existe uma cultura das pessoas recorrerem aos serviços desta natureza para cuidarem da sua imagem e consequentemente da sua autoestima no caso de Consultoria de Imagem. Mas ainda assim, tem estado  a melhorar.

Em relação ao styling, gosto imenso, pois, tenho mais margem para explorar a criatividade. Com as restrições derivado à Covid, algumas produções foram adiadas para este ano. É um tipo de serviço que requere presença física.

É um serviço que ofereces às empresas ou só a particulares? 

O serviço de Consultoria de Imagem pode também ser dirigido às empresas, aliás, já tive a oportunidade de fazer um Workshop para esse público. No site tenho disponível o serviço aos particulares.

Annie, estamos no mês da Mulher, o que sentes que seja, absolutamente essencial, e que ainda nos falta alcançar? 

A tão necessária igualdade de género no dia a dia, em casa, trabalho e nas variadas dimensões. Impossível entender que questões como direito ao voto, a igualdade salarial, maior proteção contra violência física e psicológica, acesso à educação ainda não são considerados direitos garantidos às mulheres, em vários pontos do mundo.

De que forma as tuas conquistas profissionais fazem-te sentir empoderada? 

Faz-me sentir que valeu a pena a dedicação, a resiliência e o foco que tive de ter para alcançar esses objetivos profissionais. Faz-me pensar que fiz bem em não desistir, quando cheguei a Portugal. Fiz bem em não desistir no dia em que as saudades da família e dos amigos foram mais intensas. O cheiro da terra molhada, a vista para o horizonte… foram lembranças que ajudaram a continuar.

Que conselhos podes dar a quem esteja a dar os seus primeiros passos profissionais na área da moda? 

Primeiro, serem muito honestos sobre o real propósito. É preciso gostar muito do que se faz. Auto motivarem-se! É maravilhoso ajudarmos as pessoas a descobrirem/explorarem as suas melhores versões. É preciso humildade, paciência, perspicácia, organização, espírito de equipa. É uma área trabalhosa e carregam-se muitos sacos de um lado para outro. É preciso ter paixão e ter brio.

Que metas tens traçadas para o futuro ou o que mais desejas alcançar, tanto a nível profissional como pessoal? 

Enquanto modelo comercial, espero que o mercado se restabeleça em breve e que possa também voltar a fazer algo que gosto muito, publicidade.

Aposto no crescimento do meu Blog AnniesMirror enquanto alguém de referência que possa inspirar os amantes da moda e não só.

Gostaria de ver mais mulheres a libertarem-se do preconceito e dos constrangimentos com o corpo, aprendendo a tirar maior partido dos pontos positivos em detrimento dos pontos menos positivos. Gostaria de contribuir para a desmistificação de que a moda é fútil. Não é! Com o devido equilíbrio e discernimento, podemos usá-la como ferramenta útil a nosso favor, para melhorar a nossa autoestima. É uma ótima forma de nos exprimirmos sem palavras.

Um dos grandes propósitos que, também, tenho, é o de tornar-me uma pessoa melhor, a cada dia que passa, ser feliz e fazer os outros felizes e acrescentar valor a quem se cruza comigo.

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