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Choros seletivos

Num período de altas tensões e discussões ideológicas, em que todos adotam um certo posicionamento político que se perde na velocidade das tendências e hashtags, pergunto-me: serão os nossos choros seletivos?

Nos últimos três meses, vi a hashtag #FreePalestine (#LibertemAPalestina) invadir as redes sociais. Este acordar da sociedade para um mundo em conflitos intensos demonstra que, talvez, a essência da nossa humanidade não esteja completamente perdida. O sacudir da ignorância e do conformismo fez com que muitos notassem a realidade genocida em Gaza. No entanto, enquanto concentramos a nossa atenção em Gaza, um silêncio ensurdecedor persiste em relação a outra tragédia que se desenrola em Kivu.

Esta região do Norte da República Democrática do Congo, que possui metade da reserva mundial de Cobalto, é explorada pelas maiores potências económicas do mundo que, num piscar de olhos, comprometem a vida de quase dez milhões de pessoas em troca de protagonismo numa suposta corrida tecnológica mundial.

E aí, pergunto-te: Porque não tens ouvido falar da exploração que acontece no Congo com tanta frequência?

Uma pesquisa rápida no Google é o suficiente para confirmar a falta de cobertura mediática sobre esta exploração e, para alguns, a resposta para problema deve ser óbvia: A invisibilização da exploração desumana de jovens e principalmente crianças no Congo é resultado de uma cultura imperialista que, mesmo depois de meio século de independência, continua a dominar as dinâmicas de comunicação e informação nas sociedades contemporâneas. Um imperialismo que não tem apenas o poder de determinar narrativas, mas alimenta uma indústria bilionária através da exploração económica dos invisibilizados.

A mobilização que se deu por Gaza destaca não apenas a urgência de uma reflexão sobre a dinâmica do poder global que desenvolve genocídios silenciosos, mas também nos mostra que para este e para outros casos temos uma midia seletiva e pessoas que derramam as suas lágrimas onde lhes é conveniente.

A expressão “Choros Seletivos”, abre não só um espaço de crítica para a midia que consumimos e o que escolhemos divulgar, mas também para uma análise reflexiva sobre o papel das organizações mundiais ditas representativas. A percepção de que essas entidades frequentemente emitem juízo e escolhem preferências com base nos seus próprios interesses não é apenas uma conjetura, mas uma realidade que merece a nossa atenção.

A procura por justiça e igualdade exige que desafiemos essa lógica discriminatória e defendamos a ideia de que cada vida é preciosa e merece ser preservada com a mesma preocupação. E como seres pensantes ativos desta sociedade, temos apenas uma responsabilidade: a de questionar, resistir e rejeitar qualquer narrativa que perpetue a hierarquização de vidas.

Talvez o que este período de intensas comoções por liberdade nos vem dizer é que chegou a hora de reafirmar a universalidade do valor humano. Garantir que a defesa dos direitos e a busca pela justiça não sejam seletivas, mas abrangentes, abraçando todas as vidas com a mesma importância e empatia, principalmente as vidas africanas que são frequentemente vítimas de choros seletivos.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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