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Soraia Ramos prepara “Cocktail” para álbum de estreia

Soraia Ramos
Soraia Ramos | João Pedro/ BANTUMEN

Conhecê-mo-la através dos covers, mas hoje é uma das artistas mais bem sucedidas da atualidade. Soraia Ramos soma milhões de visualizações no YouTube, percorre países em concertos e tem vindo a quebrar barreiras num mundo dominado maioritariamente por homens. Melhor artista feminina da África Central, teve o seu rosto espalhado pelos ecrãs da Times Square, em Nova Iorque,  capa da Apple Music, Soraia já deu provas daquilo a que veio, mas não esconde o entusiasmo com tudo aquilo que está por vir.

“Eu só fazia aquilo porque gostava”, começa por confessar à BANTUMEN. Soraia não esconde que sempre gostou de cantar, mas admite que durante muito tempo não tinha a noção de que poderia fazê-lo profissionalmente. Foi ao participar em concursos, tendo inclusive ganho um deles, que começou a ver as coisas de outra forma. A família fê-la acreditar que teria futuro na música e foi quando começou a escrever as próprias canções e melodias que percebeu que talvez os mais próximos tivessem razão. Entre uma música e outra, a artista seguia na divulgação dos seus covers, alguns deles na companhia do irmão, que começavam a captar a atenção do público. As produções iam ganhando destaque, até que um momento marca o ponto de viragem na carreira da artista.

C4 Pedro, Zenith e o primeiro palco

O tema “Bo tem mel”, da autoria de C4 Pedro e Nelson Freitas, foi um dos covers que Soraia fez. Na altura, o vídeo publicado pela artista captou a atenção de C4 Pedro que depressa lhe reconheceu as habilidades. “Cantas muito, quero trabalhar contigo”, conta-nos Soraia a propósito da abordagem que, numa primeira fase, julgou ser mentira. Foi quando o próprio cantor partilhou o vídeo nas suas redes sociais que as dúvidas de Soraia acabaram e foi também aí que começaram a ser dados os pequenos passos para a carreira que conhecemos hoje.

O reconhecimento de C4 trouxe-lhe um “boom” de visualizações, seguidores e um novo destaque. “Na altura foi uma grande ajuda, é uma pessoa que em Angola me deu muito destaque”, afirma. Daí surgiu o convite para cantar no Zenith, em França. Eram cerca de 10 mil pessoas, Soraia apresentou-se com C4 Pedro, cantaram “Bo tem mel” e a paixão pela música só aumentou. 

“Comecei a ver que os artistas me estavam a reconhecer, comecei a ter mais visibilidade além daquela que eu já tinha”, afirma. As coisas começavam a fluir e Soraia seguia firme no seu propósito: fazer música. Continuou a fazer covers e a escrever temas em nome próprio.

A entrada para a Klasszik e a mudança para Portugal

Em 2016 lançou “Diz-me”, uma produção própria e “crua” que contou com a ajuda de familiares. “Fiz a minha maquilhagem, o meu cabelo, o meu pai ajudou com os figurantes”, admite, acrescentando que à data fez o que lhe era possível com os recursos que tinha. O esforço viria a valer a pena: Soraia atingiu os dois milhões de visualizações. E por muito que estes números se distanciem daquela que é hoje a sua realidade, a verdade é que na época foram o bastante para mudar de vez a sua trajetória.

A determinação com que foi atrás do seu sonho, valeu-lhe um contacto da Klasszik, atual produtora e com que mantém uma relação de quase uma década. “São sete anos de Klasszik”, confessa-nos de sorriso no rosto, não escondendo porém que, inicialmente, duvidou das reais intenções do contacto. Afinal de contas, era a produtora de nomes como Anselmo Ralph e outros artistas com nome “já feito”. “Eu era menininha, era jovem. Os artistas que estavam lá já estavam bem crescidos e a mim tinham-me pegado de raiz para fazer crescer, então, é um processo que nem sempre todos querem”, admite. 

Viajou da Suíça para Portugal. Teve a reunião com a Klasszik e foi ao aperceber-se de que o sonho estava prestes a tornar-se real que se viu dividida: de um lado o sonho de uma vida e a promessa de carreira, do outro a vida estável que tinha na Suíça. Valeria a pena abdicar de um ordenado de 4 mil euros para vir tentar a sorte por terras lusas? Ainda que lhe restassem dúvidas, foi ao ouvir “vai, filha e não te preocupes que eu trato de tudo aqui” que ganhou a coragem necessária para abdicar de tudo.

Soraia Ramos
Soraia Ramos | João Pedro/ BANTUMEN

Não pensou muito. Tinha o apoio de quem precisava, um contrato, uma produtora e um sonho para tornar real. Vendeu as mobílias da casa que tinha comprado há seis meses, enfiou tudo num camião e rumou a Portugal. Da Suíça diretamente para o Seixal, viveu os primeiros tempos em casa dos avós que lhe foram amor, colo e amparo durante o tempo que foi necessário para se estabilizar. “Constrói o teu império”, ter-lhe-á dito a avó.

Um ano depois, Soraia muda-se para a sua casa própria. Era a promessa de Groove a tornar-se real, o sonho a sair do papel e a confirmação de que estava no caminho certo. “Se soubesse tinha vindo mais cedo”, admite. “Estamos a construir uma carreira bonita. Sinto que cada música, cada conquista minha é nossa, de certa forma. É minha e da Klasszik, é um trabalho de equipa e está a correr super bem. Nunca pensei que hoje em dia iria ter tanta visibilidade, tanta responsabilidade.”

A estrutura e os hits

Quase sete anos de Klasszik podem ser resumidos em milhões de visualizações no YouTube, vários hits e a certeza de que quanto maior a visibilidade, maior a responsabilidade. Soraia é peremptória ao afirmar que parte do seu sucesso se deve a toda a estrutura que tem por trás.

“Quem não tem equipa também consegue, mas os passos são mais devagar”, confessa. Para a artista, poder focar-se única e exclusivamente nas suas composições é também uma das fórmulas do sucesso. E isto não quer dizer que o artista não trabalhe, significa apenas que tem outro tipo de preocupações.

BKBN e a nova Soraia

Quando se fala de artistas é muito comum falar-se daquilo que está por trás do seu processo criativo. Soraia Ramos não esconde que todas as suas músicas são reflexo de uma determinada “Soraia”, num determinado tempo e espaço, mas #BKBN ocupa um lugar diferente.

Numa vibe intimista, diferente daquela a que vinha habituando os seus ouvintes, Soraia lançou “Bu ka Bali Nada”, onde deu a conhecer a traição que teria sofrido por parte do seu ex-namorado. A dor que não quis guardar para si mesma acabou por se tornar reflexo da dor sentida também por outras mulheres.

Não esconde que o tema é quase como um manifesto. Uma ode ao amor próprio. Por mais que se ame alguém, é necessário saber dizer não, é necessário colocar a cabeça à frente dos sentimentos e foi exatamente isso que Soraia fez. “Eu acabo por achar que há muitas mulheres que, por vezes, aceitam a traição não porque querem, mas porque na cabeça delas elas devem. Porque não vale a pena estar a separar, não vale a pena encontrar outra pessoa, não vale a pena começar um capítulo novo. Mas está errado.”

Acredita que a música foi também uma forma de manter-se fiel a si própria e às suas convicções. Foi nessa sede de amor próprio que nasceu “uma nova Soraia”, admite. “Nasceu uma Soraia madura, mulher, com uma visão de outra forma. Não tenho raiva de nada, não me arrependo de nada. Foi uma relação bonita e eu acho que é isso que temos que levar para a frente, é aquilo que foi bom.”

Mais “dura” no que diz respeito a relacionamentos, a artista admite que, no momento, o foco é a sua carreira.

Soraia Ramos
Soraia Ramos | João Pedro/ BANTUMEN

Lisandro, irmandade, parceria e a paixão pela música

Quem segue atentamente Soraia Ramos nas redes sociais sabe que a família ocupa um lugar especial na vida da artista e é com Lisandro, irmão mais novo, que partilha o amor pela música. Enquanto irmã mais velha, não esconde o orgulho de ver aquele que outrora era o seu bebé começar a trilhar o seu próprio caminho.

“É incrível ver o processo dele, o crescimento dele. Acompanho os passos dele desde os covers, depois ganhou o “The Voice” [em França], depois começou a entrar na lusofonia, então consegui ver o processo todo dele. Ele é luz!”, confessa-nos visivelmente emocionada.

Não esconde que é fã do irmão, afinal de contas, Lisandro é desde sempre o parceiro com quem divide a paixão pela música. Começaram juntos mas, por enquanto, cada um segue o seu caminho – Soraia acredita que se trata de uma estrada de preparação para aquilo que pretendem fazer, juntos, lá mais para a frente. Há uma vontade mútua em trabalhar em conjunto, mas ela não se sobrepõe ao processo individual de cada um.

A colaboração é inevitável, confirma, mas não é para já. Até lá, podemos ouvir Lisandro num registo entre o francês e o crioulo e Soraia a produzir e dar a conhecer ao público os singles que antecipam o lançamento oficial do seu álbum.

Futuro: o álbum, documentário e sonhos

Focada a 100% no trabalho, Soraia Ramos está a ter aquilo que se pode considerar um “ano em grande”. Em julho, foi a primeira mulher negra, lusófona, a apresentar-se no palco do Afronation em conjunto com nomes como Burna Boy, Wizkid e Aya Nakamura, e prepara-se para atuar na próxima edição do MEO Sudoeste, este ano no palco principal, depois de no ano passado ter sido uma das convidadas do concerto dos Calema.

Não esconde que com a felicidade do convite veio também a responsabilidade de não desiludir os seus fãs, a sua equipa e todos aqueles que depositaram confiança no seu trabalho. Para Soraia, não há nada que pague o carinho do público e a artista mima os seus fãs sempre que pode. Exemplo disso foi o desafio lançado aos seus ouvintes: se a música “Nha Terra” atingisse um milhão de visualizações, lançaria um novo single.

Soraia Ramos
Soraia Ramos | João Pedro/ BANTUMEN

Para os fãs, missão dada é missão cumprida e não tardou até que brindasse o público com o seu mais recente single “Quero fugir”, num registo completamente diferente daquele a que habituou o seu público.

Ambas as canções fazem parte de Cocktail, álbum que pretende lançar ainda este ano, mas sem data definida. “É uma mistura de Soraias, de línguas, de sonoridades, de emoções. Há músicas que fazem chorar. Há outras que fazem rir. Há umas que são drena”, confessa. Foi durante a produção do álbum que, de certa forma, se foi descobrindo enquanto artista. 

Até ao lançamento, Soraia pretende lançar um documentário sobre o single “Nha Terra”, numa narrativa que pretende homenagear e dar a conhecer alguns rostos que fugiram do seu país em busca de condições melhores. Os avós da artista fazem parte da narrativa que reflete a vida de tantos outros “avós” e de tantas outras pessoas em situação semelhante. 

“Cada história é diferente. É tudo à volta do mesmo, da imigração mas cada história parece que é uma mais dura do que a outra. É uma realidade incrível”, finaliza.

Melhor Artista Feminina da África Central, Times Square, Afronation. Que sonhos faltam cumprir? Soraia não esconde que tem o sonho de encher o Altice Arena e admite estar “bem mais perto”. Que esperar do futuro de alguém que é peremptório ao afirmar que nasceu para “brilhar, sonhar, cantar, realizar”? Soraia Ramos diz que o segredo está em acreditar, tudo o resto nada mais é do que trabalho e dedicação.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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