O Teatro do Campo Alegre, prepara-se para acolher a estreia de “Belonging”, um espetáculo que promete levar o público numa viagem profunda aos encontros possíveis com o sentimento de pertença. Agendado para março de 2024, este projeto, que combina elementos de cinema performativo, música ao vivo e narrações pessoais, explora a complexidade da ideia de pertencer através de uma série de perspetivas múltiplas e profundamente humanas.
“Este espetáculo é uma conquista para mim. Ele apanhou-me numa altura em que tinha deixado quase de acreditar nas minhas capacidades musicais”, explicou-nos Aliu Baio durante um dos ensaios do espetáculo. Porque, quando estás a trabalhar nesta área da música e estudas e não estás a ver grande evolução, a tua motivação começa a baixar”, sublinhou. Ainda assim, Aliu deixou-se levar por quem acreditava no seu trabalho e acabou por aceitar participar.
Todos nós podemos encontrar ligações, independentemente de onde nascemos ou estamos. “Todas as pessoas poderiam caber neste espetáculo. (…) Onde criaste a tua vida afetiva? Será que pertences à tua vida afetiva ou à tua memória”, segundo o artista, são estes os questionamentos que o espetáculo provoca a quem o assistir.
O artista Aliu Baio e autora Gisela Casimiro participam deste “Belonging”, espetáculo desenvolvido por Raquel André, que nasce da metodologia de trabalho que privilegia o encontro com pessoas de diversos cantos do mundo – Guiné-Bissau, México, Brasil, Portugal, Japão, Alemanha – para partilhar histórias sobre pertença. O espetáculo desdobra-se entre as questões éticas, políticas, geográficas, sociais e económicas associadas ao mapeamento genético das populações humanas, mas vai além, ao abordar a pertença como um sentimento íntimo e essencial, um território emocional a ser mapeado.
Além dos dois artistas com origens na Guiné Bissau, a equipa criativa de “Belonging” conta com a colaboração de nomes como Bernardo de Almeida, Francisco Fidalgo, Herlander, Wilma Moutinho, José António Tenente e Missanga. Entre os destaques, Aliu Baio, nascido na Guiné-Bissau e residente em Portugal desde os 9 anos, partilha a sua história pessoal de pertença, num regresso emocional às suas raízes e memórias de infância, agora como um homem cego. Gisela Casimiro, também originária da Guiné-Bissau e a viver em Portugal desde os 3 anos, mergulha na descoberta do lugar onde nasceu, reencontrando a história familiar.
Esta narrativa coletiva é enriquecida pela colaboração com de Sandra Romero Hidalgo, investigadora mexicana do genoma humano, com quem Raquel André trabalha desde 2020 numa pesquisa que entrelaça arte e ciência sobre o sentimento de pertença e os testes de ADN. No México, a equipe documentou encontros com pessoas que, através de testes de ADN, redefinem as suas histórias de vida, tocando em temas de ancestralidade, geopolítica, cultura e identidade.
“Belonging” propõe-se a ser mais do que um espetáculo: é um convite à reflexão sobre a quem, onde ou a quê pertencemos. Com histórias que vão desde a pertença a memórias visuais, lugares, pessoas ou até sentimentos transcendentes como o amor ou o próprio ser, cada narrativa partilhada é um convite à introspeção sobre as diversas formas de pertença que nos definem.
Após a sua estreia no Porto, “Belonging” seguirá em digressão por várias cidades portuguesas, incluindo Setúbal, Coimbra, Lisboa, Tomar, Alcanena e Loulé.
