Há cerca de um ano e meio, o mundo emergiu num entretempo suspenso da nossa timeline de vida, apoderado pelo medo, insegurança e perspetivas de um futuro incerto. Para a maioria, durante meses, as paredes de nossas casas foram o centro do conforto da proteção contra um vírus potencialmente mortal e o desconforto de uma vida vazia de contacto humano, longe das distrações mundanas a que estamos habituados. Valeu-nos a Internet para nos aproximarmos uns dos outros e os artistas e entertainers, que através das redes sociais, ajudaram a aligeirar o enclausuramento.
Para o norte-americano Hameed, também conhecido como Meedy, fundador do projeto GLDN GRID, ligado à produção de eventos e consultoria criativa no universo da música eletrónica, a possibilidade de naquela altura viajar para a Europa acabou por tornar-se numa espécie de escapatória temporária à realidade – apesar do confinamento – e na oportunidade de criar um evento ímpar.
Depois de vários anos de experiência na realização de eventos, gestão de artistas e produção musical, Hameed criou em parceria com a Audiomack (plataforma de streeming de áudio) uma série de vídeo e audio sets com vários DJs lusófonos, em diferentes rooftops, com a capital lisboeta como pano de fundo.
“Com a pandemia e a paragem de eventos, senti-me perdido, tal como muitos da indústria [artística]. Inicialmente, planeávamos gravar uma série de DJ sets nos Estados Unidos. A minha noiva estava a viver na Alemanha na altura e estava a preparar-me para a visitar. Assim que percebi que podia viajar sem restrições para a Europa, o cérebro explodiu com ideias e foi quando contactei o Boddhi Satva”, explica-nos o idealizador da série Lisboa.
DJ Satélite, Shaka Lion, Vanyfox, Boddhi Satva, DJEFF, DJ Nigga Fox, Studio Bros, Danifox e Pedro Da Linha são os protagonistas da iniciativa. Impulsionadores da música electrónica, sobretudo da de inspiração africana, os artistas atuaram no Chiado e no Village Underground. A gravação dos primeiros episódios no Chiado captou a atenção da plataforma Audiomack, que decidiu dar continuidade à série com uma segunda ronda, desta vez no peculiar espaço lisboeta dedicado à arte e cultura de rua.
“Esta experiência deu-me a oportunidade de trabalhar com artistas de quem já gostava como Danifox, Nigga Fox e os Studio Bros”, sublinhou o Norte-Americano fundador da GLDN GRIND.
A escolha dos nomes para o cartaz não poderia ter sido diferente porque Hameed “quis trabalhar com artistas de música eletrónica afrocentrada e descobrir novos sons”, explicou-nos. O Audiomack estava a bordo com a direção e liguei para o Boddhi, que começou a indicar outros artistas em Lisboa, o que me levou a cair ‘na toca’ de algumas das músicas mais especiais que já ouvi”, continuou o produtor do evento.
Com os vídeos e áudios disponíveis online e, considerando o positivo feedback do público, o próximo passo será dar vida a eventos físicos com estes mesmos artistas. “Estamos também a começar a trabalhar diretamente com mais coletivos e produtoras de música afrocentrada e eletrónica afrofuturista para prestar consultoria em áreas que precisam crescer”.
Desta primeira iniciativa, Hameed da GLDN GRIND sublinha a inesperada possibilidade de “produzir algo do género, em plena pandemia, e criar ligações com criadores tão apaixonados”. “Saí de Portugal mais inspirado, como há muito não me sentia”, finalizou.
Todos os sets estão disponíveis para visualização e audição no YouTube e as playlists estão no Spotify. Os links podem ser acedidos através desta linktree.