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‘Sou um criativo multidisciplinar’, Sérgio Afonso

fotografia, sergio afonso
Fotografia de Sergio afonso

O trabalho do Sérgio Afonso é viciante. Imagem por imagem, luz por luz e a vontade altera-se entre o continuar à procura de mais imagens impactantes e o desejo de ser retratado por aquela lente. Fotógrafo, fotojornalista e videógrafo. Qual destas descrições é que se encaixará melhor no olhar do artista angolano? O Marcas por Escrever conversou com uma das referências do audiovisual africano e foi compreender como é que Sérgio Afonso ajusta a sua ‘lente’ de acordo com aquilo que está a fotografar. 

É fotógrafo, fotojornalista e videógrafo. Qual destas lentes é que o caracteriza melhor? E porquê?

Sou formado em Fotografia de Moda e Publicidade e em Montagem de Cinema, mas acima de tudo sou um contador de estórias. Não é fácil dizer o que me poderá caracterizar melhor, mas a fotografia foi onde comecei e sempre regresso a ela. Acho cativante congelar um instante e guardá-lo para sempre. Tudo começou na adolescência quando fotografava os meus colegas na escola e vejo o resultado dos meus trabalhos publicados na REVUE NOIRE no livro Antologia da Fotografia Africana. Desde lá, já passei por vários episódios, desde a moda, a publicidade, tive uma fotografia na capa do Jornal o Público, fotografias numa matéria sobre os presos políticos angolanos no The Guardian e também fotografias na revista FOCUS alemã.

Que espaço é que o cinema ocupa na sua carreira?

O cinema veio depois, já trabalhava com fotografia publicitária há algum tempo, quando entrei no vídeo e me apaixonei por ele. Sempre gostei de documentário pois desde criança que os utilizei para ter conhecimento, e por ter alguma dificuldade em concentrar-me na leitura, facilmente me distraio, o que não me acontece quando estou a ver documentários e filmes. Gosto muito de contar estórias e de retratar vidas e o documentário dá-me essa liberdade

O seu trabalho sempre esteve muito relacionado com a Geração 80. O que representou ter criado o seu projecto da CPLP Audiovisual?

Concorrer com a Geração 80 ao programa CPLP AUDIOVISUAL e ter conseguido o financiamento para o meu primeiro documentário foi das melhores decisões que tomei na vida, e mais ainda quando o Do Outro Lado do Mundo venceu o Prize of the Flemish Commission For Unesco, de melhor documentário do AFRIKA FILME FESTIVAL na Bélgica, em 2016, foi, se calhar um dos pontos mais altos da minha carreira, e que mais orgulho sinto na minha vida. 

Na publicidade sempre procuro absorver o máximo das intenções de comunicação do cliente para que consiga dar resposta ao que ele pretende.

Sérgio Afonso

Como é que é o seu processo criativo?

Depende do que esteja a fazer. Na publicidade sempre procuro absorver o máximo das intenções de comunicação do cliente para que consiga dar resposta ao que ele pretende. Já na fotografia de retrato gosto sempre de conhecer o máximo do meu retratado, quanto mais souber sobre ele, mais fácil se torna construir uma imagem que identifique a pessoa. O mesmo acontece no documentário, faço sempre uma ou duas sessões de entrevistas e passo algum tempo a ouvir tudo o que foi dito pelas pessoas e depois começo a juntar as peças para a construção da narrativa. 

Existe também o Sérgio que cria imagens partindo de realidades e questões mundanas. Neste caso, muitas das vezes fotografo esses questões a partir da rua, mesmo, como foi no projecto EVASÕES, em São Vicente, no WANNABE, em Angola, no projecto ENTRE TRANSITOS E VIAGENS, em Lisboa, e no projecto TRACES OF SOCIALISM, na minha viagem pela Ásia e pelos países do antigo bloco comunista. Outra vertente que me encanta bastante é a indústria musical, e gosto de produzir conteúdos para artistas, desde as fotografias promocionais aos videoclips. Aí o processo criativo é intenso, principalmente quando se trata do vídeo. Vem um pouco da inspiração que busco nos documentários e os questionamentos mundanos.

E de que forma é que esse processo é alimentado ao longo do tempo?

Viajando dentro e fora do meu local, mas acima de tudo vivendo. Aprendendo com o que a vida me ensina, questionando-me todos os dias sobre questões que me preocupam ou me inspiram. Conversar com as pessoas por onde passo, desde os meus vizinhos a pessoas com que me cruzo no dia a dia, procuro sempre saber algo sobre elas, o que pensam da sociedade onde vivem, o que pensam da vida, da família, do seu país e do seu governo, o que pensam delas próprias.  

Num contexto de marketing e de publicidade é fácil o envolvimento com as marcas ou só aceita projectos com os quais tem alguma afinidade?

A publicidade é um caminho que me leva acima de tudo a um grande conhecimento técnico, pois é muito exigente tecnicamente. Normalmente não faço distinções com marcas. Marcas são marcas e querem vender o seu produto. Acima de tudo pagam bem para isso e, no final do dia, são elas que pagam as contas. Uma coisa que que nunca fiz foi campanhas políticas, porque prefiro não entrar por esse caminho, prefiro estar neutro nesse campo e ter as minhas opções políticas independentes do meu trabalho. Mas quanto às marcas comerciais, desde produtos alimentares, telecomunicações, banca, etc.. pego sem me questionar muito.

Qual é que é o maior desafio de fotografar uma campanha? Como o exemplo da campanha da Compal que era para mais do que um país. 

A campanha da Compal foi um desafio interessante. Fui contactado pela agência que trata da imagem da marca, pois queriam alguém que conhecesse bem o mercado angolano, acima de tudo, e que soubesse como recriar Angola aqui em Portugal, tanto nas locações, como nas comidas, nos modelos e guarda-roupa. Já não vou a Angola desde que começou o confinamento e foi como regressar a casa. 

Gosto bastante de fazer institucionais, pois é para mim o que mais se aproxima do documentário

Sérgio Afonso

Se pudesse escolher, qual seria a campanha de sonho?

Gostava de fazer campanhas que de alguma forma ajudassem as pessoas. Gosto bastante de fazer institucionais, pois é, para mim, o que mais se aproxima do documentário, então fazer algo para a UNICEF, ONU e qualquer instituição que ajuda e inspira as pessoas. Tive uma experiência quase, quase (e digo quase porque no final vendia um banco). Mas as campanhas que fiz para o Standard Bank foi quase isso, no final acabámos por ajudar três comunidades, no caso da campanha A VOZ DA EXPERIÊNCIA, que contava a vida de três sobas de Angola que ajudaram as suas comunidades a melhorarem, e na campanha HEROIS DE AZUL, que é um projecto de médicos voluntários que, com meios disponibilizados pelo Banco, ajudam as comunidades em Angola.

Hoje estou a tentar afastar-me um pouco da publicidade e dedicar-me mais às pessoas. O retrato e o documentário fazem parte do meu início e será o que quero levar para o fim da vida. Mas, como nunca digo que desta água não beberei, sempre acabo por fazer alguma publicidade. 

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