Pelas 16h deste sábado, na Livraria Almeida, em Lisboa, Nuna apresentou ao público o seu primeiro livro que já se encontra à venda nas livrarias físicas e digitais.
De acordo com a comunicação da editora, pela primeira vez em Portugal é lançado um livro infantil português, cuja autora é uma negra portuguesa, onde a personagem principal é também ela negra e portuguesa. Sendo um livro infantil, não poderíamos deixar de chamar a atenção para a força e para o impacto da ilustração da obra, cuja assinatura é de Lala Berekai que se mostrou bastante emocionada com a participação no livro.
“Estou muito contente por ter trabalhado nesta obra, diretamente com a autora, ao mesmo tempo em que a obra se ia desenvolvendo. É emocionante ver esta audiência tão completa e saber que as minhas ilustrações dão um sentido estético de pertença a tantas crianças”, disse-nos Lala.
A apresentação contou com casa cheia e com uma parte da audiência especial, as crianças. Desde os familiares mais chegados, aos amigos da autora como as companheiras/os do digital, marcaram presença durante o lançamento oficial da obra.
Nuna referiu que nunca leu muita bibliografia portuguesa porque não se sentia incluída. Não tinha tanto que ver com a questão de ser a personagem principal, a ativista refere que não se via incluída de todo. A Aventureira Marielle e o Dia da Fotografia colmata as referidas lacunas, assim como chama a atenção para as feridas invisíveis: “Quando somos pessoas racializadas, tendemos a dar atenção aos grandes acontecimentos e esquecemo-nos das micro-agressões que têm tanto ou mais impacto nas nossas vidas.”
Há um espelho bastante concreto sobre a realidade de ser negro em Portugal expresso no livro. Nuna, amplamente conhecida através das redes sociais, começa assim a inscrever o seu nome na lista de autores portugueses ativistas. A aposta num livro infantil representa desde logo a intenção pedagógica e educativa e a sua leitura não foi pensada exclusivamente para os mais novos. Os adultos são também convidados a imergir e a aprender com o história.
A transversalidade da sua criação marca o cunho da autora que sempre nos habituou a discursos eloquentes, incisivos e com contexto social e histórico. Este é o primeiro de outros livros sobre a aventureira Marielle, a personagem principal que vai crescer e trazer outros temas. “Este livro fala de aceitar os diferentes tipos de amar, dos gostos não específicos sejas rapaz ou rapariga, desde a forma de vestir aos interesses. Fala de pedagogia a partir da sala de aula mas que a transcende“, explicou a autora.
Nuna criou e representou-se como sempre se quis ver representada. “Não é preciso estarmos na política, nas embaixadas ou em cargos óbvios de decisões, para fazermos a diferença na nossa sociedade, no nosso bairro”, sublinhou.
Atriz, investigadora, ativista, revisionista e agora autora, Nuna disse também que este livro é fruto do empoderamento familiar de que sempre foi alvo. ““Eu cresci num seio familiar que sempre me empoderou muito. Desde os meus pais, aos meus tios e primos, todos, sempre me disseram: tu és linda, tu és linda, tu és linda. E tão inteligente. O teu cabelo é tão lindo. E muitas vezes, as nossas casa são seguras, o problema é quando saímos delas. Quando tens um mundo inteiro (o meu mundo eram os livros, eram as séries e eu não me via neles) a dizer-te o contrário, é difícil.”
Questionada sobre se considera a obra, até agora, o seu maior contributo para a luta anti-racista em Portugal, Nuna confirma que sim. “Acho que tem sido uma caminhada. É difícil para mim pôr a Marielle como uma coisa só, acho tudo se interliga e que até agora, esta é a melhor forma que encontrei com mais sucesso de expressar o meu desejo de vivermos num mundo com mais amor. É a maior concretização destes passos que eu tento dar reensinando-me a mim e estando com os outros a caminho de cada ensino mútuo. Isto não são só florzinhas, claro que não, mas acho que este foi o passo mais sólido que dei até agora.