Não foi por acaso que Pikas intitulou o seu primeiro projecto de 9. O EP é um marco pessoal, adornado de simbolismo.
Além de ter o número nove tatuado na pele, este é também o seu número da sorte e o que tem uma presença constante na sua vida, sobretudo nos momentos de celebração, como a data do seu aniversário e o da irmã.
Apesar da demora, 9 foi lançado exatamente como Pikas queria, com as músicas que queria e nos moldes que já imaginara há algum tempo. Na tracklist, há músicas gravadas em 2019 que só agora faria sentido serem publicadas e neste EP. Tudo aconteceu de uma forma muito genuína e natural, os temas escolhidos fazem parte de todo um apanhado do percurso do artista. Desde o início da sua caminhada sozinho até aos dias de hoje, onde se sente mais capaz de fazer a música que o agrada, sem qualquer tipo de pressão.
Muitas vezes, para que as coisas funcionem e tenham um resultado positivo, é necessário um ciclo de pessoas que possam e saibam apoiar, motivar e criticar de forma construtiva. E é nesse meio que Pikas fez questão de se inserir, com amigos que não poupam palavras para avaliar o seu trabalho e dar opiniões e perspectivas de melhoria.
Há músicas no EP que são os sentimentos de Pikas cantados, baseados na sua realidade, em perdas, dores e sofrimentos. É um momento íntimo de partilha. ”Acordar Os Sobas (AOS)”, a quarta faixa, é o perfeito exemplo disso.
”Quando estou a cantar o ‘AOS’ fico todo arrepiado e a voz não sai. ‘AOS’ nasceu de uma noite em que estávamos no estúdio, eu e o Milly, director artístico da track, (…) às quatro/cinco da manhã, pusemos o beat e o Milly disse ’esse beat é para acordar os sobas’. Quando ele disse esse mambo, esse foi o ‘foi’. Ele meteu as primeiras palavras do refrão, eu meti o wawé, ele começou a chorar e eu disse ’é esse mambo’. É um som que me faz lembrar muito o meu avô, é um som que sinto que fiz para acordar o meu soba que está lá em baixo”, confessou-nos.
Soba é uma derivação da palavra sowa, em kimbundu, e que significa chefe do povo; aquele que por superioridade política ou económica exerce domínio sobre determinada população, ou apenas o membro masculino mais velho da família, como um avô ou pai.
Com nove faixas, cada uma tem o seu significado e o seu processo criativo e levaram o tempo necessário para serem feitas. Umas mais longas que outras e que são reflexo da vida de Pikas, das suas experiências e vivências. É um EP “puro”, nas palavras do próprio.
9 é um projeto eclético, com vários géneros musicais dentro do próprio rap, que serve o objetivo de “brindar a todos com uma gastronomia rija e para me conhecerem mais”.
“O meu objectivo sempre foi esse. Quando tiver que fazer um álbum ou um EP com mais faixas, é ser sempre versátil, porque consigo sempre mostrar todos os meus lados”, explicou-nos.
Descobre mais sobre este trabalho de Pikas, através da entrevista vídeo disponível no player acima ou diretamente no YouTube.
Wilds Gomes
Sou um tipo fora do vulgar, tal e qual o meu nome. Vivo num caos organizado entre o Ethos, Pathos e Logos – coisas que aprendi no curso de Comunicação e Jornalismo.
Do Calulu de São Tomé a Cachupa de Cabo-Verde, tenho as raízes lusófonas bem vincadas. Sou tudo e um pouco, e de tudo escrevo, afinal tudo é possível quando se escreve.